"É preciso mudar a Educação em Portugal. Escolas precisam de carinho"
Deixou as salas de aula, mas não abandonou o ensino e a educação. Dedicou-se à sua Academia de Sucesso e a fazer dos seus alunos crianças e jovens mais felizes e confiantes. Esse é o objetivo de Eunice Pinto.
Aos 42 anos, é proprietária de duas academias de estudo, cujo trabalho vai além das explicações e dos trabalhos de casa. "Fazemos sessões de coaching individual, baseamos a nossa intervenção no desenvolvimento infantil e na programação neurolinguística."
Licenciada em Gestão de Empresas, Eunice Pinto deu aulas de Economia e Gestão no ensino secundário. Durante seis anos foi professora no ensino público, fundou a Academia de Sucesso, há 12, e acabou por deixar o ensino oficial desencantada com a "falta de liberdade de ensinar de uma forma mais lúdica e mais criativa". A professora acredita "num modelo em que as crianças aprendem por projeto e no reconhecimento de que elas não aprendem todas da mesma maneira".
Por isso, a sua ideia para melhorar o país é "mudar o paradigma da educação em Portugal". Uma necessidade que considera "urgente".
Aos 42 anos, defende esta ideia nas suas duas academias - uma em Corroios e outra em Almada - e também em palestras em escolas. "As nossas escolas precisam de ter muitos mais abraços, amor, carinho e quando não se consegue resolver com abraços e carinhos é porque os abraços foram poucos, a falta de carinho está na base de muitos problemas comportamentais." É esta a mensagem que vai passar às escolas e uma preocupação que vê nos pais. Desde que abraçou esta pedagogia e se tornou trainee internacional de programação neurolinguística que tenta "sensibilizar os professores de que é preciso olharmos para as nossas crianças como mais do que seres que estão ali a aprender".
Nessa lógica e aproveitando os tempos que vivemos, Eunice passa a mensagem para os seus alunos de que vivemos "na globalização" e de que "temos de nos abrir ao mundo". Explicando aos mais novos a importância de recebermos refugiados e ajudarmos quem precisa. "Falamos muito nos refugiados, trabalhamos a partilha e a importância de acolhermos e de recebermos outras pessoas. Eles próprios são impulsionadores dessa partilha."
Eunice sublinha o facto de os mais novos viverem mais abertos para o mundo. "As novas gerações vêm viradas para o mundo, sedentas de informação e com acesso a ela. Cabe-nos a nós ter uma visão muito mais global e de que o nosso mundo não é o nosso quintal."
Uma visão de cidadania mais vasta que Eunice defende e na qual inclui a importância da União Europeia e da presença portuguesa neste espaço. "O que penso para mim tento transmitir às crianças, que é: se elas tiverem uma visão global, Portugal vai crescer e vai fazê-lo como parte da Europa e do mundo. Não podemos estar fechados e centrados nos rankings das escolas, no nosso pequeno mundo."
A fundadora da Academia de Sucesso considera que a chave para uma convivência sem fronteiras assenta na capacidade de ensinar os mais novos "a estarem no lugar dos outros, a estarem atentos ao outro".
Outra vertente essencial na formação de adultos conscientes é que aprendam a ter confiança em si próprios. O que a educadora faz através do clube de inteligência emocional, que tem a funcionar na academia de Almada. "É um espaço criado há dois anos e onde os miúdos falam dos seus medos, da raiva, da falta de confiança. É importante para a vida, termos miúdos confiantes e que acreditam neles próprios." Uma teoria que a própria aplica diariamente aos dois filhos - Catarina, de 11 anos, e Pedro Rafael, de 7. "São os primeiros a quem eu trabalho todos os dias a questão da confiança e de estarem atentos ao outro."
A essência da sua academia é que as crianças só começam a estudar quando estão bem emocionalmente. "Trabalhamos nesta metodologia de respeito pela criança, trabalhamos as convicções limitadoras - quando a criança diz "eu não sou capaz, não consigo" -, se não está bem emocionalmente." Isto porque "a criança é um todo e as questões emocionais estão primeiro, só depois de elas serem resolvidas é que podemos ter resultados escolares surpreendentes".
Isso começa logo na forma como se relacionam os professores e os alunos do 1.º ao 12.º ano, que frequentam as academias. "Não os tratamos por alunos, existe uma amizade, os alunos tratam-nos por tu, há uma conexão bastante forte, tem de haver emoção para haver aprendizagem."