“Decidi vir para o exército porque sempre tive vocação para ser militar. Para mim é uma experiência em que tenho a ganhar, em termos de disciplina e para crescer, como homem”, afirma o recruta Guilherme Soares, 20 anos. Ao seu lado está Anita Costa, outra das instruendas do quinto Curso de Formação Geral Comum de Praças do Exército [recruta]. “Para mim, vir para o exército representa um desafio. O poder mostrar a mim própria que sou capaz”, afirma a jovem, natural de Fátima..O dia começa cedo no Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME), no quartel de São Lourenço, em Abrantes, onde os recrutas fazem, ainda, vários exercícios, apesar de estarem a poucos dias do juramento de bandeira. “Durante a manhã vão ter de montar e desmontar a espingarda automática. Depois, irão ter uma instrução de Ordem Unida [marchar, parar e formar] com o armamento”, avança o capitão Nuno Barreira, um dos instrutores deste curso. .Estes jovens fazem parte das largas centenas que se inscreveram no recrutamento do exército e foram apurados. “Neste momento eles estão em instrução básica, ou seja, estão a aprender a ser militares. No final da quinta semana fazem o juramento de bandeira e depois são encaminhados para a Instrução Complementar”..Neste curso os homens ainda estão em maioria: são 26 elementos masculinos e seis femininos, à semelhança do que acontece no geral. Este ano estão contabilizados, até setembro, 1698 candidatos na região de Lisboa, segundo dados estatísticos fornecidos pelo Gabinete de Classificação e Seleção da Amadora do Centro de Recrutamento do Exército de Lisboa. Destes, 82% foram rapazes e apenas 18% raparigas. .No total, após todas as provas de admissão, ficaram aptos 888 candidatos, distribuídos pelo curso de formação de oficiais (26), curso de formação de sargentos (146) e praças (716). .No Gabinete de Classificação e Seleção da Amadora “fazem todas as provas, desde físicas, médicas, psicológicas ou psicotécnicas”, avança o tenente-coronel Guerra Costa, que chefia este departamento. Numa das salas de espera estão candidatos ao curso de formação de sargentos. Mais tarde, encontramos outros candidatos a prestarem provas físicas. Mais uma vez, os homens estão em maioria. .A nível nacional, o número de candidaturas tem, segundo o tenente-general Boga Ribeiro, que lidera o Comando do Pessoal, vindo a aumentar: “O ano passado tivemos, para as diferentes categorias, à volta de 4500 candidaturas. Este ano já atingimos esse patamar e estamos, agora, em outubro”. Ainda muitos mais candidatos são esperados até ao final do ano já que, segundo este responsável, “o último trimestre é onde se registam mais candidaturas”..O tenente-general Boga Ribeiro analisa, ao detalhe, o que os jovens podem esperar ao candidatar-se a funções no exército. “Para compreender as oportunidades que o exército oferece aos cidadãos é necessário conhecer a sua abrangência funcional, o seu posicionamento geográfico, a sua aplicação operacional da organização, a sua ampla e reconhecida oferta formativa e os apoios que garante”, começa por explicar o tenente-general..Oportunidades não faltam dentro desta entidade pública. “O exército é uma organização que espelha, funcionalmente, a organização de um Estado onde, sendo o seu foco a defesa e a segurança, trabalha também em áreas como a administração pública, a justiça, o ensino e a formação, a cultura e o desporto, a economia e as finanças, a saúde e tantas outras. Daqui decorrem inúmeras oportunidades de realização pessoal e profissional”..Enquadrando a instituição militar, Boga Ribeiro prossegue: “O exército está próximo das populações que apoia, protege e defende e, por isso, tem uma implantação territorial de norte a sul do continente e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira. Por isso, oferece uma forte probabilidade de conciliar o trabalho com a aproximação à residência das pessoas e assim melhor contribuir para o seu bem estar”. .Ao mesmo tempo, o tenente-general dá conta do âmbito das ações do exército que “opera numa amplitude de situações e geografias, seja no apoio à comunidade, nas intervenções em situações de calamidade, no apoio à capacitação de organizações de defesa e segurança ou na resolução de situações conflituais complexas e intensas. E fá-lo desde a Colômbia até Timor-Leste, na dissuasão