Há várias estradas bloqueadas. Agricultores na fronteira em Elvas ameaçam avançar para Lisboa
Pela valorização do setor e condições justas, os agricultores estão esta quinta-feira na rua com os seus tratores, de norte a sul do país, num protesto que está a bloquear várias estradas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.
Num ponto de situação publicado na rede social X, a GNR contabilizava, às 12:45, duas autoestradas cortadas ao trânsito, devido aos protestos do agricultores em vários pontos do país.
No distrito da Guarda, a A25 encontra-se cortada em ambos os sentidos, no Alto Leomil e entre Vilar Formoso e Pínzio, sendo a alternativa indicada a Estrada Nacional (EN) 16.
No distrito de Portalegre, junto à fronteira do Caia, a A6 está cortada em ambos os sentidos, no nó de Varche, bom como a EN371, em Fronteira do Retiro. Neste distrito é indicada como alternativa a EN4, saída de Borba.
O Itinerário Complementar (IC) 1 encontra-se cortado no distrito de Setúbal, na zona da Mimosa, no sentido Sul/Norte, sendo a alternativa a Autoestrada 2.
De acordo com a publicação, à mesma hora encontrava-se também cortada ao trânsito a EN 260, no distrito de Beja. O corte é total, em ambos os sentidos, em Vila Verde de Ficalho e Fronteira de Paimogo, sendo a alternativa a EN122 Pomarão.
Em Évora, a Estrada Municipal 256-1, em Mourão e Fronteira de S. Leonardo, está cortada em ambos os sentidos. Em alternativa, a GNR indica a EN 389, de Granja para Barrancos.
Ainda segundo a mesma fonte, os protestos dos agricultores resultaram ainda em congestionamentos de trânsito nos distritos de Coimbra e de Santarém. No primeiro está condicionada a EN111, no sentido Montemor-o-Velho/Coimbra. No segundo, o condicionamento regista-se na Ponte da Chamusca e a GNR aponta como alternativa, apenas para viaturas ligeiras, a EN3-9, entre a ponte e Praia do Ribatejo. Pode ainda ser usada a EN2 (Abrantes).
A GNR, entretanto, cortou o acesso à Autoestrada 23 (A23) e impediu a entrada naquela via de agricultores do Oeste e Ribatejo que queriam bloquear o trânsito.
Os cerca de 800 agricultores e 100 tratores que participaram hoje de manhã numa marcha lenta na Ponte da Chamusca, no distrito de Santarém, decidiram depois dirigir-se para a A23 para cortar a via ao trânsito, segundo informou o Movimento Civil de Agricultores.
No entanto, a GNR cortou o acesso à autoestrada, o que impediu os agricultores de bloquear a via.
Os agricultores reorganizaram-se e, segundo disseram à Lusa, dividiram-se em dois grupos que vão aceder à A23 em carrinhas, por outras vias de acesso, para cortarem o trânsito.
Na zona do Ribatejo e Oeste, o protesto foi concentrado na Ponte da Chamusca depois de duas autarquias da região, Barquinha e Entroncamento, terem recusado autorizar manifestações nos seus concelhos.
A GNR deixou um apelo aos condutores para que conduzam com prudência para evitar sinistralidade e aos que participam no protesto que não coloquem em causa os direitos das pessoas, neste caso o direito à mobilidade.
“Apelamos a todos que estejam neste protesto que não coloquem em causa os direitos das pessoas, neste caso o direito à mobilidade”, indicou.
A25. "Seguramente temos cá mais de 500 máquinas e serão cerca de 700 agricultores"
NUNO VEIGA/LUSA
Centenas de agricultores da região Centro estão a bloquear desde a madrugada de a A25 na zona de Alto de Leomil, concelho de Almeida, a cerca de 13 quilómetros da fronteira de Vilar Formoso, e dizem estar dispostos a manter o bloqueio até perceberem uma mudança no setor.
"Seguramente temos cá mais de 500 máquinas e serão cerca de 700 agricultores", salientou à Lusa Ricardo Estrela, porta-voz da região das Beiras do Movimento Civil Agricultores de Portugal, que hoje está a organizar um protesto em vários pontos do país.
A circulação da A25 na zona de Alto de Leomil, no distrito da Guarda, está interrompida nos dois sentidos desde as 06:00, por decisão das autoridades, sendo o trânsito desviado para as estradas nacionais.
Os agricultores iniciaram o protesto por volta das 06:15.
Ricardo Estrela destacou o mérito das autoridades na forma como o bloqueio se iniciou e na decisão de antecipar a interrupção da circulação.
"Se calhar, ao perceberem que não conseguiam conter este movimento, optaram por previamente bloquear o troço", assinalou Ricardo Estrela.
