Já morreram 114 pessoas em acidentes de trabalho

Um pedreiro e um servente foram ontem as últimas vítimas. Portugal tem registado mais de 100 casos por ano desde 2014
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Em Portugal morreram 114 pessoas em acidentes de trabalho este ano, a maioria (100) nas instalações, segundo os registos da Autoridade para as Condições de Trabalho, com informação atualizada a 3 de novembro. Uma estatística que ainda não inclui os dois casos mortais de ontem: um pedreiro e um servente, com idades entre os 50 e os 60 anos, que morreram soterrados pelo desabamento de uma parede de três pisos do prédio número 41 da rua Alexandre Herculano, no centro de Lisboa.

Os homens trabalhavam numa obra de remodelação a cargo do Grupo Casais , sedeado em Braga. O alerta para o acidente foi dado ao meio-dia. No local , o inspetor geral do trabalho, Pedro Pimenta Braz, fez duras críticas à insegurança na construção civil e em outras áreas laborais. "É extremamente preocupante que, no meio da cidade de Lisboa, capital de um país da União Europeia, morram duas pessoas a trabalhar. É horrível. Duas pessoas que tinham iniciado a sua semana de trabalho e que desapareceram num estaleiro de construção". O primeiro corpo foi localizado ao início da tarde, através dos cães pisteiros do Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa. O segundo corpo só foiencontrado a meio da tarde.

Asvárias obras que decorrem em Lisboa - cidade que tinha mais de 130 edifícios em reabilitação no final do primeiro semestre - também alarmam Pedro Pimenta Braz. "Tira-nos noites de sono. A partir do momento que se intensifica a atividade na construção civil acontece isto. Está nas mãos de todos nós, a ACT, as empresas, os donos de obra, fazerem os trabalhos com civilização e dignidade". O inspetor geral não resistiu a comparar Portugal com um país de população equivalente: "Somos dez milhões, com cinco milhões de população ativa, e tivémos 142 mortes no trabalho em 2015. A Suécia, com a mesma população, teve 35 mortos".

O setor da construção foi responsável por 34 das 114 mortes deste ano, logo seguido das industrias transformadoras, com 24 casos. Os distritos com mais mortos no trabalho foram, até à data, o Porto, com 17 casos, e Lisboa, com 15 (com as duas vítimas mortais de ontem sobe para 17).

O ano passado, o número de vítimas mortais em acidentes de trabalho foi de 142 e em 2014 foram 135. O inspetor geral Pedro Pimenta Braz criticou ontem a "instabilidade" em obras de remodelação como a do prédio da rua Alexandre Herculano, no centro de Lisboa. "Houve um desmoronamento de uma parede que teve estas consequências. As instabilidades em processos construtivos e de demolições não podem existir. Por isso é que existem planos de segurança", lamentou. Um dos trabalhadores do estaleiro, Olavo, de 50 anos, falou ao DN ainda abalado com o que presenciou: "Ouvimos um estrondo e depois o pessoal saiu para fora. Nós temos todos seguros de trabalho mas nada paga uma morte". Olavo e alguns colegas que estavam consigo lamentavam as mortes de Manuel e Arlindo, que já tinham décadas de trabalho na construção. Os cerca de 20 trabalhadores andavam a bombear cimento para o interior do prédio há uma semana. Ontem saíram do edíficio em lágrimas.

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