No Porto ensina-se Matemática a ver "The Walking Dead"

Professores do Instituto Superior de Economia do Porto estão a ajudar alunos do secundário a lidar com a Matemática. E usam séries como "The Walking Dead" para mostrar que é possível
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O que é que a série televisiva The Walking Dead, milhares de mortos-vivos a invadir a cidade do Porto e epidemias ou o vírus zika têm que ver com a ideia de desmistificar que a Matemática é um bicho-de-sete-cabeças? Bem mais do que se possa imaginar. Faz parte da iniciativa Matemática Fora de Horas, do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e da Câmara Municipal do Porto, destinada a cerca de 300 alunos do ensino secundário do concelho, que decorre até março deste ano.

Já passava das 20.30 quando Ana Amaral e a amiga Joana Alves, ambas com 16 anos, do 11.º ano da Escola Alexandre Herculano, no Porto, entrarem na sala do ISEP. Mal sabiam que iriam ver um excerto de The Walking Dead. Uma estratégia dos docentes promotores da iniciativa, já na terceira edição, desta vez com o tema "A Matemática e a propagação de epidemias". E que acontece todas as quintas-feiras à noite, até março deste ano, sob temáticas diferentes. Desta vez, foi para "demonstrar que se usa a matemática para compreender e prever a propagação de doenças", diz a docente de Matemática Amélia Caldeira, uma das organizadoras. Além da necessidade de prevenir e combater doenças transmissíveis, como a tuberculose, que causa dois milhões de mortos, e a sida outros três milhões por ano.

Com esta estratégia, os docentes do ISEP querem demonstrar que a matemática é útil, que é usada no quotidiano, que não é um bicho-de-sete-cabeças e que pode ser bem divertida", explica a professora Amélia Caldeira. E conseguiram?

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A resposta está, por exemplo, no entusiasmo com que a estudante Ana Amaral descreve a sua surpresa: "Foi bastante interessante, porque não estávamos nada a contar e ficámos logo presos ao ecrã com excerto de The Walking Dead." Mais ainda, continua entusiasmada, "foi espetacular quando os professores inventaram que zombies tinham invadido a cidade do Porto" com uma notícia fictícia. Com o título "Os mortos vivos invadem a cidade do Porto", a notícia dava conta de que "o surto mundial da nova doença sem cura (uma espécie de gripe) chegou à cidade. Já não é somente transmitida pelas mordidelas e ferimentos, mas o vírus já se transmite pelo ar". Rapidamente se transformou numa epidemia.

Aprender de forma divertida

A verdade é que, diz Ana, "aprender Matemática pode ser muito mais divertido do que se pensa. Podemos aprender a sua aplicação às epidemias". E foi precisamente o que os alunos aprenderam a fazer, e fizeram, durante um trabalho de grupo. Primeiro, a professora de Matemática do ISEP Helena Brás explicou que "a Matemática fornece ferramentas importantes e ajuda a fazer previsões. Estão a dizer que o vírus zika pode chegar a cinco ou seis milhões num curto espaço de tempo". Mais, reforça a docente perante o olhar atento dos estudantes, "os cientistas têm de fazer previsões. Temos de criar um modelo matemático que represente o nosso problema, a propagação". E vai avisando que "a parte mais complicada é a formulação. É preciso definir equações que possam ser matematicamente tratáveis. Perceber como é que a doença se vai comportar". Foi quando desafiou os alunos a encontrar um modelo matemático para o problema do vírus dos mortos-vivos.

Vítor Gonçalves, 17 anos, do 12.º ano da mesma escola, achou a aula "muito divertida e interessante". E repetiria? Não só repetiria como recomendaria "esta experiência diferente e gratificante que é uma maneira de ensinar Matemática mais interativa". Até porque, diz, "estudar não é só estar agarrado aos livros". Vítor Gonçalves já participou, no ano anterior, numa aula do género, mas sobre a taxa de alcoolismo no sangue. Está sempre à espera da próxima iniciativa das docentes do ISEP para participar. E desta vez aprendeu uma nova fórmula matemática.

Também Ana Amaral estava toda contente por ter aprendido uma expressão matemática que só iria aprender no 12.º ano. "Senti-me mais inteligente", diz com um sorriso rasgado.

A amiga Joana Alves acrescenta que "a aula ajudou a perceber mais ou menos como é que se pode resolver problemas de epidemia". Reiterou que "foi muito interessante quando aplicaram a matemática à área da saúde". Ainda assim, confessa, "a Matemática continua a ser um bicho não de sete-cabeças, mas de seis ou cino, porque é difícil".

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