O porta-voz do protesto admitiu que "foi muito bom".
"Não calculam o que isso foi bom para nós, porque aquilo que menos queremos é que haja algum acidente colateral. O nosso propósito é alertar quem nos governa para as medidas erráticas que têm tomado. Não queremos causar, de maneira nenhuma, problemas a terceiros", garantiu.
Ricardo Estrela reforçou que o objetivo é o de que "o protesto decorra de forma ordeira e que decorra com o máximo civismo possível".
"Há vários pontos de lume no protesto. São fogareiros. Demonstra o civismo deste setor", assinalou.
O também produtor de gado ovino no distrito de Castelo Branco evidenciou ainda que há alternativas para o trânsito circular.
"A A25 está bloqueada, mas estamos a deixar alternativas para que o trânsito consiga circular. Bem sei que com dificuldades, mas se não criarmos transtornos não somos ouvidos", assinalou.
Os agricultores têm intenção de manter o protesto "até se perceber que alguma coisa de diferente vai mudar".
O movimento pretende pedir uma audiência à ministra da Agricultura, à Presidência da República e aos grupos parlamentares.
"É importante sabermos qual será o futuro e qual é visão partidária", vincou Ricardo Estrela.
Antes, Ricardo Estrela contou que as máquinas agrícolas, reboques e veículos entraram cerca das 06:00 no nó de Leomil e cerca das 06:50 estavam em marcha lenta em direção a Vilar Formoso.
A ideia era "bloquear", mas optaram pela marcha lenta "para permitir que mais veículos possam participar e entrar na autoestrada". "Vieram agricultores de toda a Beira Interior", disse.
De acordo com Ricardo Estrela, os agricultores começaram a chegar cedo, alguns ainda na quarta-feira à noite.
"Em termos de número de máquinas é uma coisa nunca antes vistas. Atrevo-me a dizer que estamos a fazer historia no setor, estamos a mostrar a nossa união. Quando queremos somos unidos", referiu.
Perto de 100 tratores e máquinas agrícolas cortaram a Estrada Nacional 260 (EN260), na zona de Vila Verde de Ficalho (Beja), junto da fronteira com Espanha, desde as 03:00, no âmbito da manifestação de agricultores.
"Nós não vamos partir nada, não vamos voltar camiões, não vamos agredir ninguém. Nós estamos aqui por nós, pelas nossas famílias, pela nossa sobrevivência", disse à Lusa António João Veríssimo, um dos porta-vozes do movimento promotor dos protestos de hoje pelo país.
À saída de Vila Verde de Ficalho em direção a Espanha, também onde se encontram alguns veículos e elementos da GNR, estão estacionados no meio da estrada, atravessados, os primeiros tratores.
É também aí que se concentra o primeiro grupo de agricultores, numa zona lateral, de terra batida, junto de um lume forte, com enchidos para preparar no fogo, sumo e até uma garrafa de vinho.
No escuro da madrugada, à medida que se vai andando, constatou a Lusa no local, vão surgindo, em filas sucessivas e desencontrados, tratores, outras máquinas agrícolas e até camiões com reboques, todos atravessados.
No final, por volta das 06:15, dezenas de agricultores também estão reunidos nas imediações, uns ao pé dos tratores, outros de volta de outra fogueira, a aquecerem-se, e com uma carrinha com mantimentos ao pé.
Do outro lado, na direção de Espanha para Portugal, apesar do escuro, é possível avistar diversos camiões parados, que não podem passar devido ao bloqueio.
"O nosso lugar não é nas estradas, a barricar estradas. Nós somos trabalhadores do campo, somos as pessoas que produzimos alimentos, merecemos respeito", argumentou António João Veríssimo.
Mas, apesar de afirmar que não pretendem "prejudicar vidas, prejudicar empresas", o agricultor defendeu que os 'homens da terra' tinham que tomar uma medida forte, para demonstrarem a sua insatisfação.
"Eu acho que isto é o limite. Não sei o que é que podemos fazer mais, já é quase último grito. A Política Agrícola Comum (PAC) não está a tratar bem e ser agricultor hoje é quase um risco de vida ou de morte", afiançou.
A6, junto à fronteira do Caia em Elvas. "Se não vêm [Governo] falar connosco, em breve tomamos Lisboa"
Os agricultores concentrados junto à fronteira do Caia, em Elvas, distrito de Portalegre, ameaçaram levar os protestos até Lisboa caso o Governo não os contacte sobre as reivindicações do setor.
"Já temos confirmação de Espanha que eles [agricultores] vão avançar com o fecho das fronteiras, pelo que a nossa ação aqui em Caia deixa de fazer sentido. Se não vêm [Governo] falar connosco, em breve tomamos Lisboa", disse João Dias Coutinho, do Movimento Civil de Agricultores, em declarações à Lusa.
