Espera de mais de 5 horas. INEM diz que transferência de doente de helicóptero foi "decisão médica conjunta"
A transferência de helicóptero de um doente com traumatismo craniano que deu entrada no Hospital da Covilhã, depois de ter esperado mais de cinco horas, foi uma “decisão médica conjunta” tendo em conta a situação do utente e os meios disponíveis, afirmou esta segunda-feira, 7 de julho, o INEM.
Questionado pela Lusa sobre o motivo que levou a que o paciente fosse transferido da Covilhã para Coimbra num helicóptero da Força Aérea e não de ambulância, o INEM esclarece que se tratou de “uma decisão médica conjunta, entre médica da ULS Cova da Beira, médico do INEM e médica da FAP (Força Aérea Portuguesa)”.
A decisão foi baseada “tendo em consideração os critérios clínicos do utente, os meios e recursos disponíveis e melhor habilitados a dar resposta naquele momento, e outras variáveis com impacto no estado clínico do utente”, acrescenta o INEM.
O INEM sublinha ainda que “o utente teve acesso a cuidados de saúde altamente diferenciados, através das equipas médicas envolvidas, desde a ativação da emergência médica pré-hospitalar até admissão no hospital de destino, em Coimbra”.
A Lusa questionou ainda o INEM sobre as notícias que dão conta de que o aparelho da Força Aérea usado no transporte era demasiado grande para os heliportos hospitalares e por isso teve dificuldades em aterrar nos heliportos dos dois hospitais, mas não obteve qualquer resposta.
Também fico sem resposta a pergunta da Lusa sobre a relação entre esta situação e o facto de o concurso internacional para aquisição do serviço de transporte aéreo só ter ficado concluído há cerca de um mês.
A posição do INEM surge poucas horas depois de a Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar (SPEPH) ter alertado para o facto de ser "clinicamente mais adequado e seguro" um paciente ser transportado por ambulância quando a resposta aérea ultrapassa o tempo estimado de transporte terrestre.
De acordo com SPEPH, a decisão entre meios aéreos e terrestres deve ser técnica e segura: "A prioridade deve ser sempre a rápida estabilização e o encaminhamento seguro do paciente à unidade hospitalar mais adequada” e a medicina pré-hospitalar "segue princípios bem definidos no que diz respeito à escolha do meio de transporte mais adequado para pacientes vítimas de trauma grave, tendo em conta várias variáveis essenciais".
"Entre os principais fatores a serem avaliados estão as condições meteorológicas, o tempo estimado para a chegada do helicóptero ao local do pedido de ajuda, o tempo necessário para preparação da aeronave e da equipa médica, e ainda a duração do voo até ao local do pedido de ajuda", vincou.
Questionado pela Lusa sobre este caso, o Ministério da Saúde remeteu para o INEM quaisquer esclarecimentos sobre o caso.
Já o presidente do sindicato dos técnicos de emergência pré-hospitalar, Rui Lázaro, defendeu que "os responsáveis têm um rosto: é o Governo e o INEM", sendo que "o INEM não acautelou atempadamente o tempo do concurso" para a contratação do serviço aéreo de emergência médica.
O concurso público para a contratação deste serviço foi adjudicado à empresa Gulf Med Aviation Services Limited apenas no final de março.
"A empresa teve pouco mais de um mês. O Governo e o INEM deveriam ter iniciado este concurso um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde", acusou Rui Lazaro, reiterando que os helicópteros da Força Aérea deveriam ser deslocalizados para o interior do país, onde entende fazerem mais falta.
Desde o início do mês que a Força Aérea assegura o transporte de emergência médica com quatro helicópteros que deveriam funcionar 24 horas por dia, mas apenas um está atualmente apto para voar à noite, numa operação transitória até que a empresa que ganhou o concurso tenha os meios suficientes.
Além destas quatro aeronaves da Força Aérea, a Gulf Med assegura, através de um ajuste direto até o contrato entrar em vigor, dois helicópteros Airbus, que ficam nas bases de Macedo de Cavaleiros e de Loulé, mas que apenas operam no período durante o dia.
Segundo o ministro da Defesa, a Força Aérea conta com aeronaves ao serviço do INEM que estão localizadas em Beja, Montijo e Ovar.