Extremismos, imigração e o otimismo dos CEO: o primeiro painel da Grande Conferência dos 160 anos do DN
Os "movimentos de extremismos com forte polarização política em Portugal" representam um "campo de pressão sobre o estado de direito". A conclusão é de Adélio Neiva da Cruz, diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS), deixada no painel "Que certezas num mundo de incertezas?", o primeiro da Grande Conferência dos 160 anos do DN, moderado por Filipe Alves, diretor do jornal.
Que extremismos são estes? "Tanto de esquerda como de direita" que têm "modus operandi diferentes". Por isso, o trabalho do SIS "ganha relevância" nesta área, destacou.
Apesar destes extremismos, continuam a existir "ameaças clássicas". "A Europa é um palco privilegiado para todas as questões e com espionagem internacional", reiterou.
A Europa, disse depois Ana Miguel dos Santos, "tem de apanhar um comboio que já vai muito adiantado", tendo em conta as consequência da guerra na Ucrânia. Ou seja, simplificou: os países europeus têm de "ser muito pragmáticos" e fazer face às consequências do "desinvestimento em Defesa e Segurança" -- pelo qual a Europa está a "pagar um preço alto".
Questionada sobre se o impacto de Donald Trump é uma oportunidade para a Europa, Ana Miguel dos Santos respondeu que a segurança "é algo que já faz parte do dia-a-dia". O mundo, disse, "está agitado", havendo "muitos poderes emergentes" e “a nova ordem internacional já existe e já está instalada”.
Sobre a guerra na Ucrânia, António Martins da Cruz, embaixador e ex-ministro, mostrou-se convicto de não será possível terminar o conflito em 24 horas como disse o presidente eleito, Donald Trump. "Provavelmente nem em 24 dias", "mas talvez em 24 semanas". Isto porque a "conjuntura está neste momento preparada internacionalmente para poder haver paz". Quais as soluções? "A primeira solução será congelar a situação, como se fez nos anos 50 com as Coreias, como se fez em 1974 com Chipre." No entanto, recorda, "a situação prolonga-se, quer num caso quer noutro". A segunda solução enunciada pelo antigo embaixador é "o chamado status quo ante, ou seja, a situação anterior ao conflito". O que leva à discussão prévia de que situação se está a falar, se de 2014 antes da anexação russa da Crimeia e da criação das chamadas repúblicas de Donetsk e de Lugansk, ou se de 2022, "antes do novo ataque ao território ucraniano". Por fim, a terceira solução, considerada a "mais realista" e aquela que "quase seguramente" vai ser seguida, será um cessar-fogo seguido de negociações.
Além disso, complementou depois Gonçalo Saraiva Matias, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), a Europa deve também olhar para aquilo que os Estados Unidos fizeram em termos de imigração, "tanto no bom, como no mau sentido". Essa "questão" surgiu primeiro na América do que na Europa, que hoje se confronta "com uma questão de imigração muito clara": o crescimento deste fenómeno.
"Até aqui há 10 / 15 anos", os europeus não se preocupavam com a imigração — tema que estava no "topo das preocupações" dos americanos. Portanto, "há um aumento muito grande de visibilidade e de importância da questão da imigração na Europa". "Tomou a dianteira das preocupações dos europeus", reiterou.
Para Gonçalo Saraiva Matias, a União Europeia tem "falhado na questão da integração", mais até do que os próprios Estados Unidos, que "apesar de tudo, têm um projeto social, que permite que a sociedade se desenvolva num sentido um pouco mais unitário do que o Estado". É, disse, "um país de imigrantes".
Recordando as palavras de Angela Merkel, ditas "há muitos anos", de que o multiculturalismo "falhou", o presidente da FFMS recordou que "há várias cidades alemãs", tal como "Paris ou Bruxelas", onde a "guetização se verifica", gerando "enormes tensões sociais". "Para esse problema, também não tenho resposta", porque "está de tal forma enraizado, é tão profundo e tão difícil", que "gerou uma hostilidade" nas "segundas, terceiras gerações de imigrantes", que já são cidadãos nacionais. "Uma coisa sei: esse problema ainda não o temos em Portugal", concluiu o presidente da FFMS.
Focando-se no impacto do contexto atual na economia e nas empresas, José Bizarro Duarte, partner da PwC (um dos parceiros da organização da conferência), foi mais positivista. Segundo o responsável, por cá, os gestores estão "mais otimistas" do que os congéneres estrangeiros. Porém, a cibersegurança "é uma preocupação relevante, a segunda que estes gestores a nível global percecionam", mas a principal é a volatilidade macroeconómica.
Sobre o tema do painel, José Bizarro Duarte considerou-o uma "equação razoavelmente impossível", devido à transformação que se vive no mundo. Passando em revista as alterações dos últimos cinco anos -- desde a pandemia às guerras que existem, ou até o défice de confiança nas lideranças --, o responsável sublinhou que "tudo isto vai gerando perturbação e falta de confiança” que se traduzem em “menos investimento e menos crescimento".