Pelas ruas de Lisboa é raro ver mulheres estrangeiras dos países asiáticos. São sobretudo os homens a chegar ao nosso país e, mais tarde, pedem o reagrupamento familiar. Foi o caso de Mohammad Rubel, que se casou no Bangladesh, o seu país de origem, mas só vários meses depois conseguiu que a mulher, Thamina Akter, se juntasse a ele, em Portugal. "A minha mulher ficou lá e só pôde vir mais tarde, foi um processo demorado", revela o homem..O reagrupamento familiar, previsto na Carta Universal dos Direitos Humanos, tem sido um problema difícil de ultrapassar em Portugal. Segundo a Associação Renovar a Mouraria, durante todo este ano "houve uma ausência de vagas para o processamento de pedidos de reagrupamento familiar, seja para famílias que já se encontravam em território nacional e que, por sua vez, ficaram privadas de fazer valer a sua cidadania em Portugal; quer aqueles que, ainda no país de origem, esperaram interminavelmente para se juntar ao seu núcleo familiar, por cá", explica Filipa Bolotinha, presidente desta associação, que tem um Centro Local de Apoio ao Imigrante (Claim) naquela zona da cidade..Timóteo Macedo, da Associação Solidariedade Imigrante, denuncia: "Este Governo fechou o reagrupamento familiar há dois anos". O SEF acabou e essa competência passou para uma nova entidade, a Agência para a Integração de Migrações e Asilo (AIMA). O dirigente da Solidariedade Imigrante já teve uma reunião com a AIMA e saiu de lá com um compromisso: "Prometeram-nos que para o fim deste ano, início do próximo, irão abrir os agendamentos de reagrupamento familiar, dizem que estão a dar prioridade a esses pedidos". Timóteo Macedo chama a atenção para a importância do reagrupamento familiar. "A família é fundamental para a integração das pessoas. Há quem pense que os imigrantes são invasores. Não são. São pessoas que vêm para Portugal trabalhar e ajudam no crescimento da economia"..Já em Portugal, muitos estrangeiros debatem-se para conseguirem emprego na sua área. "A maioria das pessoas que acompanhamos têm formação superior, mas devido à morosidade nos pedidos de equivalência e aos custos associados, muitos acabam por não ver os seus títulos reconhecidos", avança Filipa Bolotinha. "Nessa medida as ofertas de trabalho a que têm acesso são, na esmagadora maioria, pouco qualificadas." É precisamente o caso de Mohammad Rubel, licenciado no Bangladesh, cozinheiro em Portugal..O desconhecimento da língua portuguesa é outro entrave para os imigrantes. O acesso à saúde, por exemplo, fica condicionado. "O Claim Mouraria fez acompanhamentos de imigrantes a centros de saúde e hospitais e prestou esclarecimentos sobre o funcionamento do sistema", diz Filipa Bolotinha. O Claim Mouraria organizou cursos de Português para estrangeiros e encaminhou alguns imigrantes para cursos em escolas secundárias. Além da saúde há dificuldades no acesso aos serviços da Autoridade Tributária. "A língua é um fator de inacessibilidade e existe uma grande dificuldade na obtenção de vagas para atendimento nos serviços das finanças"..isabel.laranjo@dn.pt