A indústria do óleo de palma, sob pressão na Europa depois de as autoridades terem considerado o óleo comestível como um alimento que pode aumentar o risco de cancro, encontrou um aliado na indústria alimentar: a Ferrero, fabricante de Nutella..A empresa italiana defendeu publicamente o ingrediente, que faz parte da receita de Nutella, lançando uma campanha publicitária para garantir ao público que é seguro comer o creme de barrar, um dos seus produtos mais importantes, que representa cerca de um quinto das suas vendas..O creme de avelã e chocolate, uma das marcas mais conhecidas de Itália e popular entre as crianças, usa o óleo de palma para garantir a uma textura suave e também um prazo de validade mais longo. Optar por substitutos, como o óleo de girassol, mudaria o produto, de acordo com a Ferrero.."Fazer a Nutella sem óleo de palma resultaria num produto inferior, seria um passo atrás", disse Vincenzo Tapella, da Ferrero, à Reuters. É ele que dá a cara num anúncio exibido em Itália nos últimos três meses, que atraiu críticas de alguns políticos..A substituição do óleo de palma teria também implicações económicas, pois é o óleo vegetal mais barato - custa cerca de 800 dólares a tonelada, em comparação com os 845 do óleo de girassol e 920 do óleo de colza, outro possível substituto..A Ferrero usa cerca de 185 mil toneladas de óleo de palma por ano, o que significa que a substituição custaria 8 a 22 milhões de dólares por ano, aos preços atuais, segundo a Reuters - uma estimativa que a empresa preferiu não comentar..[artigo:4629081].A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) disse em maio que o óleo de palma gera mais contaminantes potencialmente carcinogénicos do que outros óleos vegetais quando refinado a temperaturas acima de 200 graus Celsius. Não chegou a recomendar, no entanto, que os consumidores parassem de usá-lo e disse que são necessários estudos mais aprofundado para avaliar o nível de risco..A investigação detalhada sobre o contaminante - conhecido como GE - foi pedida pela Comissão Europeia em 2014, após um estudo da EFSA no ano anterior, sobre substâncias geradas durante o processo de refinamento industrial, o ter identificado como potencialmente prejudicial..A EFSA não tem o poder de regulamentar, embora a questão esteja a ser considera pela Comissão Europeia. O porta-voz da Saúde e Segurança Alimentar, Enrico Brivio, disse que será emitida uma recomendação até o final deste ano. As medidas podem incluir regras para limitar o nível do contaminante nos produtos alimentares, mas não haverá uma proibição do uso de óleo de palma, acrescentou..A Organização Mundial de Saúde e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura já alertaram para o mesmo risco potencial, mas também não recomendaram que os consumidores deixassem de comer óleo de palma. O mesmo fez a Food and Drug Administration dos EUA..A questão tornou-se polémica em Itália depois de a maior cadeia de supermercados do país, a Coop, ter iniciado um boicote ao óleo de palma em todos os produtos de marca própria após a divulgação do estudo da EFSA, descrevendo a decisão como uma "precaução". A Barilla também eliminou o óleo de palma e colocou rótulos "sem óleo de palma" em todos os produtos..As decisões dos retalhistas foram tomadas na sequência de pressão de ativistas, incluindo a principal associação agrícola italiana, a Coldiretti, e a revista Il Fatto Alimentare, que pediu a todas as empresas de alimentos para pararem de usar óleo de palma..A Ferrero, por seu lado, argumenta que usa um processo industrial que combina uma temperatura que fica pouco abaixo dos 200 graus e uma pressão extremamente baixa no processo de remover a cor e neutralizar o cheiro do óleo de palma, de forma a minimizar a presença de contaminantes no produto final. O processo é mais demorado e 20% mais caro, disse a Ferrero à Reuters. Mas permite manter os níveis do contaminante tão baixos que se torna difícil encontrar o químico, garantiu a empresa.."O óleo de palma usado pela Ferrero é seguro porque vem de frutas frescas e é processado a temperaturas controladas", diz Tapella no anúncio de TV, que foi filmado na fábrica da empresa na cidade de Alba, no norte do país..[youtube:8Jtu9gEreNY].Contactada pela Reuters, a EFSA não quis comentar os possíveis riscos de refinar o óleo de palma a temperaturas mais baixas..Apesar da polémica à volta do Nutella, este está longe de ser o único produto com óleo de palma. O óleo é usado pela Unilever e Nestle em muitos dos seus produtos, do chocolate à margarina. Os dois grupos disseram que estão a monitorizar a questão e a trabalhar com os fornecedores para redzir os níveis do contaminante.