Há cantos de baleia e vozes da Terra na banda sonora do fundo oceânico
Na Fossa das Marianas, o local mais fundo dos oceanos, com 10.916 metros de profundidade, reina o silêncio abissal, certo? Era isso, pelo menos, que os cientistas esperavam. Para sua grande surpresa, no entanto, não é assim. As profundezas oceânicas também são habitadas, não apenas por seres cegos e fugidios, mas por um vasto mundo de sons: o canto doce das baleias, o ruído persistente de um motor de navio, um tufão enraivecido à superfície e até a voz da terra, quando ela treme, mesmo que seja a milhares de quilómetros de distância.
Durante três semanas, um grupo de cientistas gravou tudo isso, que pode agora ser ouvido aqui.
Quando o realizador de "Titanic", James Cameron, desceu na Fossa das Marianas por umas horas, em março de 2012, maravilhou-se com o negrume e o mistério das profundidades, e com a fauna exótica que ali encontrou, mas não se apercebeu desse mundo rico de sons. Nem podia.
Cameron fez a arriscada descida num submarino estanque, construído com materiais e de forma a poder aguentar a pressão atmosférica brutal sem ficar em pedaços. Não podia ouvir o que se passava fora da sua bolha.
Agora uma expedição conjunta de investigadores do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), da Universidade do Estado do Oregon e da Guarda Costeira dos Estados Unidos, desceu um hidrofone até àquele abismo e gravou tudo durante três semanas.
"Poder-se-ia pensar que o local mais profundo do oceano seria o ponto mais silencioso da Terra", afirma o líder da expedição, o oceanógrafo Robert Dziak, da NOAA, num comunicado daquela instituição.
No entanto, sublinha o investigador, "o som ali é quase constante", com "o ambiente dominado pelo barulho de sismos, que ocorrem perto e à distância, com diferentes cantos de baleias, ou o clamor de um tufão de categoria 4 [o segundo mais grave na escala de intensidade] passando na superfície".
Além disso, há ainda os navios, com os seus potentes motores, cujo som se propaga da superfície até aos cantos mais recônditos do fundo submarino.
Com o registo desta nova paisagem, que Dziak diz ser uma novidade para a ciência, os cientistas queriam começar a perceber melhor que tipo de sons dominam o azul profundo, e com que intensidades, para conhecer de forma mais clara também o tipo de ruídos a que está exposta a fauna marinha, e de que forma os sons da civilização humana podem afetá-la.
O hidrofone foi descido na Fossa das Marianas com mil cuidados - a operação durou seis horas para evitar danos no equipamento - a 25 de julho do ano passado, e ficou durante três semanas a funcionar ininterruptamente lá em baixo. Depois de recolhido, foram meses para catalogar os sons.
Segundo a NOAA, vão seguir-se outras missões do mesmo género, mas ainda mais prolongadas.