Mais de 400 católicos do Porto criticam bispo e pedem decisões
Jorge Gabriel e chef Hélio Loureiro entre os subscritores de uma carta que pede apoio da Igreja às vítimas e critica "falta de sentido de urgência e de clareza" de D. Manuel Linda, que lhes pediu que identifiquem as vítimas dos abusos
Cerca de 440 católicos do Porto divulgaram esta sexta-feira uma carta aberta ao bispo local, criticando a "falta de sentido de urgência e de clareza" de D. Manuel Linda.
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"Não podemos calar a nossa dor e comunhão com o sofrimento das vítimas dos abusos sexuais. E não podemos calar, também, o desconforto pelos sinais que não confirmam a sintonia, nem com a urgência, nem com o consolo da clareza", indicam os subscritores da carta, entre os quais o apresentador Jorge Gabriel e pelo chef Hélio Loureiro, que criticam ainda as "não decisões" do bispo do Porto.
Estes católicos dizem-se "preocupados e vigilantes, na ânsia de orientações e decisões do Bispo" após a divulgação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa.
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"Preocupam-nos, acima de tudo, as vítimas de abusos - as crianças e demais frágeis: o seu passado doloroso, o respeito pela sua dor presente e o acolhimento que lhes é devido. E queremos que saibam que existe uma Igreja disponível e preocupada com sua dor - e está aqui", afirmam os subscritores.
"Na semana passada, ficámos a saber que o nosso Bispo optou por remeter ao Vaticano e ao Ministério Público quatro processos a respeito de outros sacerdotes, sem tomar qualquer decisão cautelar no plano pastoral (seja em que sentido for) e sem partilha de qualquer fundamentação. Interpretamos este momento em absoluta urgência e, sobretudo, como um grito de clareza e transparência dirigido ao nosso Bispo", frisam os católicos.
Numa resposta publicada no portal da Diocese do Porto, D. Manuel Linda agradece a "boa vontade" do grupo de leigos que divulgou a carta aberta e pediu aos subscritores para que identifiquem as vítimas dos abusos, caso as conheçam.
"Há que esclarecer que a lista apresentada pela Comissão Independente apenas traz o nome do eventual abusador e não o da vítima: esta confiou-lhe o seu testemunho precisamente por saber que ficava a coberto do mais rigoroso anonimato. Por isso, o bispo não sabe o nome das vítimas. Daí a investigação a que procedeu e continua a realizar. Mas se os subscritores conhecem as vítimas, em consciência devem indicá-las ao bispo", indica o bispo.
"As preocupações apresentadas na Carta também são as mesmas do Bispo do Porto: prioridade às vítimas, acompanhá-las e erradicar este dramático fenómeno da vida da Igreja, a par da certeza de que nenhum abusador tem ou terá lugar no seio do clero", garante D. Manuel Linda, que diz ter remetido ao Ministério Público e ao Vaticano a lista de todos os abusadores ainda vivos.