Investigação da Universidade de Coimbra revela quanto pode envelhecer um cérebro afetado por doenças crónicas
Um estudo recente de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) revela o quanto doenças crónicas como Alzheimer, esquizofrenia e diabetes tipo 2 (T2D) podem acelerar o envelhecimento do cérebro, oferecendo dados com implicações importantes para o diagnóstico precoce de doenças neurológicas. Usando técnicas avançadas de inteligência artificial e várias bases de dados a nível local e mundial, a investigação demonstrou que é possível calcular a "idade biológica" do cérebro e compará-la com a idade cronológica para avaliar o impacto dessas doenças no envelhecimento cerebral.
A investigação, liderada por Maria Fátima Dias, investigadora do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) da UC, e orientada por Miguel Castelo-Branco e Paulo de Carvalho, foi publicada na revista Brain Communications. O estudo utilizou um novo conceito de estimativa de diferença de idade cerebral (brain age gap estimation), que compara a idade estimada do cérebro com a idade cronológica, revelando o quanto o cérebro de uma pessoa afetada por essas doenças crónicas envelhece mais ou menos rapidamente do que a sua idade cronológica.
“A idade cerebral estimada é a ‘idade biológica’ do cérebro, prevista por modelos que analisam imagens cerebrais. A sua comparação com a ‘idade cronológica’ (a idade real de uma pessoa, medida em anos) permite indicar se o cérebro envelheceu mais ou menos rapidamente do que o esperado. Um valor positivo de brain age gap significa um envelhecimento cerebral acelerado, enquanto um valor negativo é indicador de um cérebro mais jovem do ponto de vista biológico, com envelhecimento retardado”, explica Miguel Castelo-Branco, autor sénior do artigo, citado em comunicado da Universidade de Coimbra.
Os resultados do estudo revelaram que, entre as doenças analisadas (as três estão associadas ou são factor de risco para o declínio cognitivo), a doença de Alzheimer é a que tem um maior impacto, com um envelhecimento cerebral de cerca de 9 anos acima da idade cronológica. A diabetes tipo 2 apresentou um envelhecimento de 5 anos, enquanto a esquizofrenia apresentou um desvio de cerca de 2 anos.
Além de comparar a idade biológica e cronológica, os investigadores utilizaram estes mapas de sensibilidade para identificar as regiões do cérebro mais afetadas por essas doenças. Por exemplo, no caso do Alzheimer, as alterações mais significativas foram observadas no líquido cefalorraquidiano (CSF), mas não nas substâncias cinzenta (GM) ou branca (WM), enquanto no diabetes tipo 2 as alterações estavam mais associadas à substância branca, refletindo o impacto vascular da doença.
O estudo abre novas perspetivas para o uso do BrainAGE, , fornecendo uma nova ferramenta diagnóstica para ajudar na deteção precoce de doenças neurológicas e fornecer uma compreensão mais profunda dos mecanismos biológicos do envelhecimento cerebral. "Na prática será possível usar esta medida como um biomarcador útil no diagnóstico precoce de doenças neurodegenerativas”, conclui Miguel Castelo-Branco.