O filho de A.S. não quis ajuda psicológica, mas deixou de conseguir dormir sozinho. Pede à mãe que apague a televisão, assiste à solicitação permanente do telemóvel da progenitora. “Desliga isso”, pede. M. tem 10 anos, é aluno do 6º ano da Escola Básica 123 de Azambuja, conhece D., a criança de 12 que há três dias esfaqueou seis colegas entre os 11 e os 14 anos, deixando um deles - uma menina -, em estado grave..“Estamos muito cansados”, diz A.S. “Infelizmente, aconteceu o que aconteceu, mas temos de seguir em frente. Tenho falado com outras mães e o sentimento é o mesmo: agora, deixem os nossos filhos levantarem-se do chão.”.A.S. tão pouco se define uma mãe “demasiado protetora”. Foi uma das encarregadas de educação que optaram por não acompanhar o filho à escola no dia seguinte à tragédia. “Se ele precisar de um abraço, estou cá, vou estar cá sempre, tenha ele a idade que tiver, mas não posso pôr o meu filho numa redoma.”.Talvez por isso mesmo, lança o apelo, em nome de outras mães: “Chega, deixem-nos em paz.” Para que corra bem, “temos de entrar o mais depressa possível na normalidade.”.Já basta, acrescenta, “estarmos numa comunidade pequena onde o boato, a maldade e a maledicência grassam rapidamente”. Incluindo, naturalmente, boatos sobre a família de D. “Somos todas mães, a família do menino continua a viver aqui. Se é mau para as famílias das vítimas, também é muito penalizador para a família do agressor.” E concluiu: “Façam os nossos filhos o que fizerem, são sempre os nossos meninos.”.“Trata-se de uma situação muito pesada”, diz Maria João Leote de Carvalho. Para a socióloga, investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, a comunidade e as famílias estão a ter uma dupla vitimização. “É lamentável e acontece permanentemente - às famílias das vítimas diretas, à família do agressor, às famílias das outras crianças da comunidade.”.No caso da Azambuja , a socióloga elogia a direção a escola - “fez muito bem em abrir as portas logo no dia seguinte” - e “as palavras “tranquilizadoras” do presidente da câmara, são “demonstrativas da importância que o poder autárquico pode ter nestes momentos”..De acordo com dados da autarquia, ao terceiro dia, o número de crianças que não compareceram às aulas baixou de 130 para 34, num universo de 450..O que se sabe e uma pergunta.D. está num centro educativo, medida cautelar determinada pelo Tribunal de Família e Menores de Vila Franca de Xira, depois de ter sido sujeito a uma avaliação psicológica no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa..Continuando a pairar muitas dúvidas sobre o contexto que a levou a um ato extremo de violência, sabe-se que a criança usou um colete protetor e uma faca (que pertencerão ao pai, ex-segurança de uma empresa privada); que é fixado em jogos de computador; e que pesquisaria em “sites nazis” - resta saber em que sites e com que frequência, por exemplo. Mais: num equipamento a que só ele teria acesso?.Descrito por uma professora “como uma criança igual às outras”, desconhece-se qual terá sido o gatilho que o levou a agredir os seis colegas. De acordo com o relato de um dos amigos, “à hora de almoço” D. terá tido uma discussão com a mãe. Descartada parece estar a possibilidade de estarmos perante uma vítima de bullying. “Tomando em conta o bullying, D. seria mais agressor do que vítima”, apurou o DN junto de fonte do processo..“De facto, falta esclarecer o que levou a criança a praticar a agressão. Terá sido alguma questão que transitou do ano anterior?” pergunta Maria João Leote de Carvalho. A socióloga, especialista na área da delinquência juvenil, lança uma nova pista: “Estranho ter sido pouco referido o incidente da véspera, ocorrido, curiosamente, no primeiro dia de aulas. O assalto à escola, visando computadores e câmaras de vigilância, será coincidência? É que muitas vezes estas crianças são pressionadas para cometerem atos de violência.”.Medida mais gravosa excluída.Quando estão em causa factos qualificados como crime e praticados por menores entre os 12 e os 16 anos, a lei portuguesa prevê a abertura de um inquérito tutelar educativo. Tratando-se de uma criança com menos de 16 anos, apenas poderão aplicar-se as medidas tutelares educativas menos gravosas (excluído fica, portanto, o internamento em Centro Educativo em regime fechado)..Porém, ao regime semiaberto ou aberto não corresponde liberdade de movimentos. “Não significa que possam sair ou entrar quando quiserem”, diz Maria João Leote de Carvalho. Os telemóveis são expressamente proibidos, por exemplo, e há também fortes restrições ao acesso à internet.