no Leste, na Roménia e na Eslováquia, na proteção das populações em África, na República Centro Africana, em Moçambique e em tantos outros países”. E realça: “Estas são oportunidades de crescimento pessoal, humano e profissional ímpares para qualquer pessoa”..Em termos de formação, o exército proporciona um vasto leque de ensino, que vai “desde o ensino básico ao superior universitário e formação técnico-profissional reconhecida e certificada”. Inclui-se, aqui, o Instituto dos Pupilos do Exército, Colégio Militar e Academia Militar, por exemplo. Boga Ribeiro acrescenta: “A sua oferta formativa é muito completa e gradual ao longo da permanência das pessoas no exército”.Finalmente, Boga Ribeiro refere: “O exército apoia as suas pessoas com uma compensação salarial compatível com as suas funções, agora recentemente valorizada, a par da facilitação de outras condições de alojamento, alimentação, de apoio social, médico e de regresso à vida civil”..Os candidatos ao exército deverão apresentar registo criminal sem incidências, ter mais de 18 anos e, no caso dos praças com o 9º ou 12º ano de escolaridade, até 24 anos. Esta idade pode ir até aos 27 anos, no caso dos licenciados, e até aos 30, para os licenciados em Medicina. Os licenciados poderão, naturalmente, concorrer aos cursos de formação de oficiais. Dentro da oferta do exército, como nos outros ramos das forças armadas, existe o Regime de Contrato e os Quadros Permanentes. Em 2024 abriu, pela primeira vez, o concurso para Quadros Permanentes de praças. .Boga Ribeiro congratula-se com a “recente criação do Quadro Permanente de praças que compreende uma formação técnico-profissional certificada e reconhecida e que congrega, igualmente, liderança de pequenos grupos e a execução de tarefas complexas, do ponto de vista técnico, que, no seu conjunto, também contribuem para o cumprimento das missões”..Para os cidadãos que queiram fazer carreira no exército, a admissão aos quadros permanentes é a mais ambicionada. O ingresso na Academia Militar é outro dos caminhos para atingir esta meta. “A Academia Militar é uma escola de liderança por excelência e que facilita uma formação inicial, superior, universitária, e, sobretudo, oferece um conjunto de ferramentas aos alunos que a frequentam que lhes permite compreender, aceitar, enfrentar e superar desafios, bem como inspirar outros a que possam também fazê-lo”. Na Academia Militar além dos cursos em Ciências Militares e diferentes cursos de Engenharia, são ainda oferecidos cursos de Medicina, Medicina Dentária, Medicina Veterinária e Ciências Farmacêuticas, em articulação com instituições de ensino superiores civis. .Outra porta de entrada nos quadros permanentes do exército é a Escola de Sargentos do Exército. “É igualmente uma escola de liderança dos sargentos do Quadro Permanente e que lhes permite e facilita uma formação de âmbito superior politécnico, que associa a uma capacidade de liderança um conhecimento técnico-profissional absolutamente essencial para o cumprimento das diferentes tarefas e missões do exército”..Para Boga Ribeiro “o quadro permanente é a coluna vertebral do exército, que é apoiada pelas ofertas que o exército proporciona aos cidadãos com regimes de vínculo contratual mais limitados, como é o caso do regime de voluntariado e de contrato, ou de contrato especial”. O tenente-general afiança que “o fundamental das ofertas que o exército facilita é uma abrangente oferta de áreas formativas. A par de um crescimento físico e intelectual, numa escola de valores que lhes facilita, aquando da sua saída, um conjunto de instrumentos que, seguramente, os fará cumprir melhor as suas tarefas como cidadão, aproveitando todo o ensinamento e experiência que colheram durante a sua prestação de serviço no exército”..Ainda assim, o responsável pelo Comando do Pessoal do Exército observa que são necessários outros atributos, além das condições iniciais de ingresso na instituição. “Julgo que é importante que as pessoas saibam que, ao escolherem ingressar no exército, escolhem uma vida de maior ou menor duração mas que lhes vai proporcionar um conjunto de possibilidades únicas, alicerçadas numa vida saudável. Num ambiente onde se privilegiam os valores, o trabalho em grupo e o espírito de equipa”..Boga Ribeiro nota também: “Esses valores e essas