Erro informático atrasa vacinação contra o tétano na região norte
Joana fez 10 anos agora e vai entrar no 5.º ano. Os pais, assim que chegaram de férias no final de julho, quiseram marcar o reforço da vacinação contra tétano, difteria e tosse convulsa, mas no centro de saúde a que pertencem, na região do Grande Porto, foi-lhes dito que "não havia vacinas para administrar, devido a uma rutura de stock". Portanto, naquele momento, a administração desta vacina combinada, conhecida como hexavalente, estava suspensa até haver vacinas.
Os pais de Joana questionaram se no centro de saúde tinham a ideia de quando haveria vacinas e se estas chegariam antes do início do ano letivo. Na unidade saúde, não souberam dar uma resposta concreta, mas informaram que se assim que houvesse os pais seriam informados e haveria uma remarcação por haver mais utentes na mesma situação. Os pais de Joana confirmaram ao DN terem percebido que isso estava a acontecer, de facto, ao falarem com pais de colegas da filha. O que significava que a situação não estava só a afetar os utentes da unidade de saúde a que pertencem como outros de outras unidades do Grande Porto.
O DN contactou as autoridades de saúde para confirmar se havia uma rutura de stock nestas vacinas, tal como foi justificado aos utentes pelos próprios profissionais, mas a Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) justifica que não houve qualquer rutura de stock, mas um "erro informático" que ocorreu no dia 3 de agosto. "Informamos que, efetivamente, no dia 03/08/2021, ocorreu um erro informático, rapidamente ultrapassado, sem que, com o mesmo, se tenha comprometido a distribuição de vacinas até pelo facto de as mesmas já estarem preparadas para distribuição", pode ler-se na resposta enviada ao DN, onde é acrescentado que a vacina combinada contra tétano, difteria e tosse convulsa "não esteve nem está em rutura". O DN quis saber ainda de que tipo de erro informático se tratou e a razão, mas não nos foi dado mais qualquer esclarecimento.
Nesta resposta a ARS Norte diz que a situação foi rapidamente resolvida e que não afetou a distribuição de vacinas, mas os pais das crianças dizem que têm estado à espera das remarcações para a vacinação durante este mês e que estas só começaram a chegar nesta quinta-feira, mas com datas já de setembro. Os pais de Joana, por exemplo, receberam nesta quinta-feira a remarcação para a segunda semana de setembro, precisamente para a altura em que esta vai entrar numa nova escola.
A questão aqui e, segundo referem ao DN os pais de Joana, é que não é a primeira vez que há ruturas de stock desta vacina, já aconteceu em anos anteriores, e o receio agora era que o atraso pudesse ser mais prolongado devido à covid-19 e isso poder influenciar a proteção das crianças na entrada para um novo período escolar "era uma preocupação".
De acordo com o que foi dito ao DN, por parte da Direção-Geral da Saúde, "esta situação não foi registada em mais nenhuma administração regional de saúde".
Fonte médica especialista na área das vacinas explicou ao DN que "um mês ou pouco mais de intervalo no reforço desta dose não tem impacto na proteção das crianças", salvaguardando, no entanto, que "o importante era saber que tipo de erro esteve em causa, se foi um erro de negligência ou de incompetência para não voltar a acontecer". A mesma fonte recorda também que com a questão da covid-19 já houve outras situações de stock com outras vacinas e que "estas situações é que são necessárias acautelar".
A vacina combinada contra tétano, difteria e tosse convulsa integra o Plano Nacional de Vacinação e a sua administração é feita de acordo com o seguinte calendário: 1.ª dose aos 2 meses, 2.ª aos 4 meses, 3.ª aos 6 meses, 4.ª aos 18 meses e o primeiro reforço aos 10 anos. A partir daqui, o reforço passa a ser feito a cada dez anos.
O mesmo especialista explica a importância de manter a vacinação em dia. "É a forma mais efetiva de prevenir algumas doenças." No caso do tétano, a transmissão da doença não ocorre de pessoa para pessoa, mas através da contaminação de qualquer tipo de ferida com o esporo da bactéria Clostridium Tetani, que se encontra no meio ambiente. Ou seja, a bactéria que leva ao desenvolvimento desta infeção entra no organismo através de aberturas na pele, geralmente por cortes ou perfurações de objetos contaminados (como pregos ou agulhas) ou por feridas contaminadas por terra, fezes ou saliva (como o caso de mordeduras de animais).
Os sintomas mais comuns são: forte contração dos músculos do maxilar, espasmos musculares, frequentemente na barriga, rigidez muscular dolorosa em todo o corpo, incapacidade de abrir a boca, dificuldades em engolir e em respirar, convulsões e dores de cabeça. O período de incubação médio do tétano é de dez dias (podendo variar de dois a 21 dias). Se for no período neonatal, conhecido como o "mal dos sete dias" é, em média, sete dias (geralmente entre quatro e 14 dias).