Governo perante a crise petrolífera

Ontem, à noite, o dr. Manuel Cotta Dias, ilustre ministro das Finanças e da Economia, falou ao país sobre “alguns aspetos da atualidade económica e financeira”. Assim arrancava a manchete do DN sobre as consequências da crise motivada pelo choque petrolífero provocado pela posição dos países produtores de petróleo, na sequência da Guerra do Yom Kippur, entre os países árabes e Israel.

“Uma crise que não chegaria a declarar-se se não fosse o receio que dela se tem”, argumenta o ministro Cotta Dias. O governante garante que o Executivo, presidido pelo chefe de Governo, Marcello Caetano, vai bater-se por que os sacrifícios pedidos vão permanecer moderados e desejar que essas medidas sejam aceites pacificamente pela população.

O Diário de Notícias revelava, aos seus leitores, que “foi um homem tranquilo, com uma linguagem serena e clara, que os portugueses surpreenderam neste momento difícil, na presença e nas palavras do responsável pelos setores que mais diretamente afetam a vida de cada um. O espantalhos da crise inoculados na opinião pública, foi bem identificado e esconjurado pelas lúcidas considerações do ministro Cotta Dias que, não escondendo as dificuldades que nós, como todos os outros, temos de enfrentar, reduziu os problemas às suas reais proporções, apontando simultaneamente os motivos da nossa esperança e confiança no futuro. Disse o ministro na sua importante exposição.”

O embargo petrolífero da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo teve início em outubro de 1973. Deu origem ao primeiro choque petrolífero que ajudou a destruir o modelo económico saído do pós-guerra.

A medida foi uma resposta ao envolvimento dos Estados Unidos da América na Guerra do Yom Kippur, entre os países árabes e Israel. 

O choque levou a uma triplicação do preço do barril de petróleo, passou de três dólares para 12 dólares. O aumento do preço de energia teve impactos até no sistema financeiro. Este estava pressionado com o colapso do Sistema de Bretton Woods e o fim do padrão ouro. A crise económica e financeira que se seguiu fez com que o mundo desenvolvido começasse a sofrer de estagflação, inflação mais recessão.