Linha SNS Grávida referenciou 35 mil mulheres em três meses. 25 mil foram para as urgências
“O plano traçado cumpriu os objetivos. Aliás, posso dizer-lhe que ultrapassou as expectativas ao referenciar tantas mulheres para os cuidados adequados, retirando das urgências de Bloco de Partos os casos que não eram urgentes. Tivemos mulheres a serem encaminhadas para consultas nos cuidados primários e já estamos a encaminhar também para consultas abertas nos hospitais”. O balanço é feito por Alberto Caldas Afonso, coordenador da Comissão que assumiu o Plano de Reorganização das Urgências de Obstetrícia-Ginecologia e Pediatria, ao fim de três meses de este ter entrado em vigor (16 dezembro a 31 de março).
E, mesmo com serviços a fechar sistematicamente ao fins-de-semana, na região de Lisboa e Vale do Tejo, Caldas Afonso mostra-se satisfeito com os resultados, dizendo que é preciso “valorizar o que todos os outros serviços que não fecham têm feito, mesmo com poucos recursos”. No entanto, reconhece que não tem sido fácil colocar o modelo em prática na região que mais sofre com a “escassez de profissionais, nomeadamente na Península de Setúbal, que precisa de uma intervenção profunda”.
No Dia Mundial da Saúde, que hoje se assinala e que a OMS dedicou à Saúde Materno-Infantil, o médico diz que o modelo aplicado em 14 Unidades Locais de Saúde das regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Leiria, Gaia/Espinho e Santo António, do ponto de vista “técnico deve seguir o seu caminho, porque não faz sentido que não seja alargado a outras regiões", alertando: “Sobre pena de não termos mais saídas de médicos obstetras e de pediatras do SNS é preciso fazer-se mais, e rapidamente”.
O médico destaca que “a comissão, onde todos os elementos estiveram a trabalhar pro bono, embora seja a nossa função porque somos todos profissionais do SNS, fez o seu trabalho, traçou o diagnóstico e apresentou soluções - definimos algoritmos, demos formação aos profissionais das linhas para interpretarem esses algoritmos e o que vemos é que esse trabalho tem sido bem conseguido”.
Mais. “O Ministério da Saúde recebeu uma proposta nossa de remuneração para as equipas nesta área de forma a que seja possível fixar estes profissionais no SNS. Agora, cabe ao poder político, quem vier a seguir, de a aceitar ou não”, afirma.
Nestes três meses, e de acordo com os dados recolhidos pela comissão, a Linha SNS Grávida referenciou 35 069, das quais 25 853 para serviços de urgência. Destas, 18 932 eram, de facto, casos urgentes, sendo que 1298 foram levadas pelo INEM, 6921 não. Mas, do total de 35 mil, 2588 foram referenciadas para consultas agendada em cuidados de saúde primários e 3750 também para os cuidados primários, mas sem consulta agendada, e 1196 acabaram por ficar em casa em auto-cuidados. Houve ainda 384 que acabaram por ser referenciadas para consultas abertas em hospitais, um serviço que Caldas Afonso explica que começou a funcionar mais tarde, mas que “já está a dar reposta”.
Caldas Afonso faz questão de sublinhar que “atingimos o valor que tínhamos identificado como sendo o necessário para se retirar das urgências dos blocos de partos, que era de 20% a 23%. E isso foi conseguido, mesmo assim, houve mulheres que acabaram por ser referenciadas para consultas nos cuidados primários e que não compareceram, o que quer dizer que eram situações sem gravidade que se resolveram”.
O balanço em relação à saúde da mulher vai ser feito numa sessão dedicada ao Dia Mundial da Saúde no Infarmed, onde Caldas Afonso fará também um balanço da urgência pediátrica, e sobre esta diz o mesmo: “Alcançámos o mesmo objetivo, retirámos cerca de 20% a 23% de casos das urgências, que não eram, de facto, urgentes”.
Segundo o médico, estes resultados têm a ver com a referenciação pela linha SNS Criança e com os dois Centros de Atendimento Clínico para esta área, a funcionar em Lisboa e no Porto.