Os nadadores salvadores zelam pela segurança dos banhistas. Em Carcavelos existem 20 destes elementos.
Os nadadores salvadores zelam pela segurança dos banhistas. Em Carcavelos existem 20 destes elementos.Paulo Spranger/Global Imagens

Em mar e em terra. Tudo sobre o dispositivo de segurança montado pela Autoridade Marítima Nacional

O DN foi conhecer todo o dispositivo de segurança montado pela Autoridade Marítima Nacional. Desde os barcos das estações salva-vidas, que resgatam vítimas no mar, passando pela vigilância da polícia marítima e nadadores salvadores, até às equipas especiais Sea Watch, todos estão empenhados na missão de salvar vidas.
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"Desde que começou a época balnear, que em Cascais inicia a 1 de maio, e o dia 31 de maio, tivemos 64 ocorrências. Dessas, 47 foram feridos e não houve vítimas mortais. Houve, ainda, quatro crianças perdidas. As principais ocorrências foram cortes, picadas por peixe-aranha e pessoas que se sentem mal, por exemplo por insolação. Quanto às crianças perdidas, todas foram encontradas”, afirma o comandante Marques Coelho, capitão do porto de Cascais.

Este é um pequeno retrato daquilo que se passa, depois, durante todo o verão, em que acidentes acontecem. No entanto, está montado todo um dispositivo de buscas e salvamento, para salvaguardar a segurança dos banhistas, mas também dos que frequentam outras zonas costeiras - como arribas e miradouros - e ainda o patrulhamento em alto mar.

O DN encontrou-se com Marques Coelho na estação salva-vidas de Cascais. Daqui, partimos numa embarcação salva-vidas costeira, para uma ação de patrulhamento. Aos comandos estão os marinheiros Saúl Cid e Tiago Cunha. “A nossa estação é das que tem mais serviço em todo o país, ao longo do ano todo, mas sobretudo no verão”, avança Saúl Cid. “No verão acontecem situações sobretudo com banhistas e ao final do dia. Muitas pessoas saem com pranchas e boias e não conseguem voltar à praia. Começam a ficar longe e os nadadores salvadores também já não as conseguem apanhar. É dado esse alerta e nós vamos, com a nossa embarcação, fazer esse salvamento”, prossegue.

A lancha põe-se em movimento a partir da marina de Cascais e vai até à zona da Boca do Inferno. Por ali, há um conhecido miradouro. O barco para e é hora de Saúl Cid apitar para os turistas que se atrevem a ultrapassar a vedação de segurança. Estes acatam a ordem e saem da zona perigosa. “Há, também, muitos pescadores lúdicos que não estão habituados aqui à zona e que arriscam mais. Levam com uma onda e caem ao mar”, acrescenta.

E revela um caso concreto, de um salvamento que correu bem. “Um pescador caiu da rocha, ali no Cabo Raso, e ficou com o braço partido e algumas escoriações, mas conseguimos apanhá-lo vivo, felizmente”. O pescador “foi inteligente. Tinha uma daquelas calças de borracha, com bota completa, que quando a água entra, se tornam numa autêntica âncora. Vai logo ao fundo. Ele despiu aquilo e nadou para fora das rochas, foi o que o safou. Há pessoas que, quando isto acontece, tentam voltar para as rochas e subir, e isso é um erro. Mais vale nadar para fora, como este pescador fez, e esperar por ajuda”.

A tentação de conseguir uma boa fotografia também coloca muitas pessoas em risco, tanto no Cabo da Roca como na Boca do Inferno. “No Cabo da Roca, se caírem, é morte certa. A altura é muito elevada. Aqui, na Boca do Inferno, se o mar estiver calmo e não baterem nas rochas, ainda têm algumas hipóteses de se salvarem”, explica o marinheiro Tiago Cunha. “Mas as pessoas arriscam muito para tirar fotografias, mesmo quando as estamos a advertir. Alguns obedecem tranquilamente mas há outros que não ligam. Até podem sair do local onde estão em risco, na altura, mas quando viramos costas e o barco vai embora, voltam para lá”.

O marinheiro faz, ainda, uma chamada de atenção: “Já tivemos uma situação de estarmos a recuperar um corpo de um pescador que morreu ali e as pessoas, mesmo assim, estarem a arriscar. As pessoas têm de compreender que há linhas vermelhas, porque estão a arriscar a vida delas e também a de quem as vai tentar salvar”.

