Rute Agulhas aponta "papel pioneiro" da Igreja no combate aos abusos sexuais
A psicóloga Rute Agulhas, que lidera o novo grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto eclesiástico, sublinhou esta quarta-feira o "papel pioneiro" da Igreja no combate a esta realidade.
Em declarações na apresentação do denominado Grupo VITA, a coordenadora desta nova estrutura proposta pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assumiu a sua surpresa pelo convite para liderar o grupo de trabalho de acompanhamento das vítimas, mas também o "imenso entusiasmo" pelo trabalho que tem pela frente e as "expectativas muito elevadas".
"A violência sexual é um problema de saúde pública, pela sua elevada prevalência e pelo impacto no curto, médio e longo prazo. É um fenómeno transversal, com maior prevalência intrafamiliar. A Igreja é um contexto, como outros. A igreja assume aqui um papel pioneiro", assegurou.
Sublinhando a constituição do grupo por leigos e o funcionamento "isento e autónomo" em relação à Igreja, Rute Agulhas adiantou que o primeiro relatório do trabalho desta nova estrutura será conhecido em dezembro deste ano.
A coordenadora explicou que um dos aspetos prioritários do trabalho do Grupo VITA, além do acompanhamento das vítimas, vai incidir na prevenção de novas situações de abuso e na recuperação de agressores.
"Acreditamos na reparação e na possibilidade de mudança", salientou a psicóloga, apelando à confiança nos membros desta nova estrutura: "Tudo faremos para concretizar aquilo a que nos propomos".
Por outro lado, Rute Agulhas demarcou-se da ideia lançada pelo psiquiatra Daniel Sampaio, membro da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica que, após a apresentação do relatório sobre o fenómeno, propôs a criação de uma via prioritária no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para responder a estas vítimas.
"Não é uma crítica, é um olhar diferente sobre quais podem ser as soluções para este problema. Criar canais prioritários quando já tem havido dificuldades do SNS é deixar pessoas para trás que também podem ter sido vítimas. Não concordamos com essa perspetiva. Entendemos que essa não é a verdadeira solução e que há caminhos mais justos", frisou.
O contacto com o Grupo VITA poderá ser efetuado por via telefónica através do número 915090000 (disponível a partir de 22 de maio, de segunda a sexta-feira entre as 09:00 e as 18:00) e por email: geral@grupovita.pt.
Além de Rute Agulhas (especialista em Psicologia Clínica e da Saúde com especialidades avançadas em Psicoterapia e Psicologia da Justiça), o Grupo VITA será constituído por Alexandra Anciães (psicóloga, experiência de avaliação e intervenção com vítimas adultas), Joana Alexandre (psicóloga, docente universitária e investigadora na área da prevenção primária dos abusos sexuais), Jorge Neo Costa (assistente social, intervenção com crianças e jovens em perigo), Márcia Mota (psiquiatra, especialista em Sexologia Clínica e intervenção com vítimas e agressores sexuais) e Ricardo Barroso (psicólogo, docente universitário e especialista em intervenção com agressores sexuais).
Haverá ainda um grupo consultivo, com a participação do padre João Vergamota (especialista em Direito Canónico), Helena Carvalho (docente universitária especialista em análise estatística) e o advogado David Ramalho.
A criação do Grupo VITA surge na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que, ao longo de quase um ano, validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) destacou, por sua vez, a "capacidade operacional" do novo grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis.
José Ornelas lembrou o trabalho prévio da Comissão Independente no estudo desta realidade e explicou que o Grupo VITA surge como consequência do estudo feito pela comissão coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, mas marca também "uma nova fase" para a Igreja na abordagem ao tema dos abusos sexuais em contexto eclesiástico.
"É um grupo virado para ter uma vertente operativa da Igreja, por isso precisa de ter uma face de acolhimento bem autónoma e definida perante as vitimas e a sociedade, mas, ao mesmo tempo, articular para dentro da Igreja de forma eficiente, seja nos aspetos das vítimas, seja no aspeto da prevenção", observou o presidente da CEP.
José Ornelas agradeceu a disponibilidade dos membros da nova estrutura para colaborar com a Igreja Católica portuguesa nesta questão e referiu que o Grupo VITA vai trabalhar em articulação com a coordenação das equipas das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis.
"É uma fase nova em que entramos. Com a primeira fase da Comissão ficou clara a nossa determinação de não fechar os olhos perante esta realidade, de conhecê-la o melhor possível e de termos aquilo que o Papa chama de tolerância zero", disse, acrescentando: "Temos já uma base sólida nas comissões diocesanas e penso que este grupo vai dotar-nos de uma competência e capacidade operacional que nos faz falta neste campo".
Para o presidente da CEP e bispo de Leiria-Fátima, a constituição deste grupo de trabalho é algo que a Igreja sentiu ser necessário organizar, envolvendo pessoas externas à instituição "com a necessária competência" para abordar o tema dos abusos sexuais. O objetivo, alegou José Ornelas, é "criar competências" com vista à prevenção e ao tratamento deste fenómeno.
"Este grupo tem todo o apoio. É uma iniciativa da CEP e da Igreja no seu conjunto, que quer fazer um caminho", concluiu José Ornelas, que abandonou a conferência de imprensa a seguir à sua intervenção de abertura.
Além de Rute Agulhas (especialista em Psicologia Clínica e da Saúde com especialidades avançadas em Psicoterapia e Psicologia da Justiça), o Grupo VITA será constituído por Alexandra Anciães (psicóloga, experiência de avaliação e intervenção com vítimas adultas), Joana Alexandre (psicóloga, docente universitária e investigadora na área da prevenção primária dos abusos sexuais), Jorge Neo Costa (assistente social, intervenção com crianças e jovens em perigo), Márcia Mota (psiquiatra, especialista em Sexologia Clínica e intervenção com vítimas e agressores sexuais) e Ricardo Barroso (psicólogo, docente universitário e especialista em intervenção com agressores sexuais).
Haverá ainda um grupo consultivo, com a participação do padre João Vergamota (especialista em Direito Canónico), Helena Carvalho (docente universitária especialista em análise estatística) e o advogado David Ramalho.
A criação do Grupo VITA surge na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que, ao longo de quase um ano, validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.
Como consequência, algumas dioceses decidiram afastar cautelarmente do ministério alguns padres, enquanto decorrem os respetivos processos.