A população com 60 ou mais anos vai começar a ser vacinada contra a gripe e covid-19 a partir de 20 de setembro, mais cedo do que no ano passado, e também durante mais tempo, já que esta época irá prolongar-se até março de 2025, podendo assim, quem completar 60 anos neste período ou quem, por alguma razão, vier a integrar algum dos grupos de risco, ser vacinado também..Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), a população elegível para a vacinação é de cerca de dois milhões de pessoas - desde profissionais de saúde ou cuidadores aos doentes crónicos, residentes em lares, internados em hospitais ou em cuidados continuados, em reabilitação ou pessoas com 60 ou mais anos..Por esta razão, o Estado já adquiriu 2,1 milhões de vacinas contra a covid-19 para Portugal Continental e Regiões Autónomas e 2,5 milhões contra a gripe para o continente, sendo que a estas se juntam mais 360 mil vacinas de dose elevada que se destinam à população residente em lares e em internamento em unidades de cuidados continuados e, pela primeira vez, também a todos os idosos com 85 e mais anos, que em 2023 apenas puderam receber gratuitamente a vacina padrão da gripe..Aliás, o alargamento desta vacina de dose elevada a esta faixa etária de idosos é a novidade da campanha de vacinação desta época de 2024-2025 e "uma da sgrandes vantagens" para o pneumologista e ex-coordenador do Gabinete de Crise contra a Covid-19 da Ordem dos Médicos, Filipe Froes..Isto porque, explicou o médico ao DN, “as vacinas de dose elevada destinam-se especificamente a pessoas que têm maior incapacidade de desencadear uma resposta imunológica”, o que acontece devido ao “fenómeno do envelhecimento". E "a dose elevada integra quatro vezes a dose de antigénio de uma da vacina padrão da gripe”. Ou seja, “se a dose padrão tem 15 microgramas de cada antigénio, a dose elevada tem quatro vezes mais de cada antigénio, o que permitirá uma resposta imunológica mais forte contra o vírus, compensando o envelhecimento do nosso sistema imunitário”.. O médico destaca que “foi precisamente para reforçar esta resposta que as entidades de saúde portuguesas, com a concordância do Governo, resolveram este ano incluir nesta campanha as pessoas com 85 ou mais anos, dando-lhes a vacina gratuitamente”. .Dose elevada reduz mortes cerca de 40% e só é dada nos centros de saúde.Filipe Froes lembra que noutros países, nomeadamente nos Estados Unidos da América, esta vacina de dose elevada “já é administrada a partir dos 65 anos” para combater a redução de resposta imunitária devido ao envelhecimento. “Pode não ser totalmente necessário, mas mal não faz, porque à medida que vamos envelhecendo, o sistema imunitário precisa de mais estimulação energética”, que é aquilo que “esta vacina nos vem dar”..Segundo sustenta o médico, estudos realizados na Dinamarca já demonstraram que esta vacina reduz o risco de mortalidade em cerca de 49%, no decurso da infeção gripal, e em cerca de 69% a necessidade de internamento. Isto significa que se, em Portugal, vacinarmos toda a população com mais de 85 anos, partindo do princípio que esta integra mais de 360 mil habitantes, em teoria, estaremos a prevenir milhares de mortes e cerca de 5500 hospitalizações. Esta é a grande vantagem”..Argumentando ainda: "Neste momento, temos dados que demonstram que, em Portugal, nas épocas de 2008 a 2018, houve um excesso de mortalidade médio de 2300 óbitos devido à gripe, e com um pico de mortalidade em 2014-2015. O aumento da atividade gripal traduz-se num aumento substancial e significativo de internamentos e de mortes, mesmo por outras doenças que ficam descompensadas. E a dose elevada irá dar maior proteção". .Na resposta ao DN, a DGS justifica também que a administração da dose elevada a todas as pessoas com 85 ou mais anos se deve ao facto de esta poder “conferir uma maior proteção para a população considerada mais vulnerável, diminuindo o risco de hospitalizações”. Mas esta vacina só será administrada nas unidades de saúde, não podendo estes utentes escolher ser vacinados nas farmácias comunitárias, como acontece com todos os outros utentes dos 60 aos 84 anos que não estejam internados ou em lares. . Mas o modelo de agendamento para a vacinação nesta época será idêntico ao do ano passado, devendo a população elegível começar a receber nos próximos dias um SMS de convocatória e, mais tarde, um SMS recordatório. .A DGS explica: “Nas Unidades de Saúde do SNS será realizado o agendamento local por parte dos profissionais de saúde dos CSP através do software SClinico, com envio de SMS convocatória e possibilidade de reforço através de contacto telefónico”. No caso de o utente querer ser vacinado nas “Farmácias Comunitárias” o agendamento poderá ser presencialmente ao balcão ou numa plataforma online que será disponibilizada, tal como aconteceu no ano passado..O DN questionou também a DGS sobre os utentes que não reúnem critérios de elegibilidade para a vacinação gratuita, mas que querem ser vacinados, nomeadamente até porque lidam com pessoas que integram grupos de risco. E neste caso autoridade de saúde esclarece que a vacina só será adminisrada se estes “apresentarem prescrição médica”. .Em relação ao grupo das crianças e jovens, a DGS relembra que “de acordo com a Norma n.º 07/2024 de 04/09/2024, a vacinação é recomendada aos residentes ou internados por períodos prolongados em instituições prestadoras de cuidados de saúde (como deficientes ou utentes de centros de reabilitação), desde que tenham idade superior a 6 meses”, devendo outras situações que não estão previstas nas normas da DGS “ser avaliadas caso a caso pelo médico assistente do utente”. .Para Filipe Froes esta campanha traz outra novidade: “A antecipação da vacinação e o seu prolongamento, que permitirá abranger os períodos previsíveis de maior atividade destes vírus.” Argumentando: “No ano passado, o pico da atividade gripal ocorreu na semana 52, por volta do dia 28 de dezembro, que foi depois precedida por um aumento da atividade da covid-19. Se começarmos a vacinar agora estaremos a proteger a população para um aumento da atividade covid previsível para os próximos meses e um pico da atividade gripal mais previsível para o final do ano.” .O especialista recomenda “totalmente a vacinação” contra gripe e contra a covid-19 para os grupos elegíveis, dizendo mesmo que “só por ignorância e desconhecimento é que as pessoas não se irão proteger”. Em relação à covid-19 diz mesmo: “É preciso perceber que, pelo menos, todos os anos, e há quem diga que se calhar mais do que uma vez no ano, temos que nos vacinar contra a covid, porque a doença está associada a muitas causas de descompensação, a muitas causas de internamento e ainda a um número significativo de óbitos e não faz sentido as pessoas correrem risco de vida quando têm uma vacina que previne todas essas circunstâncias”.