O ano letivo que começou há pouco mais de um mês conta com um maior número de camas para estudantes em Lisboa. No entanto, o que pode à primeira vista parecer uma boa notícia, é na verdade apenas uma melhoria face a anos anteriores, mas representa ainda um número baixo face às necessidades reais. .A nível nacional, e de acordo com os dados do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), lançado em 2018 com o objetivo de dar uma resposta integrada e de longo prazo às necessidades de alojamento acessível para os estudantes do Ensino Superior em todo o território nacional, apesar das melhorias, a oferta atual cobre apenas 32% das necessidades. Isto significa que serão precisas, pelo menos, mais 75 mil camas de norte a sul do país..O PNAES previa o reforço da oferta com mais de 18 mil camas a preços regulados até 2026 em todo o país, num investimento global de 445,7 milhões de euros, mas o projeto continua com quase tudo por concretizar. .Feitas as contas, em Lisboa, que concentra cerca de 40% dos alunos deslocados, como afirmou recentemente o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, serão necessárias aproximadamente 30 mil novas camas, entre oferta pública e privada, para dar resposta à procura. Um número ainda longe do atual, apesar da aposta do município que assume o tema como prioritário. Aliás, Lisboa é uma das capitais europeias com menor número de camas por estudante, com um rácio na ordem dos 2,7%, de acordo com dados da CBRE, empresa de gestão imobiliária..Segundo a mesma fonte, o dito rácio é de 26%, 14% e 5,1% em Londres, Paris e Madrid, respetivamente..Oferta a crescer, mas aos poucos.Segundo a Câmara de Lisboa, desde 2022, foram aprovadas 20 residências de estudantes com capacidade de 3623 camas. Estão ainda em apreciação outros 24 projetos de residências de estudantes com um total aproximado de 5980 camas, promovidos quer por entidades públicas, quer por privadas, num total global de 9603 novas camas. .Mas, apesar dos projetos em curso, a materialização da oferta de residências universitárias de iniciativa municipal não acompanha o ritmo que a necessidade por parte dos estudantes desejaria. Ainda assim, em abril deste ano foi inaugurada uma residência para estudantes, com 320 camas, em dois edifícios municipais reabilitados e adaptados para o efeito na Av. Manuel da Maia e Alameda D. Afonso Henriques, cuja gestão foi entregue à Universidade de Lisboa..A obra, que representa um investimento de 17 milhões de euros (M€), dos quais 10 milhões foram garantidos pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), foi financiada através de um contrato com a Agência Nacional Erasmus+. Às 320 camas da Alameda somam-se mais 120 da Residência Universitária do Calhariz de Benfica, inaugurada no final do mês de setembro. A construção deste equipamento, que contou com um investimento superior a 4M€, situa-se num terreno cedido pela CML à Junta de Freguesia de Benfica..Em resposta ao DN, o Departamento de Marca e de Comunicação do município lisboeta confirmou ainda a aprovação de dois pedidos de informação prévia, de iniciativa municipal, para desenvolvimento de projetos de residências de estudantes em dois terrenos propriedade da edilidade, situados na Freguesia de Marvila. “Em conjunto, os dois projetos preveem um total de 624 novas camas para estudantes”, assegura o município..Questionada sobre outros projetos com conclusão prevista até 2025, a CML revela ao DN que está a decorrer o loteamento para um conjunto de três residências de estudantes na Freguesia da Ajuda, com capacidade total para cerca de 467 camas..Além do aumento da oferta de camas para estudantes deslocados com a construção de novas residências, o Executivo tem em marcha uma parceria com a Universidade Nova de Lisboa “para aumentar a oferta de alojamento privado a preços acessíveis através de uma plataforma pela qual os estudantes podem encontrar famílias de acolhimento ou alojamentos/quartos disponíveis, com apoio da autarquia”..Outra parceria, desta feita entre a Gebalis, empresa que faz a gestão da habitação púbica em Lisboa, e a MEO prevê a coabitação intergeracional envolvendo estudantes universitários e residentes em habitações municipais com mais de 65 anos. O objetivo passa por colmatar a falta de alojamento estudantil e, em paralelo, combater situações de solidão da população mais idosa.