Estudo da Cáritas. "Estatísticas oficiais subestimam a magnitude da pobreza e exclusão em Portugal"
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Estudo da Cáritas. "Estatísticas oficiais subestimam a magnitude da pobreza e exclusão em Portugal"

Entre 2019 e 2023 "não se observaram progressos significativos no combate à pobreza mais extrema no país", conclui estudo da Cáritas, dando conta que "em várias dimensões a situação até se deteriorou".
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A Cáritas Portuguesa apresenta esta terça-feira um estudo no qual é referido que "Portugal ainda está muito longe de erradicar a pobreza e exclusão extremas". Indica que no período entre 2019 e 2023 "não se observaram progressos significativos no combate à pobreza mais extrema no país". Existiram, aliás, retrocessos, alerta a organização da Igreja Católica.

"Em várias dimensões a situação até se deteriorou", conclui o estudo "Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas", coordenado por Nuno Alves, que é hoje apresentado na Universidade Católica Portuguesa, no Porto.  O "aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo ou sem capacidade de manter a casa aquecida são disso exemplos claros”, refere o estudo.  

Esta é a primeira edição do relatório do Observatório Cáritas, que terá uma frequência anual, tendo como base a análise dos indicadores oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) e a leitura do Observatório sobre as situações de pobreza extrema em Portugal, como se pode ler na introdução do estudo a que o jornal "7Margens" teve acesso.

De acordo com este relatório da Cáritas, "as estatísticas oficiais subestimam a magnitude da pobreza e exclusão em Portugal". Uma vez que se baseiam em inquéritos junto das famílias, as estatísticas oficiais "não captam as situações daqueles que não vivem em residências habituais". É o caso das pessoas em situação de sem-abrigo, os reclusos nas prisões, os nacionais ou migrantes que vivem em alojamentos temporários. "Todos estes casos não se encontram refletidos nas estatísticas oficiais. E sabemos que vários deles têm aumentado acentuadamente no passado recente". 

O relatório dá como exemplo o aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo, que subiu de "7100 em 2019 para 10800 em 2022, último ano com estatísticas disponíveis". "Em 2023, esta tendência ter-se-á acentuado. Tanto os pedidos de apoio à Cáritas como a mera observação das ruas das grandes cidades atestam esta dinâmica. Os pedidos de apoio à Cáritas por parte de imigrantes também têm crescido acentuadamente nos últimos anos", lê-se no relatório.

Perante esta realidade, o estudo refere que "estas tendências merecem uma atenção prioritária".

Centrado nas situações de pobreza mais severa e assumindo uma perspetiva multidimensional, este estudo salienta que a "pobreza e a exclusão são fenómenos que apenas podem ser combatidos com intervenções multidisciplinares". 

“Acreditamos que esta reflexão, feita a partir da identidade da Cáritas, poderá ser um contributo para toda a sociedade, mas também para todos os decisores políticos que têm na sua atividade a possibilidade de desenhar políticas de resposta adequadas à resolução dos problemas daqueles que se encontram mais vulneráveis", sublinha Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa sobre este estudo que é apresentado no âmbito da Semana Cáritas, que decorre até 3 de março, dia do peditório nacional desta organização da Igreja. 

De referir que, em Portugal, "a rede Cáritas dá resposta a mais de 120 mil atendimentos e desenvolve um trabalho alargado de proximidade através da implementação de respostas sociais que alcançam todas a áreas de vulnerabilidade da pessoa".

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