Investimento e complementaridade de público, privado e social são prioridade
Gerido pelo Grupo Lusíadas - que já recusou ir a jogo no novo concurso para a última PPP na área -, o Hospital de Cascais acaba de ser distinguido com o mais alto grau de maturidade tecnológica. O CEO explica como chegou a esse patamar.
Depois da passagem do Hospital de Loures para gestão do Estado, no início do ano, Cascais é a agora a única parceria público-privada (PPP) que resta na saúde. E acaba de ser distinguida com o mais elevado grau de maturidade tecnológica, o nível 7 da certificação HIMSS (Healthcare Information and Management Systems Society). Conquista que o CEO, José Bento e Silva, entende ser "resultado de um trabalho contínuo de alinhamento entre profissionais, processo e tecnologias". E com investimento considerável dedicado.
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"Todos os anos o Hospital de Cascais reserva uma verba significativa para investimento em tecnologia e inovação, nomeadamente na renovação de parque informático, novos softwares, integração de equipamentos e dados e principalmente na formação de profissionais", explica, em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo.
A certificação mundial do HIMSS assenta na avaliação de parâmetros como a utilização dos dados clínicos para a tomada de decisão, com redução do risco clínico; a integração dos diversos sistemas do hospital e do SNS e a segurança de dados (encriptados), explica o responsável, medidas que se traduzem em benefícios clínicos. No caso do Hospital de Cascais, estes concretizam-se, por exemplo, na automatização do processo de administração de medicação (sem papel) - "a leitura de código de barras na pulseira do doente permite uma maior precisão na administração do fármaco correto e na dose correta" - ou na integração de todos os equipamentos médicos e automatização de registos, acrescentando capacidade de análise de dados para efeitos de estudo científico, estatístico e de benchmark.
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"Estas ferramentas proporcionam também maior transparência e informação ao doente, contribuindo para um aumento da literacia em saúde", além do maior grau de segurança dos dados clínicos, diz o responsável. "Estando dentro do sistema, também ele com elevados requisitos de segurança, há mais garantia de privacidade e inviolabilidade, e de reposição em caso de falha do sistema", resume.
Para o gestor, este tipo de abordagem numa unidade de saúde acaba por revelar-se mais ágil graças ao modelo de PPP, que assegura "maior flexibilidade de gestão e de investimentos", com ganhos para a população e para o Estado. "A gestão da Lusíadas Saúde tem permitido impulsionar de forma inequívoca a qualidade e a segurança dos cuidados prestados no Hospital de Cascais, em total alinhamento com os mais elevados padrões mundiais", frisa o CEO.
Prolongada até ao final deste ano, de forma a permitir ao Estado promover novo concurso - no qual o Grupo Lusíadas Saúde, atual gestor, não participará -, ao longo da duração desta PPP, o Hospital de Cascais contribuiu para uma poupança estimada de 245 milhões de euros aos cofres públicos, "equivalentes a 17,5 milhões anuais", apontam os relatórios do Tribunal de Contas, do Ministério das Finanças e da UTAP. Resultados que José Bento e Silva considera positivos, sublinhando a "eficiência económica e financeira" realçada pelas instituições, mas também os ganhos para os doentes.
Nos parâmetros de atendimento, "nomeadamente na resposta às listas de espera de consulta e cirurgia, o Hospital de Cascais apresenta os melhores resultados da região de Lisboa e Vale do Tejo, tendo conseguido recuperar os atrasos verificados em 2020 e início de 2021", anos de pandemia, indica o gestor. E destaca a capacidade do hospital no combate à covid, sem descurar outras urgências ou casos de continuidade clínica, como os oncológicos, graças à "criação de circuitos independentes, duplicação de equipas médicas e equipamentos, que permitiu uma resposta eficaz na pandemia - como reconhecido pela ministra da Saúde a 7 abril e internacionalmente pelo IFH (International Hospital Federation) com a distinção Beyond the Call of Duty for Covid".
Apesar de fortemente impactado pela covid no primeiro trimestre, Cascais terminou o ano 2021 com "o maior número de sempre de cirurgias e consultas realizadas", revela o Bento e Silva. E no que respeita à resposta à covid, chegou a atingir, em dois anos, "300% da capacidade instalada na UCI, 70% de taxa de ocupação de camas médico cirúrgicas e duplicação das urgências".
Questionado sobre os principais desafios que se abrem agora para o setor, o administrador hospitalar destaca os efeitos da fase de adaptação e reformulação transversal a toda a economia.
"O reforço dos investimentos por parte do Estado e do setor privado são evidentes. A oportunidade de fortalecer o sistema como um todo (Estado, privados e setor social) numa lógica de complementaridade, aproveitando as melhores práticas e disponibilidade de recursos, será certamente um bom princípio", diz. Para isso, "os modelos de financiamento terão de ser revistos, bem como a avaliação de desempenho, através de resultados clínicos e indicadores de eficiência, garantindo a sustentabilidade do sistema com qualidade de serviço e aposta em segurança, tecnologia e inovação", defende José Bento e Silva.