competências vão sendo cada vez mais solidificadas através de um processo de formação contínua, certificada, reconhecida, e num conjunto de situações muito diversificadas, muito abrangentes, quer seja em território nacional, ajudando as pessoas, seja fora do território nacional, procurando contribuir para a resolução de problemas complexos e, por isso, é uma vida muito preenchida e com um mundo de oportunidades e de situações que, seguramente, os fará crescer como cidadãos, como pessoas e como militares. Fará deles cidadãos melhores. Mesmo que a pessoa não queira ficar entre nós, seguramente que sairá dotado das melhores ferramentas para enfrentar, também, todas as situações que a vida lhes vier a colocar”..Nisso mesmo acreditam os recrutas Guilherme Soares e Anita Costa. “O que eu ambiciono, neste momento, é tirar o curso de sargentos dentro do exército para depois seguir para a GNR. Não foi fácil chegar até aqui. É preciso ser muito disciplinado e concentrado, ter foco naquilo que queremos”, confessa Guilherme Soares. “Sinto que tenho crescido, mesmo nestes primeiros tempos, porque, querendo ou não, aqui vamos formando uma família com os nossos camaradas”..Anita Costa concorda com Guilherme. “Mesmo estando longe da família não sinto assim tanto a falta, porque tenho os meus camaradas para me darem apoio. Aqui dentro é outro mundo”. A recruta assegura: “Foi desafiante chegar até aqui mas isto não é para super-homens, qualquer pessoa que tenha vontade e as mínimas condições, desde que queira, consegue”. Anita pretende, no futuro “tentar concorrer à GNR caso consiga entrar na Academia Militar, mais tarde”..As provas para admissão têm uma base comum mas depois são diferenciadas, conforme explica o tenente-general Boga Ribeiro. “Essa diferenciação acontece consoante o grau de exigência da função para que as pessoas são destinadas, seja em termos de categoria ou da sua função técnica”..No exército existe um acompanhamento permanente e personalizado a todos os candidatos. “Fundamentalmente, o que nós fazemos é, quando alguém quer ou demonstra uma vontade de aderir a um serviço militar, pomos uma pessoa diretamente em contacto com ela, no sentido de esclarecer tudo o que sejam as suas dúvidas. Acompanhamos essa pessoa através de um mentor que a aconselha sobre todas as matérias que tem de cumprir, até às provas de classificação e seleção”..Mais tarde, “o que fazemos é sempre um acompanhamento da pessoa, mesmo depois das provas de classificação e seleção, até chegar à unidade onde vai receber a sua formação inicial. Aí, também é acompanhada, não exclusivamente pelas equipas que fazem o recrutamento, mas por equipas de psicólogos para os ajudar a entender melhor as dúvidas que têm e a compreender a mudança que era a sua vida em relação à vida que lhes estamos a oferecer”, clarifica Boga Ribeiro. “Isto é uma matéria extremamente importante porque contribui muito para a resiliência e a capacidade de aceitar, enfrentar e superar os desafios que lhes são colocados”..Mais tarde, garante o tenente-general Boga Ribeiro, o acompanhamento continua. “Continuamos a acompanhá-los quando entram, através de órgãos exclusivamente dedicados à gestão das carreiras, que continuam a estar relacionadas com o comando que eu tenho o privilégio de chefiar. E mesmo quando as pessoas terminam o seu serviço, continuamos ligados a elas para as apoiar naquele que é o seu período de reserva ou, até mesmo, na reforma”..No caso dos militares contratados há soluções para quando saem do exército. “Primeiro, temos a preocupação de lhes dar formação que depois seja reconhecida quando regressam à vida civil. Em segundo lugar, através das consultas, damos aconselhamento sobre a forma de regressar a esse mundo civil. Explicamos como é que devem fazer consultas de ofertas de emprego, a que tipo de emprego devem concorrer. E esse é um esforço conjunto entre o exército e a tutela, ou seja o ministério da Defesa Nacional, no sentido de dar às pessoas mais ferramentas formativas e a sua experiência profissional e, com isso, dar-lhes o conhecimento de como é que podem regressar à vida civil, para aquelas que não querem ficar connosco o resto da vida”. .E conclui: “O exército assemelha-se muito a um Estado, tem de ter praticamente todas as funções que um Estado tem. É extraordinariamente abrangente".