INE vai agora perguntar sobre questões étnico-raciais
Inquérito às condições de vida e trajetórias dos residentes em Portugal lançado esta semana. Esperam-se conclusões até final do ano.
Qual ou quais são as seguintes opções que melhor definem o grupo a que considera pertencer? Alguma vez sentiu que foi ou é tratado/a de forma discriminatória? Onde? Em que situações? Quais são as características que podem estar na origem dessa discriminação? Estas são algumas das questões étnico-raciais que o INE vai perguntar à população e que foram retiradas dos Censos de 2021. Perguntas consideradas sensíveis e a que se decidiu dar resposta através de um questionário próprio.
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Trata-se do Inquérito às Condições de Vida, Origem e Trajetórias da População Residente (ICOT), cujas cartas com os códigos de acesso ao formulário online começaram a ser enviadas esta semana. Pretende-se atingir 35 035 alojamentos, uma resposta por cada um, desde que tenha entre os 18 e 74 anos. Quando há mais do que uma pessoa elegível, responde a que fez anos há menos tempo.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) cumpre, assim, a promessa de desenvolver "um inquérito com um potencial analítico mais abrangente para conhecer as origens, trajetórias e condições de vida objetivas da população residente em Portugal". Isto depois de ter decidido não incluir as questões étnico-raciais nos Censos 2021, recomendadas pelo grupo de trabalho que preparou os censos.
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Francisco Lima, presidente do INE, sublinhou, ontem, na apresentação do inquérito, que esta "é uma matéria complexa e sensível", onde o país não tem experiência.
Recorreram a estudos de outros países para elaborar um projeto-piloto, cujas perguntas recolheram entre outubro de 2021 e janeiro de 2022. Foram discutidas com o Grupo de Trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação. Distribuíram os questionários em 3434 casas da Área Metropolitana de Lisboa, a que responderam 73 % dos visados. E, nas questões sobre origem e pertença, 80 % identificaram-se com algum grupo. Este tipo de pergunta tem sempre as possibilidades: "Prefere não responder" ou "Não sabe". Os resultados foram analisados com o Alto-Comissariado para as Migrações e Observatório das Migrações e Conselho Superior de Estatística.
Por exemplo, as perguntas sobre pertença têm uma introdução sobre a "origem, pertença, história ou percurso familiar". E prevê os grupos "asiático", branco, cigano, negro, origem ou pertença mista, outro e não respostas.
O inquérito está dividido em cinco módulos, os primeiros dois sobre os residentes no alojamento. Um sobre a habitação e rendimento, dividindo-se os outros três em: "origem e pertença" - naturalidade e escolaridade de toda a família, grupo étnico; religião; "discriminação" - razão, local, situações, contacto com autoridades; perceção de discriminação; "línguas faladas".
Os questionários devem ser respondidos até maio, em português e inglês, preferencialmente via Internet, avançando sequencialmente para o telefone e presencial. Há entrevistadores para realizar a entrevista em inglês na recolha por telefone e presencial. Está, também, traduzido em dez idiomas: árabe; bengali, francês, hindi, italiano, mandarim, nepalês, romeno, russo e ucraniano. Os resultados estarão disponíveis este ano.
ceuneves@dn.pt