Apesar das 30 toneladas, o gigante da tecnologia da década de 1940 ocupava 180 m2 de área em instalações militares no estado do Maryland. Quando entrou em funcionamento em 1946, o Electronic Numerical Integrator and Computer (ENIAC), o primeiro computador digital completamente eletrónico, carregava uma responsabilidade..O ENIAC faria os cálculos balísticos mais rápidos de sempre. As 18.000 válvulas termiónicas (ou tubos de vácuo) do computador projetado pelos cientistas norte-americanos John Mauchly e J. Presper Eckert cooperavam para o desempenho da máquina. O ENIAC, apelidado de “Grande Cérebro” computava em 30 segundos o que até ali exigia 12 horas de cálculos com substancial esforço humano. Em 1945, ao calcular a viabilidade da temível bomba de hidrogénio, a máquina foi nutrida com mais de um milhão de cartões perfurados, suporte arcaico de armazenamento de dados. Não obstante o aparato, o ENIAC possuía uma capacidade operacional inferior à de uma calculadora de mão atual. A cada segundo realizava 500 adições, 347 multiplicações ou 38 divisões. Também exigia uma continua presença humana. Entre os cérebros envolvidos no desenvolvimento e programação da máquina contaram-se seis mulheres. Uma presença no feminino omitida pela imprensa da época. O ENIAC funcionou dez anos, reformou-se a 2 de outubro de 1955. Hoje, os seus componentes repousam em várias instituições museológicas dos Estados Unidos..Sobre o ENIAC conta-se uma história: o calor produzido pelos milhares de válvulas que operavam naquela tecnologia atraíam uma multidão de insetos. Um enxame alado que criava curto-circuitos nas placas do computador. Uma irritante presença entomológica no quotidiano dos cientistas da computação. Amiúde, a equipa que operava a máquina via-se na obrigação de a libertar das inoportunas visitas. Afirmava-se, então, que o “Grande Cérebro” sofrera de um bug (“inseto” na tradução da língua inglesa para a portuguesa). Hoje, renovamos a cada dia a expressão bug numa alusão a erros ou falha na execução de um programa. Como muitas outras palavras, a origem deste bug é incerta e assenta em histórias apócrifas, algumas com um século e meio e intimamente ligadas a deficiências de funcionamento de equipamentos da engenharia mecânica..Uma destas histórias entronca no trabalho do norte-americano Thomas Edison, o “Feiticeiro de Menlo Park”, como era conhecido, inventor da lâmpada elétrica iridescente e do microfone. Em 1878, Edison trabalhava no seu fonógrafo quando um inoportuno inseto causou problemas de leitura no engenho apto a gravar e a reproduzir sons. A 13 de novembro, Edison endereçou uma carta ao seu amigo Tivadar Puskás, húngaro, pioneiro do telefone, inventor da central telefónica e criador de um jornal telefónico, singular forma de emissão de notícias nacionais e internacionais. Na missiva, Edison lamentava a intromissão do inseto (bug) na máquina..Entre as narrativas que apontam à origem do termo bug, ganha consistência aquela que nos leva a uma norte-americana nascida em 1906, doutorada em Matemática, almirante da Marinha americana, analista de sistemas naquela instituição e um dos cérebros nos bastidores das primeiras linguagens informáticas. Grace Hopper, falecida em 1992, não se contentou com uma carreira académica como professora na Faculdade de Vassar, no estado de Nova Iorque; também quis participar de forma ativa na democratização da linguagem de programação. Na década de 1940, envolveu-se na programação do primeiro computador, o Mark I de Harvard, um peso-pesado de cinco toneladas e também a primeira calculadora automática produzida em larga escala nos EUA a partir de 1944. Grace viria a desenvolver a primeira linguagem de programação semelhante ao inglês. Corria o ano de 1949 e a instituição que possibilitou a Hopper libertar o seu génio chamava pelo nome de Eckert-Mauchly Computer Corporation. A Flow Matic, assim batizada a linguagem desenvolvida pela programadora, serviria de base a uma das mais influentes linguagens de programação, o COBOL (acrónimo de Common Business Oriented Language), amplamente usada nas décadas seguintes..No trabalho de Grace Hopper também se intrometeria um inseto em 1947. Uma mariposa repousa para a posteridade nas páginas de um diário de investigação à guarda atual do Museu Nacional de História Americana, em Washington D.C. Junto à borboleta noturna foram rascunhadas algumas palavras: “Primeira prova de um inseto aqui encontrado.” A mariposa fora retirada das entranhas mecânicas do computador Mark II. As palavras foram lavradas pelo punho de Hopper..Sobre as seis mulheres anónimas cuidadoras do ENIAC, a década de 1980 traria luz às suas identidades. Kathy Kleiman, estudante de Ciências da Computação em Harvard, deteve-se certo dia sobre uma foto dos anos de 1940. Ali, um grupo de mulheres operava um colosso da tecnologia da época. Nenhuma contava com o nome na legenda. A história faria, naqueles anos de 1980, justiça aos computadores humanos de Harvard. Kay McNulty, Betty Jennings, Betty Snyder, Marlyn Wescoff, Fran Bilas e Ruth Lichterman passaram a ter um nome na história da ciência.