O número de internamentos sociais voltou a crescer no último ano e representa já 11,7% do total de internamentos nos hospitais públicos. Segundo os resultados da 9.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais (BIS), que são divulgados esta quarta-feira, havia em março deste ano 2342 camas ocupadas por doentes sem necessidade clínica de permanência hospitalar – um aumento de 8% face ao verificado no mês homólogo do ano anterior.Apesar desta subida, o tempo médio de internamento social caiu 10%, situando-se agora nos 157 dias, cerca de cinco meses. Ainda assim, o impacto financeiro deste fenómeno continua a aumentar. O estudo, promovido pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) em parceria com a EY Portugal, estima que o custo anual para o Estado possa ultrapassar os 288 milhões de euros, mais 28 milhões do que no ano anterior. Só este ano, até março, os custos rondavam já os 94 milhões de euros, bem acima dos 68 milhões registados em março de 2024.Internamento social é o termo usado para descrever os dias em que um doente permanece no hospital após receber alta médica, por falta de resposta social adequada - seja em seio familiar, na rede de cuidados continuados, lares, ou outras estruturas. Estes internamentos prolongados ocupam camas e recursos que poderiam ser direcionados a utentes com necessidades clínicas efetivas.Os dados agora divulgados mostram que Lisboa e Vale do Tejo, juntamente com a região Norte, concentram 80% dos internamentos sociais e 95% dos dias totais de permanência inapropriada em camas do SNS. As causas principais continuam a ser a ausência de resposta das Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI), responsável por 44% do número de dias que as pessoas continuam internadas nos hospitais públicos apesar de terem alta clínica, e a falta de vagas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), que justifica 38% dos casos de internamentos sociais.No Centro do país, a insuficiência da RNCCI é especialmente crítica, explicando 76% dos internamentos sociais. No Alentejo e Algarve, os valores são de 46% e 41%, respetivamente. Já em Lisboa e Vale do Tejo, é a falta de resposta das ERPI que mais pesa, justificando 32% dos casos. A demora na integração de doentes crónicos nas estruturas de saúde mental representa ainda 13% dos internamentos.Os idosos com mais de 65 anos continuam a ser os mais afetados, representando 74% dos episódios e permanecendo mais tempo internados após a alta médica.“Urgente reforçar” respostas sociaisPara Xavier Barreto, presidente da APAH, citado em comunicado, os internamentos sociais “têm um efeito direto na qualidade dos cuidados de saúde prestados e continuam a refletir uma ineficiência do sistema”. O representante dos administradores hospitalares diz que “é urgente reforçar a resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados e das Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, através de soluções articuladas entre entidades no setor da Saúde, da Segurança Social e do Setor Social”. Mas, acrescenta, “é também importante reforçar a capacitação das famílias, incluindo com a valorização do papel do cuidador informal. Só com uma ação concertada se pode garantir uma vida digna aos utentes do SNS e devolver a capacidade assistencial aos hospitais”.Já Miguel Amado, representante da EY, sublinha a necessidade de “modelos preditivos” para evitar internamentos prolongados. “É essencial continuar a monitorizar os internamentos sociais para assegurar a minimização de um fenómeno que já dura há demasiado tempo”, diz.Apesar das dificuldades, algumas alternativas estão a ser implementadas. A portaria 38-A/2023, de fevereiro de 2023, tem permitido criar soluções contratualizadas com instituições particulares e sociais. No dia 19 de março, 914 doentes estavam em vagas contratualizadas e 1050 já tinham sido integrados através desta medida. .2342camas. Houve mais 178 internamentos sociais nos hospitais públicos face ao barómetro anterior. Lisboa e Vale do Tejo e região Norte concentraram 80%.74%maiores de 65. Quase três em cada quatro casos e 63% dos dias de internamentos sociais são relativos a pessoas com mais de 65 anos.367.498dias. Foram registados mais de 367 mil dias de internamentos inapropriados, uma redução de apenas 3% face ao ano anterior.