A semente da "Ditadura Militar" plantada no 28 de maio de 1926, falhada a tentativa de abril de 1925 e as que se seguiram, consolidou-se 2511 dias mais tarde, a 11 de abril de 1933, com a entrada em vigor da nova Constituição "aprovada" que tinha sido por um "Plebiscito" dias antes, a 19 de março. Diz o Diário do Governo, desse dia, que "um milhão duzentos e noventa e dois mil oitocentos e sessenta e quatro" votaram a favor; "reprovaram o mesmo Projeto, seis mil cento e noventa"; votos nulos foram "seiscentos e sessenta e seis"; "não intervieram no Plebiscito ou relativamente aos quais faltam comunicações, trinta mil quinhentos e trinta e oito"..14 990 dias depois, a Revolução dos Cravos, a 25 de abril de 1974, tombava o "Estado Novo" que tinha como "essência orgânica (...) a função histórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se compreendem, exercendo também a influência moral que lhe é adstrita pelo Padroado do Oriente" e a quem incumbia "promover a unidade moral e estabelecer a ordem jurídica da Nação, definindo e fazendo respeitar os direitos e garantias resultantes da natureza ou da lei"..A 2 de abril de 1976, um ano e onze meses depois da "Revolução", a Constituição de Abril [aprovada com os votos favoráveis de PS, PPD, PCP, MDP/CDE, UDP e ADIM; o CDS votou contra] elogiava, naturalmente, no seu preâmbulo, o Movimento das Forças Armadas - "Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa" - e estabelecia metas, entre outras, como "a transformação" do país "numa sociedade sem classes", "a transição para o socialismo", ou "a apropriação colectiva dos principais meios de produção", que foram sendo alteradas pelas sete revisões ao texto inicial..Traço fundamental é o que está, hoje, inscrito no artigo 1.º: "Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária"..Depois da Lei Constitucional, realizaram-se, nesse ano de 1976, num curto espaço de nove meses, quatro eleições que iniciaram o processo de normalização e construção da democracia: legislativas a 25 de abril, regionais a 27 de junho nos Açores e Madeira, e autárquicas a 12 de dezembro..E agora, 17 533 dias passados sobre o 25 de Abril [completam-se na segunda-feira] há ainda muitas perguntas que se colocam: "Que período estamos a celebrar quando falamos do cinquentenário do 25 de Abril? Onde deve começar e acabar um estudo histórico geral desse período?"; "É legítimo esperar que uma maior distanciação no tempo modifique a visão dos trabalhos históricos, de caráter geral, sobre a Revolução dos Cravos? De que maneira? O que se ganha e se perde com a passagem do tempo?"; "A violência mortal da direita do MDLP durante o PREC e/ou da esquerda das FP-25 nos anos de 1980, são exemplos do que impedem, ainda hoje, um debate histórico sereno?"; "Que documentação e que fontes para os historiadores consultarem estão por disponibilizar?; "O Estado já "libertou", de documentação reservada ou confidencial, tudo o que deveria libertar?"."O Tempo Histórico e a História do 25 de Abril", que amanhã estará em debate numa organização conjunta DN/JN/TSF com a Câmara Municipal de Setúbal - debate moderado pelo jornalista Pedro Tadeu e integrado na iniciativa "Venham Mais Vinte Cincos" - , pelas 10.30, no Salão Nobre da autarquia, reúne seis historiadores para a análise de uma democracia que já atingiu maior longevidade (48 anos) que a ditadura..DestaquedestaqueO debate, aberto ao público, terá lugar no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal a partir das 10.30..E será que poderá haver uma nova história do 25 de Abril?.Dito de outra forma: "O nosso atual tempo da globalização, em que nos habituámos a ver o mundo como uma unidade supranacional, também altera a visão dos historiadores sobre a visão nacional do 25 de Abril? O papel do 25 de Abril no mundo e o papel do mundo no 25 de Abril, podem suscitar uma nova escrita da História geral do 25 de Abril? O que é que uma nova História do 25 de Abril pode trazer às novas gerações?".DestaquedestaqueO debate, integrado na iniciativa "Venham Mais Vinte Cincos" da Câmara Municipal de Setúbal, tem as participações de Adelino Maltez, professor catedrático, doutor em Ciência Política; Albérico Afonso Costa, historiador e professor coordenador do ensino politécnico; António Costa Pinto, historiador, politólogo, professor no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa; Fernando Rosas, historiador, professor emérito da Universidade Nova de Lisboa; Irene Flunser Pimentel, doutorada em História Institucional e Política do século XX, Prémio Pessoa 2007; e Silvestre Lacerda, diretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. O debate, cuja abertura será feita por André Martins, presidente da Câmara de Setúbal, e Pedro Cruz, diretor da TSF, será transmitido em live streaming nos sites do DN / JN / TSF e na antena da TSF.