O filho de A.S. não quis ajuda psicológica, mas deixou de conseguir dormir sozinho. Pede à mãe que apague a televisão, assiste à solicitação permanente do telemóvel da progenitora. “Desliga isso”, pede. M. tem 10 anos, é aluno do 6º ano da Escola Básica 123 de Azambuja, conhece D., a criança de 12 que há três dias esfaqueou seis colegas entre os 11 e os 14 anos, deixando um deles - uma menina -, em estado grave..“Estamos muito cansados”, diz A.S. “Infelizmente, aconteceu o que aconteceu, mas temos de seguir em frente. Tenho falado com outras mães e o sentimento é o mesmo: agora, deixem os nossos filhos levantarem-se do chão.”.A.S. tão pouco se define uma mãe “demasiado protetora”. Foi uma das encarregadas de educação que optaram por não acompanhar o filho à escola no dia seguinte à tragédia. “Se ele precisar de um abraço, estou cá, vou estar cá sempre, tenha ele a idade que tiver, mas não posso pôr o meu filho numa redoma.”.Talvez por isso mesmo, lança o apelo, em nome de outras mães: “Chega, deixem-nos em paz.” Para que corra bem, “temos de entrar o mais depressa possível na normalidade.”.Já basta, acrescenta, “estarmos numa comunidade pequena onde o boato, a maldade e a maledicência grassam rapidamente”. Incluindo, naturalmente, boatos sobre a família de D. “Somos todas mães, a família do menino continua a viver aqui. Se é mau para as famílias das vítimas, também é muito penalizador para a família do agressor.” E concluiu: “Façam os nossos filhos o que fizerem, são sempre os nossos meninos.”.“Trata-se de uma situação muito pesada”, diz Maria João Leote de Carvalho. Para a socióloga, investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, a comunidade e as famílias estão a ter uma dupla vitimização. “É lamentável e acontece permanentemente - às famílias das vítimas diretas, à família do agressor, às famílias das outras crianças da comunidade.”.No caso da Azambuja , a socióloga elogia a direção a escola - “fez muito bem em abrir as portas logo no dia seguinte” - e “as palavras “tranquilizadoras” do presidente da câmara, são “demonstrativas da importância que o poder autárquico pode ter nestes momentos”..De acordo com dados da autarquia, ao terceiro dia, o número de crianças que não compareceram às aulas baixou de 130 para 34, num universo de 450..O que se sabe e uma pergunta.D. está num centro educativo, medida cautelar determinada pelo Tribunal de Família e Menores de Vila Franca de Xira, depois de ter sido sujeito a uma avaliação psicológica no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa..Continuando a pairar muitas dúvidas sobre o contexto que a levou a um ato extremo de violência, sabe-se que a criança usou um colete protetor e uma faca (que pertencerão ao pai, ex-segurança de uma empresa privada); que é fixado em jogos de computador; e que pesquisaria em “sites nazis” - resta saber em que sites e com que frequência, por exemplo. Mais: num equipamento a que só ele teria acesso?.Descrito por uma professora “como uma criança igual às outras”, desconhece-se qual terá sido o gatilho que o levou a agredir os seis colegas. De acordo com o relato de um dos amigos, “à hora de almoço” D. terá tido uma discussão com a mãe. Descartada parece estar a possibilidade de estarmos perante uma vítima de bullying. “Tomando em conta o bullying, D. seria mais agressor do que vítima”, apurou o DN junto de fonte do processo..“De facto, falta esclarecer o que levou a criança a praticar a agressão. Terá sido alguma questão que transitou do ano anterior?” pergunta Maria João Leote de Carvalho. A socióloga, especialista na área da delinquência juvenil, lança uma nova pista: “Estranho ter sido pouco referido o incidente da véspera, ocorrido, curiosamente, no primeiro dia de aulas. O assalto à escola, visando computadores e câmaras de vigilância, será coincidência? É que muitas vezes estas crianças são pressionadas para cometerem atos de violência.”.Medida mais gravosa excluída.Quando estão em causa factos qualificados como crime e praticados por menores entre os 12 e os 16 anos, a lei portuguesa prevê a abertura de um inquérito tutelar educativo. Tratando-se de uma criança com menos de 16 anos, apenas poderão aplicar-se as medidas tutelares educativas menos gravosas (excluído fica, portanto, o internamento em Centro Educativo em regime fechado)..Porém, ao regime semiaberto ou aberto não corresponde liberdade de movimentos. “Não significa que possam sair ou entrar quando quiserem”, diz Maria João Leote de Carvalho. Os telemóveis são expressamente proibidos, por exemplo, e há também fortes restrições ao acesso à internet.