10% dos portugueses não pode ter uma semana de férias fora de casa
Um país onde o risco de pobreza não diminui e que tem mais de 10% da população que não consegue pagar uma semana de férias fora de casa ou substituir móveis usados.
Estes são dois dos alertas deixados pelo relatório "Portugal, Balanço Social 2022", apresentado na manhã desta terça-feira (16 de maio) no BPI All in One Lisboa, documento onde são analisados indicadores que mostram a situação social no país partindo dos dados económicos analisados pelos investigadores da Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, Bruno P. Carvalho, Miguel Fonseca e Susana Peralta.
Este trabalho (essencialmente baseado em dados referentes ao ano de 2020, incluindo no entanto alguns itens sobre 2021) inclui ainda um estudo sobre o impacto da pandemia de covid-19 e do aumento do custo de vida.
A terceira edição da iniciativa para a Equidade Social -- um trabalho que junta a Fundação "la Caixa" e a Nova SBE -- mostra que a taxa de risco de pobreza em Portugal aumentou em 2020 para 18,4% (1,6% mais alta que em 2019 e acima da média da União Europeia). Porém, o documento frisa que em 2021, segundo "dados preliminares disponibilizados pelo INE com base no ICOR 2022, mostram uma diminuição da pobreza em 2021".
Quanto aos estratos da população mais afetados por esta incidência da pobreza -- país tinha em 2020, tinha 1,893 milhões de pobres -- atinge mais "os desempregados, famílias monoparentais e indivíduos menos escolarizados".
Um alerta importante deixado pelo trabalho é a dificuldade que uma parte da população portuguesa sente para gerir os seus rendimentos
Por exemplo, em 2021, "a taxa de privação material e social é de 13,5% (mais 0,8% do que em 2020". Isto quer dizer que estas pessoas não conseguem gozar uma semana de férias fora de casa e não têm dinheiro para fazer face a despesas inesperadas.
No documento chama-se a atenção para o facto de a distribuição de rendimentos no país ter aumentado entre 2019 e 2020. Neste particular, a Madeira era, em 2020, a região com maior taxa de risco de pobreza e taxa de privação social e material. Já a região centro era a mais desigual.
O trabalho dos três investigadores da NOVA SBE mostra que Portugal tinha, em 2020, 345 mil crianças pobres, ou seja, 29,4% do total de crianças do país. É destacado que esse número tinha vindo a descer, mas que em 2020 era 1,3% mais elevado que em 2019.
Duas das consequências desta situação social é que o seu acesso à educação pré-escolar é menor quando comparado com as restantes crianças do país. Sofrem também de uma maior insegurança alimentar.
Em relação ao acesso à educação destaca-se, por exemplo, que em 2020 durante a pandemia de covid-19, uma em cada 10 crianças pobres entre os 5 e os 15 anos não conseguiu assistir às aulas online, ou seja o dobro da média - uma criança em cada 20.
Em relação aos trabalhadores, apenas 32% conseguiu trabalhar a partir de casa nesse período. Uma percentagem que baixa para 15% entre os mais pobres, principalmente devido à incompatibilidade da sua função com o trabalho remoto.
Este retrato lança um outro alerta procupante: em 2021, em 20,6% dos agregados familiares pobres houve a preocupação de não conseguir ter comida suficiente. Muitos não conseguiram colocar na mesa, em dias interpolados, proteína animal ou vegetal.