É uma rede social para velhos”; “Já ninguém usa isso”; “Eles andam a perder imensos utilizadores em todo o mundo”. Estes são alguns exemplos de comentários ouvidos por quem trabalha diariamente com redes sociais acerca da maior plataforma do género a nível mundial que hoje, domingo, 4 de fevereiro de 2024, faz 20 anos. E, de facto, longe vai a fase de crescimento acelerado que fez com que atingisse o marco dos mil milhões de utilizadores ativos em pouco mais de cinco anos, e muita gente tem desistido de usar a plataforma. Contudo, o panorama geral é bem mais rico (literalmente) do que muitas vezes se conta, agora que a plataforma está diferente - há isso está! Mas já lá vamos..A ideia de que há muita gente a abandonar o Facebook não nasce, apesar de tudo, no vácuo. Pelo contrário - e Portugal está até na linha da frente desse fenómeno. O mais recente estudo - Os Portugueses e as Redes Sociais - de 2023, da empresa de audimetria e estudos de mercado Marktest, dão conta que, em setembro do ano passado, esta rede social liderava o ranking das desistências, com quase um quarto dos inquiridos (24,7%) a dizerem que tinham deixado de a usar nos últimos 12 meses (ver gráfico). Nota curiosa: a “rede da moda”, o TikTok, surge neste estudo logo atrás, com 22,8%..Este Bareme Internet, enviado ao DN, sondou 801 pessoas (392 homens e 409 mulheres), entre os 15 e os 64 anos, residentes em Portugal continental e cujo universo é estimado em 5 milhões e 441 mil indivíduos..O próprio Facebook assume uma queda no nosso país: de 9,3 milhões de utilizadores, em agosto de 2023, para 8,6 milhões em dezembro do mesmo ano, segundo o statista.com..O que, no entanto, não quer dizer que a empresa-mãe, a Meta, sofra muito com isso: o Instagram, a sua outra grande rede social tem vindo a crescer progressivamente - dados do referido Bareme da Marktest, de 67,9% dos portugueses que a usaram em 2019 para 80,5% em 2023, de ano para ano foi sempre a subir..Neste mesmo panorama, o Facebook manteve-se relativamente estável entre 2020 e 2022, tendo só agora registado a referida queda - afinal, num país de 10 milhões de habitantes, após o “pico” de 9,3 milhões em agosto não haveria muito mais para onde subir....O mundo ainda não chega.E se a realidade portuguesa continua a não ser tão má quanto isso para a primeira criação de Mark Zuckerberg, os números mundiais traçam um retrato a cores ainda mais garridas..De acordo com o site especializado statista.com, o Facebook fechou o 3.º trimestre do ano passado (setembro de 2023) com 3,05 mil milhões de utilizadores ativos, bem acima dos 2,8 mil milhões um ano antes..Nos Estados Unidos é que a tendência, de facto, tem sido decrescente - de 280 milhões em 2022 para 243 no ano passado (statista.com) -, daí as várias notícias de que a plataforma está com “hemorragia” de utilizadores. No entanto, em praticamente todas as outras regiões, os números são positivos..Mesmo na Europa Ocidental, segundo a fonte mencionada acima, subiu de 303 para 307 milhões. Houve flutuações trimestrais (que chegaram a ser de um milhão de pessoas), mas também se pode argumentar que tal se deverá a alguma saturação de público e a mudanças de hábitos..Ou, tal como a revista The Economist escreve esta semana, estamos perante o “fim da rede social”..Adeus Facebook, olá... Facebook!.Certo é que nem esta, nem qualquer outra rede social é hoje aquilo que era há, por exemplo, cinco anos. Por natureza, estas plataformas mudam, adaptam-se, consoante o comportamento dos seus utilizadores. Afinal, todos os seus conteúdos são aquilo que que quem as usa nelas publica - mesmo quando estes são produzidos por outros..Como já terá reparado qualquer utilizador mais atento, os conteúdos partilhados são cada vez menos experiências pessoais de amigos - tendendo estes a preferir os serviços de mensagens como o WhatsApp -, dando lugar a partilhas de produtores profissionais (publishers) ou semi (influencers), ou para influência política ou apenas divertidos (memes, simples comentários...)..Claro que o Facebook já deu por isso, e há muito. Tanto que alterou os seus algoritmos de distribuição nesse sentido, aumentou as sugestões de grupos de interesses próximos daqueles que o utilizador segue - em detrimento de procurar pessoas individuais que o próprio possa conhecer - e mais facilmente apresenta conteúdos de anónimos que venham ao encontro dos interesses demonstrados do que partilhas de “amigos”..Daí que, tal como a The Economist aponta esta semana, estejamos a presenciar o fim da “rede social” - aquela entre pessoas individuais mais ou menos conhecidas a partilhar experiências - , passando para um modelo de plataforma em que as pessoas que queiram conversar se fecham em grupos privados enquanto “cá fora” indivíduos publicam vídeos de façanhas para se mostrar..Mas se é (mais ou menos) assim, é porque queremos que assim seja. Os hábitos de quem navega online estão permanentemente a mudar, é assim desde que há internet. O êxito de uma empresa desta área mede-se, também, pela sua capacidade de os acompanhar. No caso da Meta, pelo menos por enquanto, os números parecem continuar a dar-lhe razão: a empresa fechou o ano passado com um lucro líquido de 39 mil milhões de dólares (36,1 mil milhões de euros). Produtos como Instagram e WhatsApp contribuíram para este resultado, mas o Facebook continua a ser um gigante que, também por se ir adaptando, não tem rival.