Ir à Casa da Selva em Benfica é encontrar desde café do Brasil até biscoitos de Almeirim

Loja familiar já tem mais de meio século e ganhou ainda mais proximidade com os clientes neste tempo de pandemia.
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Manuel e Sandra Silva são as caras à frente da Casa da Selva. A pequena loja tradicional em Benfica tem como prioridade, como gostam de dizer pai e filha, "os clientes e o seu bem-estar". O estabelecimento lisboeta é especializado na venda de chás, cafés, frutos secos, doces e chocolates e vários utensílios relacionados com estes alimentos, dos quais temos um pequeno vislumbre na organizada montra coberta pelo toldo castanho e amarelo, onde se pode ler a data de fundação: 1967.

"Este tipo de loja devia continuar a existir porque faz parte da história, dá vida à cidade", afirma Manuel Silva, de 66 anos, um beirão de Belmonte que veio ainda criança para a capital. Os Silva são, junto com os clientes, como uma grande família e quando uma pessoa não aparece há algum tempo sabem que têm de perguntar por ela. São estas lojas de bairro que contam e mantêm viva a história da cidade.

Manuel Silva trabalha na Casa da Selva há 36 anos e é o atual dono. Sandra Silva deixou o seu trabalho em que estava efetiva para continuar o legado e assumir o negócio familiar no futuro. "Só o fiz porque sabia que tinha as bases para o fazer, porque se não as tivesse não tomava a decisão que tomei". Enquanto Manuel mói os grãos de café de uma cliente, Sandra, de 38 anos, mostra tristeza pelo encerramento de lojas clássicas do mesmo género como a Casa Pereira no Chiado que fechou em 2019. No entanto, mostra orgulho pela loja ainda se manter no 373 A da Estrada de Benfica, no troço entre Sete Rios e o Palácio Beau Sejour.

O que dá vida à Casa da Selva são os clientes habituais e tradições que passam de geração em geração. Pais que iam à loja com os filhos pequenos e que agora eles próprios o fazem, mesmo depois de tantos anos. As pessoas têm nome e são identificadas por aquilo que compram, como a senhora que costuma ir buscar café (e aqui há desde o do Brasil até ao de Timor) e filhoses.

A questão da sustentabilidade atraiu, nos últimos 2/3 anos, mais jovens à pequena loja por causa da venda avulso e da embalagem em papel que oferecem, algo que as grandes superfícies nem sempre conseguem fazer. A pandemia atraiu novos clientes que moram no bairro e que não tinham tempo para lá ir, apesar da curiosidade. "Quem não tinha tempo para vir aqui por causa dos horários de trabalho, passou a fazê-lo porque passou a estar mais tempo em casa e já tinha intenção de o fazer muito antes", diz Sandra, em referência aos vários períodos de confinamento gerados desde março pela covid-19.

Carlos Félix, jovem morador da zona, frequenta a Casa da Selva há cerca de um ano principalmente pelos chás, mas também leva produtos de pastelaria e mel de vez em quando. "Fui passando pela loja, ao passear o meu cão e os produtos atraíram-me. Prefiro também comprar no comércio local do que nas grandes superfícies."

A aposta é nos produtos nacionais, desde compotas da Beira Baixa, a biscoitos artesanais de Almeirim, e bolos de mel da Madeira, com os mesmos fornecedores desde sempre. Os bules, cafeteiras e chávenas enchem as prateleiras da loja até cima. Os doces e chocolates variam entre o tradicional e o importado, como uma necessidade de atrair clientes apesar da variedade e oferta nacional. Esta loja, "que não é gourmet" como Sandra faz questão de dizer, sempre deu ao cliente o poder de perguntar, tocar e provar de modo a levar produtos da melhor qualidade para casa. As recentes lojas de venda avulso apresentam um design mais moderno, mas "este tipo de loja como a nossa já existe desde os tempos dos meus pais, até manteiga se vendia ao quilo", recorda Sandra, que mais ano menos ano, diz o pai, vai ficar à frente da Casa da Selva.

* Texto editado por Leonídio Paulo Ferreira

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