A lancha dá mais uma volta, até à praia de Carcavelos. “Esta lancha consegue ir mesmo até à praia, desde que seja areia, não fundo rochoso. Isso permite fazer uma evacuação mais rápida da vítima que apanhámos. Por exemplo, se estiver aqui a ambulância, em vez de nos estarmos a deslocar até à marina de Cascais, e às vezes em frente ao mar - que é mais perigoso para a vítima - embicamos o barco para a praia e fazemos o transfer a partir daqui”, explica Saúl Cid.

“Há outras situações em que a vítima não tem ferimentos, nem sequer é preciso levar para o hospital, chegamos aqui, ela salta do barco e vai para a areia”. A viagem termina de regresso à marina de Cascais onde uma patrulha da polícia marítima, com uma viatura todo-o-terreno já espera pelo DN. 

Cabe à polícia marítima o patrulhamento das praias e outras zonas costeiras. “Todas as entidades têm o dever de cooperação com o salvamento da vida humana. E nós, nesse âmbito, também colaboramos no salvamento e resgate de pessoas”, avança o agente de primeira classe Bruno Simões. 

O patrulhamento, seja em veículos todo-o-terreno ou em motas, nas praias, tem um efeito de proximidade e visibilidade. “Tentamos fazer um policiamento de proximidade para que a população que acede às zonas ribeirinhas possa ter o mínimo de condições e regras, para que todos possam conviver no mesmo espaço, mesmo em zonas com muita afluência, como certas praias”.

É nas praias que concentram maior quantidade de banhistas que pode haver mais problemas. “Temos incidentes de ordem pública, furtos, roubos, agressões. O que a polícia marítima faz é aplicar nas zona costeira tudo o que é feito nas zonas habitacionais”.

A praia de Carcavelos, com cerca de dois quilómetros de extensão, é das mais problemáticas, bem como a do Tamariz, no Estoril. “São zonas com boa acessibilidade devido aos transportes públicos estarem muito perto. Por isso, juntam-se mais pessoas”, afirma Bruno Simões. “Quanto maior é a praia, maior é o risco, pelo número de pessoas que se junta. Pode, por exemplo, acontecer uma pequena escaramuça que acaba por se alastrar a mais pessoas”, explica.

O colega, agente de primeira classe Ruben Ferreira, analisa: “Por vezes, por causa de uma pequena coisa, como alguém que tem um animal na praia e outro banhista quer retirar o animal, entram em diálogo. E desse diálogo passa-se a uma discussão, e depois a agressões”. E chama ainda a atenção para os grandes grupos de jovens que também provocam distúrbios. “Há grupos de jovens que já têm rivalidades nos seus bairros e depois replicam isso na praia, como já aconteceu”.

Outra figura fundamental no areal são os nadadores salvadores. Pedro Brás tem 28 anos e faz este trabalho, o ano todo, em Carcavelos, há nove anos. “Alguns banhistas podem ser um bocadinho problemáticos e não cumprir as nossas indicações. É tudo para bem deles, não estamos aqui para incomodar ninguém”, observa. Desacatos também já observou: “Normalmente acontece devido ao consumo excessivo de álcool”.

O nadador salvador recorda um salvamento que o marcou. “Foi com um grupo de cerca de 10 jovens que estava num agueiro. Foi um momento de aflição porque eu, e o meu colega, não tínhamos mãos para pegar em todos. Com muito esforço e a ajuda de alguns surfistas, lá os conseguimos salvar”.

Pedro Brás desabafa: “É uma profissão muito desgastante do ponto de vista físico e emocional. Por isso, torna-se muito ingrato quando nos estamos a esforçar e os banhistas não acatam as nossas indicações”. 

Junto à praia junta-se, entretanto, uma equipa do projeto Sea Watch. O cabo-mor fuzileiro Paulo Teixeira revela o que fazem estas equipas, que dispõem de 30 viaturas, em todo o país. “Este projeto já existe há vários anos, só que agora foram-nos oferecidas novas viaturas todo-o-terreno. Os carros estão equipados com um desfibrilador automático externo e oxigénio. Por isso, além de sermos nadadores salvadores temos formação em suporte básico de vida”.

A missão das equipas Sea Watch desenvolve-se nas praias não vigiadas e outras zonas costeiras, como arribas. “Infelizmente, só estamos presentes durante a época balnear”, afirma Paulo Teixeira. No entanto, quando é necessário, estas equipas podem ser chamadas às praias vigiadas. “Temos meios, como o desfibrilador e oxigénio, e conseguimos fazer logo manobras de suporte básico de vida, mesmo antes de os bombeiros chegarem. É muito gratificante”, conclui.

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