A Angio TC requer profissionais treinados para realizar o exame.
A Angio TC requer profissionais treinados para realizar o exame.David Tiago / Global Imagens

Ferramenta de IA quer simplificar o diagnóstico de doença coronária

Jennifer Mancio recebe esta terça-feira, no Auditório do Hospital CUF Porto, uma bolsa no valor de 100 mil euros para desenvolver um projeto que ajuda a despistar a algumas doenças do coração.
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A investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Jennifer Mancio, vai receber hoje um prémio no valor de 100 mil euros, entregue pela CUF e pela Fundação Amélia de Mello, que permitirá desenvolver um projeto que, através da inteligência artificial, despista em segundos a presença de doença coronária, de forma segura e com benefícios para o sistema de saúde. A cerimónia de atribuição da bolsa acontece às 11:00, no Auditório do Hospital CUF Porto.

O projeto de investigação SAFE-CT: exclusão de doença coronária utilizando inteligência artificial na Tomografia Computadorizada sem contraste permitirá, através de um modelo de inteligência artificial, detetar a presença de doença coronária com baixa radiação e sem contraste.

Atualmente, em caso de suspeita de doença coronária, é recomendada a realização de uma angiografia coronária por tomografia computadorizada (Angio TC) e que implica a administração de contraste iodado e dose acrescida de radiação ionizante. Além disso, é um exame que só pode ser realizado por profissionais treinados e acreditados, ao contrário do projeto de Jennifer Mancio. “Trata-se de uma aplicação segura e de baixo custo, simples e que pode ser usada por técnicos de radiologia. Não precisa de médicos treinados para ler o resultado. Esta aplicação vai gerar um número, uma probabilidade de ter a doença e pode ser aplicável em todos os hospitais que tenham um aparelho de TAC”, explica a investigadora em entrevista ao DN.

O processo de obtenção de um Angio TC inclui a aquisição inicial de uma imagem sem contraste e depois o doente recebe o contraste que vai gerar o Angio TC que depois é avaliado por um médico. “Nós já temos dados preliminares que provam que nessa imagem sem contraste há informação que pode ser extraída por técnicas de inteligência artificial, que depois serve para identificar aqueles que não têm doença”. Com dados de todos os pacientes que realizaram o Angio TC no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia desde 2006, os investigadores vão utilizar a informação extraída destes exames para treinar os modelos de inteligência artificial a identificar doentes com patologia coronária.

A bolsa CUF D. Manuel de Mello é uma bolsa bienal que começou a ser entregue em 2007, pela Fundação Amélia de Mello e pela CUF, que pretende premiar jovens médicos, doutorados e afiliados de investigação de faculdades de Medicina portuguesas, através do financiamento dos seus projetos. Esta bolsa já distinguiu projetos de investigação dedicados a doenças como Lúpus, Alzheimer, Esquizofrenia e Tuberculose.

Objetivo é diminuir pressão no sistema de saúde

Jennifer Mancio é médica cardiologista na área da imagem cardiovascular e trabalha num hospital em Londres, onde também está a desenvolver este projeto. 
Com este trabalho, a investigadora pretende que seja uma forma de diminuir a pressão dos serviços de saúde. “Queremos que os hospitais que não tenham o serviço de Angio TC, que implica o uso de contraste e pessoal treinado, tanto do ponto de vista dos técnicos que adquirem a imagem, quanto dos médicos que relatam o exame, não levem os doentes a recorrer a um hospital terciário para fazer este exame”, afirma Jennifer Mancio. Segundo a investigadora, esta ferramenta de inteligência artificial permitirá identificar aqueles que não têm doença coronária e que estes possam ser rapidamente descartados.

“Acreditamos que conseguimos reduzir em um terço as Angio TC necessários e, deste modo, protegemos os doentes da exposição à radiação e ao contraste, e poupamos dinheiro para o sistema nacional de saúde”, diz.

Sobre receber a bolsa da CUF e da Fundação Amélia de Mello, Jennifer Mancio diz que foi um sentimento de certeza de que este projeto é um bom investimento.

“Este projeto deixou apenas de ser uma crença minha. Ao ler, outras pessoas perceberam que é um bom investimento”.

Este ano, além de Jennifer Mancio, o júri da bolsa atribuiu uma Menção Honrosa ao projeto de João Lobo, investigador no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e médico de Anatomia Patológica no IPO do Porto, que pretende investigar novos biomarcadores em tumores testiculares. Esta é a primeira vez que o júri atribui uma Menção Honrosa por entender que os trabalhos científicos apresentados nesta edição são representativos “da nova geração de conhecimento, com qualidade e potencial para desenvolver novas linhas de investigação médica”.

sara.a.santos@dn.pt

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