Lisboa, uma cidade mediterrânica nas árvores que povoam as praças

Plátanos, palmeiras, cedros ou líquido âmbar são algumas espécies que são reproduzidas por viveiros em Monsanto, de onde sairão milhares para adornar a capital até final do ano. Algumas vêm de Itália, Espanha ou Grécia.
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Uma das cargas mais delicadas que chegou há dois meses à zona histórica de Belém, em Lisboa, trazia cinco mil pés de iresinos ou "coração magoado", uma planta avermelhada com origem no Brasil que adorna os brasões do Mosteiro dos Jerónimos. A sua semente é plantada e ela é reproduzida em estacas num dos principais viveiros municipais da cidade, o da Quinta da Fonte, em Monsanto, responsável pelo povoamento florestal daquela mata que é o "principal pulmão da cidade", como a descreve António Alves, encarregado do viveiro.

"Lisboa é sobretudo mediterrânica nas suas árvores." Da mata de Monsanto saem as principais espécies escolhidas pelos arquitetos paisagistas para adornar a vaidosa Lisboa. Sobretudo "plátanos, cedros, freixos ou líquido âmbar, que vão para as praças da capital e arruamentos". As que vão para o meio urbano de Lisboa são reproduzidas no viveiro da Quinta da Fonte e depois transplantadas para o da Quinta de Castro, também na mata de Monsanto, onde acabam de ser tratadas. É que as temperaturas nas estufas dos viveiros dependem da zona do parque florestal onde estão situados. "No da Quinta da Fonte atingem-se temperaturas algo extremas, de menos cinco graus no inverno ou de 42 no verão", como exemplificou António.

Dos jardins e de outros espaços públicos, como o Museu da Cidade, os viveiros recebem também encomendas para colocar "oliveiras, palmeiras, alfarrobeiras, amendoeiras e medronheiros". Para além das autóctones, muitas outras espécies vêm de Itália, Grécia ou Espanha, de climas mediterrânicos. "Quando vêm desses países, as árvores são transportadas de camião e logo colocadas na cidade ou na mata de Monsanto. A partir de outubro para a frente vêm para serem plantadas até março", explica António Alves.

O processo de reprodução vai da semente até à árvore ser colocada num vaso ou na mata. "Primeiro selecionamos a espécie e fazemos a recolha da semente. Depois descascamos as sementes até ficar só o fruto. Este é semeado e colocado em estacaria, o que evita o ataque de roedores como coelhos e texugos. Entretanto enraíza, é colocado na estufa para ser envasado."

Da primeira à última fase há épocas indicadas para tudo. "A altura mais propícia de envasamento é de outubro para a frente, é o repouso vegetativo da planta. Lá fora faz-se as mondas dos vasos e a rega. As primeiras são postas nos abrigos para no primeiro ano não se queimarem com o Sol." E nos próximos tempos não vai faltar trabalho aos funcionários dos viveiros municipais que cuidam das árvores da cidade. Até ao fim do ano, Lisboa vai ter mais 28 167 árvores, o número de bebés nascidos na capital entre 2010 e 2014. A ideia é, segundo a câmara, "oferecer a todos os lisboetas uma árvore". Vão ser plantados também neste prazo mais 30 mil arbustos.

Fora deste programa estão as oito mil árvores a plantar na zona em volta e no separador central da Segunda Circular, se se concretizar o projeto da Câmara Municipal de Lisboa para transformá-la numa avenida urbana que terá um separador central arborizado com 3,5 metros de largura. A ideia é ter mais "bolsas" verdes na cidade.

Corredor verde vem de Monsanto

Diz António Alves que "todo o corredor verde pedonal e para bicicletas de Lisboa, desde o Parque Eduardo VII até ao Parque Florestal de Monsanto, foi feito com espécies autóctones deste viveiro, como se fosse um caminho florestal". Milhares de zambujeiros, alecrins e medronheiros acompanham o corredor verde que ocupa cerca de 51 hectares numa extensão de 2,5 quilómetros (cinco quilómetros ida e volta).

Em junho, o mês das festas populares da cidade, em que impera o manjerico, saíram do viveiro da Quinta da Fonte três mil pés dessa planta já prontos para alegrar os vários eventos festivos dedicados a Santo António.

"Até há oliveiras do Tony Carreira"

O encarregado do viveiro municipal apontou para alguns pufes coloridos que vieram do Cais do Sodré com oliveiras plantadas. Divertido, contou que ali "até há oliveiras do Tony Carreira". Melhor dizendo, até as centenas de oliveiras que foram usadas no anual megapiquenique Continente foram levadas para os viveiros municipais para serem aproveitadas e depois levadas para ruas ou praças onde fossem adequadas e se ambientassem facilmente.

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