Desde 2017 que Portugal tem um programa de distribuição gratuita de bombas de insulina para doentes com diabetes tipo 1. Nesta altura, a prioridade foi dada aos doentes em idade pediátrica, embora alguns doentes adultos tivessem sido contemplados logo no primeiro ano. Para responder às necessidade imediatas, nesse primeiro ano foram distribuídas 130 bombas, no segundo mais de 30, criando-se novo contingente prioritário - mulheres com diabetes tipo 1 grávidas ou que quisessem engravidar. Só depois se alargou a distribuição a todos os diabéticos tipo 1 em idade adulta..Foram precisos três anos para dar resposta às necessidades dos doentes. Só que neste entretanto, surgiram no mercado bombas de insulina mais inovadoras tecnologicamente, chamadas bombas inteligentes, ou híbridas, capazes de medir automaticamente os níveis de glicemia do doente e de adaptar a insulina à dose que este necessita. .O presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, João Raposo, diz ao DN que se há coisa que já está demonstrada “é a melhoria da qualidade de vida que estas bombas vieram trazer aos doentes”. E isto porque se tratam de aparelhos que, no fundo, são uma espécie de dispositivo com sensores, colocados no doente e que estão em permanente comunicação com as suas necessidades e com a bomba, que pode ser carregada com insulina capaz de dar resposta até três dias..Ou seja, destaca o médico, “são os sensores colocados no doente que vão medindo automaticamente os níveis de glicemia da pessoa e que adaptam também automaticamente a dose de insulina que necessita. Isto introduziu uma liberdade imensa na vida dos doentes com diabetes tipo 1..Os doentes que já utilizam este sistema reconhecem que foi das melhores coisas que lhes aconteceu”. Só que em Portugal, os doentes que já tiveram acesso às bombas inteligentes são aqueles que têm capacidade para as adquirir e de as colocar num centro privado (cada uma custa cerca de cinco mil euros). Para os doentes tratados no Serviço Nacional de Saúde (SNS) também está pensado um programa de distribuição gratuita de bombas de insulina inteligentes. Serão cerca de 15 mil a ter direito a estas, mas ainda não as receberam. .João Raposo recorda que a discussão para a distribuição destas bombas “se iniciou em 2022 e com o objetivo de as começar a distribuir em 2023, continuar em 2024 e até ao final de 2025 todos os doentes tinham uma bomba destas”. O ano de 2023 passou e nada. O médico diz que a última informação que teve é que “o concurso internacional para aquisição foi lançado esta semana”, o que quer dizer que, na melhor das hipóteses, “só a partir do segundo semestre é que as bombas poderão começar a ser colocadas nos doentes”. .O objetivo inicial, sublinha ainda, “era que, a partir de 2025, o tratamento estivesse normalizado e cada novo doente diagnosticado com diabetes tipo 1 pudesse começar a usar este tipo de bomba, e isso não irá acontecer. Nessa altura, provavelmente, nem todos os doentes já diagnosticados terão tido o acesso ao tratamento”..Mas não é só. João Raposo comenta que assim “corremos o risco de, e à velocidade que a inovação tecnológica evolui, chegar ao fim da distribuição destas bombas e de já haver outras melhores no mercado”..O presidente da SPD considera que parte desta situação se deve ao processo burocrático e moroso que é necessário para a aquisição das bombas. Ao DN, recorda que, em 2022, a tutela criou um grupo de trabalho para tratar do processo de aquisição e de utilização destas bombas, que propôs que a aquisição fosse por prescrição, tal como acontece com outros dispositivo para doenças crónicas, mas este caminho não foi opção. .E, agora, “estamos dependentes de um concurso que tem de ser definido pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, que depois tem de ir à Direção-Geral da Saúde, à Administração Central do Sistema de Saúde e ainda ao Ministério da Saúde para a decisão política. É um concurso que tem de passar por quatro organismos da tutela, o que o torna um processo complexo e de grande morosidade, quando, hoje em dia, tal já não é compatível com a evolução tecnológica nem com as necessidades clínicas dos doentes”..João Raposo reforça as vantagens das bombas de insulina inteligentes. “Melhoram a qualidade de vida do doente, diminuem o número de episódios de hipoglicemia durante o dia e também durante a noite permitindo ao doente fazer outra adaptação da doença à sua vida. Além do mais são bombas que são colocadas e que têm validade para um intervalo de quatro a seis anos”..O anúncio do programa de distribuição gratuita destas bombas inteligentes a cerca de 15 mil doentes foi feito pelo próprio ministro Manuel Pizarro, que disse que as mesmas começariam a ser distribuídas em 2023. Mas, ontem, afirmou à Agência Lusa estar “a desenvolver os processos necessários para assegurar a generalização das bombas perfusoras de insulina”..O argumento usado foi que “até há poucos meses havia apenas um fornecedor em Portugal”, estando agora a ser feitos “contactos com outros produtores de dispositivos médicos equivalentes, com atividade em outros países da União Europeia, para “a obtenção de condições de segurança para os doentes e para o SNS e salvaguarda do interesse público”..Na mesma resposta a tutela acrescenta ainda que “o programa decorrerá no prazo previsto, ou seja, será aplicado até 2026”.