O responsável disse ainda que "tudo está em aberto" em matéria de protestos, sublinhando que o objetivo traçado para hoje foi cumprido.
Um grupo de agricultores cortou a autoestrada A6, nos dois sentidos, a um quilómetro de Badajoz (Espanha), estando o trânsito a circular por uma via secundária sob o "olhar" das autoridades de Portugal e Espanha.
De acordo com o Movimento Civil de Agricultores, que promove o protesto, a A6 foi cortada nesta zona junto a Espanha pelas 06:40 "de forma pacífica e ordeira".
Perto das 07:00, uma outra coluna de carrinhas e veículos todo-o-terreno, encabeçada por uma viatura da GNR, entrou na A6 em direção à fronteira do Caia, mas pouco depois do nó Elvas Oeste, onde tinha entrado, dois carros, um em cada faixa, pararam.
Os condutores abriram o capô dos veículos e alegaram que as viaturas estavam avariadas, impedindo a passagem do trânsito.
Já junto à fronteira do Caia, a um quilómetro de Badajoz, os agricultores pararam as viaturas nas vias e, pouco e pouco, desencadearam diálogos entre eles e partilharam alguns petiscos.
Esta ação junto à fronteira está a ser acompanhada pela GNR e Guardia Civil espanhola.
NUNO VEIGA/LUSA
Protesto junta cerca de 50 tratores em marcha lenta em Mogadouro. "O nosso fim é a vossa fome"
Também os Agricultores do Planalto Mirandês saíram à rua em Mogadouro, no distrito de Bragança, realizando uma marcha lenta com cerca de 50 tratores para reclamar melhores condições e mais apoios financeiros do Governo.
Os agricultores realizavam, pelas 09:45, uma marcha lenta que juntava cerca de meia centena de tratores pela vila de Mogadouro e exibiam cartazes onde se lia "O nosso fim é a vossa fome", entre outras palavras de ordem.
Dário Mendes, produtor precário do concelho de Mogadouro, disse à Lusa que este é um protesto que tem por objetivo mostrar à sociedade civil o facto de setor agrícola estar ao abandono, e o pagamento das ajudas "chega tarde e a más horas".
"O não pagar os subsídios à hora certa e estão previstos cortes de 35% nos apoios a produção em proteção integrada. Assim é impossível trabalhar, porque as candidaturas foram feitas dentro da lei obedecendo às diretivas do Governo, e nada disto pode acontecer", indicou o agricultor.
Já Nuno Rodrigues, um agricultor de Miranda do Douro que também se juntou ao protesto, afirmou que os agricultores unidos são mais fortes para reivindicar os seus direitos e apoios às suas produções.
"Os agricultores não são de Mogadouro ou de Miranda, e quanto mais unidos [estivermos] mas poder reivindicativo teremos. O aumento dos fatores de produção são outra das grandes preocupações", sublinhou.
Hélder Rodrigues, apicultor no Planalto Mirandês, disse que teve grandes prejuízos no seu setor e o Governo nunca quis saber do setor.
"O Governo não pode alterar a lei dos apoios aos pequenos agricultores e da produção integrada ou biológica sempre que dá vontade. Tem de haver mais avaliação e estudos nesta matéria", alertou.
Os agricultores estão hoje na rua com os seus tratores, de norte a sul do país, reclamando a valorização do setor e condições justas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.
O protesto, uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, decorre um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).
O pacote abrange entre outras, medidas à produção, no valor de 200 milhões de euros, assegurando a cobertura das quebras de produção e a criação de uma linha de crédito de 50 milhões de euros, com taxa de juro zero.
Segundo um comunicado divulgado na quarta-feira pelo movimento, os agricultores reclamam o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade.
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O movimento, que se apresenta como espontâneo e apartidário, garantiu que os agricultores portugueses estão preparados para "se defenderem do ataque permanente à sustentabilidade, à soberania alimentar e à vida rural".
Em França, os agricultores estão a bloquear várias estradas para denunciar, sobretudo, a queda de rendimentos, as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação dos padrões e a concorrência estrangeira.
O protesto também tem crescido em países como Espanha, Bélgica, Grécia, Alemanha ou Itália.
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Montenegro acusa Governo de desrespeitar agricultores
O presidente do PSD, Luís Montenegro, manifestou esta quinta-feira solidariedade com os agricultores portugueses e acusou o Governo socialista de desrespeitar este setor "até ao último minuto do seu mandato".
"Na AD (Aliança Democrática, que integra PSD, CDS-PP e PPM) compreendemos as razões de protesto e a sua frustração. Este Governo socialista desrespeita os agricultores até ao último minuto do seu mandato", sublinhou o social-democrata