Internato das Especialidades com menos vagas para 2024-2025. Medicina Interna é a mais afetada
A crise de recursos humanos que está a afetar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) começa também a ter repercussões na formação, nomeadamente no Internato das Especialidades. O mapa de vagas para 2024-2025, cuja elaboração é da competência da Ordem dos Médicos (OM), de acordo com a capacidade de formação dos serviços, contempla menos vagas este ano do que no ano de 2023-2024, aquele que lançou o maior número de vagas de sempre, mas que também foi o que registou maior número de vagas deixadas em aberto.
De acordo com o plano que a OM entregou ao Ministério da Saúde, e que deverá ser divulgado em breve, serão lançadas 2164 vagas, menos 78 do que em 2023-2024 (2242 vagas) e menos do que aquelas que eram esperadas até pelo próprio Governo, até 2400, como avançava a Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS) num despacho de agosto.
Este ano há uma redução no número de vagas nas especialidades mais importantes para os Serviços de Urgência, nomeadamente Medicina Interna, Cirurgia Geral, Anestesiologia e Pediatria. Segundo nos explicaram, precisamente por não haver capacidade de formação nos serviços, devido “à falta de médicos e à falta de tempo. Os médicos estão com uma enorme carga assistencial”.
Assim, Medicina Interna passa de 248 vagas para 185, Pediatria de 110 para 103, Ginecologia-Obstetrícia de 67 para 59, Anestesiologia de 98 para 92 e Cirurgia Geral de 85 para 84. Medicina Geral e Familiar é das poucas que aumenta o número de vagas, de 617 para 625.
Mas, apesar de a Medicina Interna ser das especialidades mais afetadas em número de vagas lançadas, na prática não é bem assim. No ano passado foram lançadas 248 vagas, mas só 104 foram preenchidas, já que 144 (58,1% do total), ficaram vazias. Aliás, segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), esta tem sido a realidade dos últimos três anos, período em que ficaram por preencher 240 vagas. Por exemplo, nos hospitais de Santa Maria e São José, sobraram 24 vagas.
Num documento divulgado sobre a especialidade, a SPMI refere haver “hospitais que, há três anos, não recebem nenhum interno”. As novas gerações têm demonstrado não querer uma das especialidades mais sobrecarregadas com trabalho nas Urgências. O presidente da SPMI, Luís Duarte Costa, confirmava à Agência Lusa, a 17 de outubro, aquando da divulgação de um documento sobre a especialidade, que as causas para os internos não escolherem esta especialidade “é o excesso de trabalho e a falta de condições de trabalho”.
No mesmo texto, a SPMI assume que a especialidade “vive uma situação complexa e necessita do envolvimento e compromisso de todos os intervenientes na área da saúde”. O presidente, Luís Duarte Costa, justifica este documento como “um grito de alerta” e, por isso mesmo, nele são apresentadas propostas "mais concretas para quem tem o poder de decisão". "Estamos num cruzamento e no meio de um furacão para a Medicina Interna. Isto porque claramente tem havido uma perda da atratividade da Medicina Interna com uma óbvia falha na escolha de novos internos para esta especialidade e é um acumular de pequenos problemas", explicava na altura.
Os internistas acreditam que "a melhor maneira dos hospitais funcionarem é que exista um internista responsável por quase todos os doentes adultos, o que implicaria uma mudança no funcionamento do departamento médico dos hospitais". Só que para atingir esse objetivo são necessários ainda mais internistas, afirmou Luís Duarte Costa, estimando que faltem cerca de 1000 especialistas no SNS.
O plano de vagas para o internato deverá ser lançado até 31 de outubro, mas só no final do próximo mês se deve saber quantas vagas serão preenchidas, bem como as especialidades e unidades com maior número de vagas em aberto.