Um curso que leva alunos da estratosfera aos Olímpicos
As 86 vagas que o Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa oferece neste ano no curso de Engenharia Aeroespacial estão muito acima das que existiam quando Luís Oliveira entrou para o curso, em 2001. Uma das mais seletivas formações do país - neste ano com as notas mais altas, a par de Engenharia Física e Tecnológica, da mesma instituição -, o curso é também uma porta aberta para um futuro com o qual a maioria dos estudantes nem se atrevem a sonhar.
Muitos diplomados em Engenharia Aeronáutica acabam por trabalhar para os líderes mundiais e nacionais da sua área. Outros optam por manter a ligação às instituições, através da investigação e desenvolvimento, ou lançar os próprios projetos.
Quando fez o programa Erasmus no final do curso de Engenharia Aeronáutica do Instituto Superior Técnico (IST), há uma década, Luís foi para a Holanda, para a Universidade Técnica de Deft. "Há lá uma comunidade muita grande de pessoal que saem aqui do curso e fui muito bem recebido, quer pelos holandeses quer pelos portugueses de lá", recorda.
Acabou por passar três anos no país a trabalhar no projeto de "um superbus, um autocarro elétrico de alta velocidade, todo em compósito, concebido para andar a 250 quilómetros por hora". O coordenador era Wubbo Ockels, físico e astronauta holandês - o primeiro holandês a viajar para o espaço -, que morreu em 2014. A sua "chefe direta" era Antónia Terzi, especialista em aerodinâmica e a primeira mulher da história a ser "chefe de aerodinâmica de uma equipa de Fórmula 1, a Willians/BMW".
Atualmente trabalha no Polo de Inovação e Engenharia de Polímeros (PIEP), um interface da Universidade do Minho, em Guimarães, onde a sua equipa já desenvolveu projetos para empresas nacionais: "Um dos produtos desenvolvidos por nós são as botijas [de gás] Pluma", conta. Também trabalham com a Nelo, maior fabricante mundial de caiaques, dominadora de todas as provas de remo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
A formação de base não está esquecida: "Continuamos a ter muitos projetos na área espacial, na aeronáutica, com a ESA (Agência Espacial Europeia) e não só", conta. Um dos projetos em que trabalhou era partilhado com o alemão Marcus Basin, que recentemente esteve ligado ao Solar Impulse II, o avião a energia solar que deu uma volta ao mundo.
Empresas de topo e startups
Diogo Henriques, 29 anos, tem amigos, antigos alunos do IST, "em centrais nucleares francesas, na Airbus, na Critical Software, uma das poucas empresas portuguesas que trabalham em aeroespacial". E também já trabalhou "em projetos europeus". Mas a ideia de criar algo próprio sempre o fascinou mais. "Quando acabei o curso já estava a trabalhar na área do empreendedorismo. É uma área da qual eu gosto muito mas na parte aeroespacial não é fácil", admite. "Ninguém vai criar uma Airbus do zero. Foram precisos vários países para a lançar."
Mas nada o impediu de lançar há alguns anos, com vários colegas de curso, a BALUA. "É um projeto de balões estratosféricos, em que lançamos microssatélites quase para o espaço e permitimos aos alunos experimentar, da construção ao lançamento, o que é uma missão espacial", conta. A ideia surgiu quando, enquanto estudantes, depararam com a dificuldade de construir em cinco anos de curso satélites que "levam dez anos a serem lançados". Entre vários lançamentos bem-sucedidos, neste verão terão entrado na história como a primeira missão que levou uma... sardinha até à estratosfera.
Além desse projeto, sem fins lucrativos, partilha com outros dois ex-alunos do Técnico a startup Energy of Things, que desenvolveu um dispositivo que permite medir e processar em tempo real o consumo de energia em casa, detetando falhas de equipamentos e permitindo escolher o melhor plano energético. "Está a correr muito bem. Estamos agora a candidatar-nos para a Web Summit [cimeira online] através da Portugal Ventures", diz.
70% com ofertas antes de acabar
A Engenharia Física e Tecnológica - que partilha o top dos cursos com médias mais altas deste ano - é outra formação que abre um leque alargado de opções. Um estudo feito em 2011 pelo Técnico revelou que cerca de 70% dos alunos tinham ofertas de trabalho antes de se diplomarem. Mas muitos acabam por optar por aprofundar a formação.