Sismo como o de Marrocos será "devastador" em Portugal
Qual o impacto que um sismo como o de Marrocos poderia ter em Portugal?
Numa palavra, devastador. Lisboa tem uma sismicidade muito violenta e nem todas as construções estão preparadas, como em Marraquexe. Houve prédios a cair ao lado de prédios que quase não foram afetados. Lisboa é mais ou menos parecida com isso. Há por exemplo edifícios em Lisboa que caem com um sismo, como o Hospital de S. José ou o Hospital de Curry Cabral, que são infraestruturas importantes para acudir depois de um sismo e vão ficar inutilizadas. Na Segunda Circular, em Lisboa, grande parte dos viadutos vão ficar inoperacionais. Há um que vai ficar a funcionar que é o viaduto do Fonte Nova (Estrada de Benfica) que foi reforçado ao sismo há uns anos.
Em geral as construções, e é difícil de afirmar isto com certeza, com mais de 70 anos são muito sensíveis ao sismo. Mais ou menos na segunda metade do século XX as exigências foram aumentando e foram sendo sedimentadas.
O que se deve fazer para evitar que os edifícios colapsem na eventualidade de um sismo? Que tipo de trabalho deve ser feito?
Existem várias técnicas que são utilizadas: ou aumentar a resistência ou isolar o edifício do sismo. Por exemplo, o Viaduto do Fonte Nova, há cinco anos, se houvesse um sismo, colapsava. O que nós fizemos foi cortar os pilares e pôr uns aparelhos de apoio, umas borrachas com chumbo, que isolam o viaduto do solo. O sismo é um deslocamento do solo que depois, em função da massa dos edifícios, se transforma numa força. O Hospital da Luz, por exemplo, tem o mesmo isolamento de base. Se houver um sismo muito violento, o Hospital da Luz vai continuar a funcionar sem nenhuma interrupção e o Hospital Curry Cabral, por exemplo, colapsa.
Ouço especialistas a dizer que depois de um sismo temos 72 horas para atuar, mas quantas horas temos antes do sismo? Não sabemos quando é que vai haver um sismo, mas ainda temos tempo para fazer alguma coisa. Temos de pegar nas construções vitais, como os hospitais, os centros de decisão, as telecomunicações, as acessibilidades, e prepará-las para um sismo. Depois do sismo não há muito a fazer porque essas infraestruturas vão colapsar e deixar de ser úteis.
Temos de nos preparar como o fazemos para uma viagem. Um sismo será uma viagem para a qual nos temos de preparar e os governantes devem estar atentos a isso.
É caro reabilitar um edifício para que resista a sismos?
Não é muito caro se se fizer uma reabilitação como se tem feito em edifícios com alguma importância em Lisboa. Se for uma reabilitação profunda que envolva as instalações de água, eletricidade, esgotos, revestimentos, e tiver de se reforçar o edifício ao sismo gasta-se mais 10 ou 15% do investimento. O caro depende do benefício.
Depois do terramoto de 1755, Marquês de Pombal reconstruiu a cidade para resistir a sismos. É esta uma construção que resistirá a este tipo de fenómeno?
Muitas foram adulteradas. Na Baixa Pombalina abriram montras muito grandes e por isso essas construções pombalinas, hoje em dia estão muito adulteradas e enfraquecidas. Algumas resistirão, outras não.
Em que lugar colocaria Portugal, em relação a outros países da União Europeia, em termos de preparação para um eventual sismo?
A sismicidade é muito diversa na União Europeia. Os países do norte da Europa têm muito pouca ação sísmica e os do sul, Portugal, Itália e Espanha, por exemplo, têm uma ação muito mais violenta. Portugal estará similar a Espanha ou a Itália, e estes três países abaixo dos países do norte.
O problema é que nesta zona a sismicidade é muito intensa.
O que é que devem as pessoas fazer em caso de sismo?
Em caso de sismo é tentar sobreviver. Durante ou depois do sismo há muito pouco a fazer porque não sabemos onde vamos estar. Quando as pessoas compram uma casa, deviam ter consciência se ela, de facto, é resistente ao sismo. Os municípios, por exemplo, agora herdaram as pontes e deviam fazer o trabalho de saber se as pontes são seguras em caso de sismo para manter a acessibilidade. Se os hospitais ou as escolas são seguros. Alguns são, outro não são.
O importante é antes do próximo sismo -- devíamos estar a preparar-nos para ele. Há um ditado que diz: "Quem vai ao mar, avia-se em terra!" Acho que é o que devíamos fazer com os sismos.
sara.a.santos@dn.pt