Guerra e refugiados dominam mensagens dos católicos no Natal
Em Roma, tal como em Lisboa, no Porto ou em Jerusalém, as mensagens de Natal católicas deste ano ficaram marcadas pelas mesmas ideias: a condenação do terrorismo e a defesa dos refugiados. Na sua mensagem de Natal Urbi et Orbi (À Cidade e ao Mundo), dirigida da varanda central da Basílica de São Pedro, em Roma, o chefe da Igreja Católica dirigiu-se ontem diretamente aos jihadistas islâmicos, condenando as "atrocidades" e os "massacres" que têm realizado e também a consequente "destruição do património cultural de povos inteiros".
O Papa Francisco lembrou os "atrozes atos terroristas" cometidos recentemente em Paris, Beirute, Bamako, Tunes e no Egito e voltou a pedir o esforço da comunidade internacional para acabar com a violência em África e no Médio Oriente. Em Portugal os líderes da Igreja Católica também tiveram mensagens de solidariedade, sobretudo face aos milhares de refugiados que fogem da guerra na Síria. O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente (ver texto ao lado), e o bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, lembraram a importância do apoio aos refugiados. Também o Papa Francisco prestou homenagem às pessoas e aos Estados que socorrem e acolhem migrantes.
O bispo do Porto elogiou, na sua mensagem de Natal, o acolhimento de refugiados na diocese e apelou à construção de uma "humanidade comum" sem guerra. "Somos chamados a construir com eles um mundo melhor e uma humanidade comum onde não haja violência, nem guerra, nem perseguição e onde a Europa cristã possa ser casa, abrigo de todos os que não têm pátria, e refúgio seguro para todos os que sonham com a liberdade e procuram a paz", defendeu D. António Francisco dos Santos.
Também o patriarca latino de Jerusalém - zona onde se vive nova escalada na tensão entre Israel e Palestina - , Fuad Twal, dedicou a missa de Natal deste ano às vítimas do "terrorismo, esta ideologia mortífera, fundada no fanatismo e na intransigência religiosa que estende o terror e a barbárie entre os inocentes".
O conflito israelo-palestiniano foi aliás um dos focos da mensagem de Natal do Papa Francisco. "Precisamente onde o filho de Deus veio ao mundo, mantêm-se as tensões e as violências, e a paz continua como um dom que se deve pedir e construir."
O Papa expressou ainda o desejo de que "o acordo alcançado no seio das Nações Unidas consiga, quanto antes, silenciar as armas na Síria e remediar a gravíssima situação humanitária de uma população extenuada".
Pelo "fim das atrocidades"
O líder da Igreja Católica apelou novamente à comunidade internacional para que "dirija a sua atenção de maneira unânime" para o fim "das atrocidades" no Iraque, no Iémen e na África Subsariana, pedindo a paz na República Democrática do Congo, no Burundi e no Sudão do Sul. Implorou "consolo e força" para todos os que são "perseguidos por causa da sua fé em distintas partes do mundo", e que são os "atuais mártires".
Francisco instou a que "a verdadeira paz chegue também à Ucrânia, que ofereça alívio a quem padece as consequências do conflito e inspire a vontade de levar até ao fim os acordos assumidos, para restabelecer a concórdia em todo o país". O Papa pediu igualmente a paz para o povo colombiano e afirmou que, "onde nasce Deus, nasce a esperança e, onde nasce a esperança, as pessoas encontram a dignidade".
Contudo, "ainda há muitos homens e mulheres privados da sua dignidade humana", ressalvou, recordando os meninos-soldados, as mulheres violentadas, as vítimas do tráfico de seres humanos e do narcotráfico, os refugiados e os desempregados. Na homilia da noite anterior, Francisco tinha condenado o luxo e o consumismo.