Em Loures, doentes já esperam 13 horas. Ministério promete medidas para urgências dentro de 15 dias
Esta semana, a falta de médicos já se está a fazer a sentir nos serviços de urgência. Na próxima semana, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) diz que a situação pode agravar ainda mais, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde haverá dois feriados, dia de Portugal e das Comunidades, a 10, e o de Santo António, a 13. Ontem mesmo, várias urgência da região de Lisboa começaram o dia com muitas horas de espera para os doentes urgentes.
O Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, foi o que registou a situação mais grave, que não melhorou durante o dia, ao contrário do que aconteceu com a urgência do Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) ou até do Hospital de Santa Maria. A Ordem dos Médicos e os sindicatos médicos tinham alertado para o facto de os primeiros dias de junho serem um teste à resposta do SNS e mal o mês começou e já há serviços de urgência congestionados.
A unidade de Loures começou o dia com um tempo de espera que ultrapassava as 15 horas para os doentes muito urgentes, ao longo do dia este tempo reduziu para as 13.25 horas, que era o tempo registado ainda ao final da tarde (18.00), faltando ser atendidos quatro doentes com pulseira laranja - sendo que o tempo adequado de espera para estes doentes deveria ser de 10 minutos. O tempo de espera para os doentes urgentes, que, ao inicio da manhã, era de 10 horas, ao final da tarde de ontem estava nas 7:01 horas, enquanto para os doentes menos urgentes era de 15.32 horas, havendo 15 doentes para serem atendidos.
No Hospital Fernando da Fonseca este tempo foi reduzindo ao longo do dia e, pelas 18.00 o site do Serviço Nacional de Saúde, que regista os tempos de espera, dava conta de 3 horas de espera para os doentes urgentes (os que têm pulseira amarela), mais de 5 horas para os menos urgentes, de destacar que nesta altura não havia na unidade doentes muito urgentes.
No Hospital Santa Maria a espera para os 26 doentes urgentes naquela altura era de mais de quase duas horas (1:46) e para os menos urgentes de 3:36 e para os muito urgentes 36 minutos. No Hospital Garcia de Orta a média de espera para os muito urgentes era de quase duas também (1:45), para os urgentes de mais de uma hora e para os menos urgentes de uma hora e meia.
Questionado pelo DN, o Ministério da Saúde admitiu que a situação que se vive no Hospital de Loures “é uma preocupação”, mas que “está sinalizada” e que dentro de semanas apresentará medidas urgentes. “É uma preocupação para a tutela. Previsivelmente, dentro de duas semanas o Ministério da Saúde vai apresentar medidas para a área das urgências hospitalares. No caso concreto de Loures, haverá medidas urgentes, bem como medidas estruturantes, ou seja, de longo prazo”.
Recorde-se que até agora, a tutela apresentou duas medidas para o verão, nomeadamente o reforço da Linha SNS24 e a criação da Linha SOS Grávida, que têm como missão referenciar os doentes para unidades a funcionarem, sem apresentar qualquer outra medida de reforço para o período de verão.
Em conversa com o DN, o coordenador do Plano de Emergência admitiu há dias que o Plano de Verão estava a ser preparado com as Unidades Locais de Saúde (ULS), estando a ser feito um levantamento dos constrangimentos que são esperados para se encontrarem soluções. Agora, promete medidas urgentes e estruturais para daqui a duas semanas e um dos sindicatos diz que, mais uma vez, o “doentes foram deixados à sua sorte”.
A presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) argumenta ao DN que o que está a acontecer já nas urgências da região da Grande Lisboa “tem a ver com a escassez de recursos humanos, sobretudo médicos, o que poderá agravar ainda mais na próxima semana com feriados e com as férias dos profissionais”. E, perante isto, “é com perplexidade que não se conheça um plano de verão da tutela para dar resposta a estas situações”.
Na semana passada, o bastonário dos médicos voltou a argumentar ao DN que, apesar de ter sido apresentado um Plano de Emergência, este “não substitui a elaboração de um Plano Estratégico de Verão da tutela, que é absolutamente essencial para fazer a articulação de todos os planos que cada hospital preparou para o verão”. Acrescentando: “Todos os anos sabemos que as zonas do litoral e do sul do país recebem nesta época não só os portugueses que se deslocam como turistas como estrangeiros. Alguns locais, como o Algarve, chegam a duplicar a população, o que acaba por gerar muita pressão nos serviços de saúde e estas regiões têm de ser reforçada. Portanto, apesar das dificuldades que possam existir, o ministério tem a obrigação de apresentar o mais rápido possível um plano, que contemple a organização dos recursos humanos e dos serviços de urgência e os reforços que têm de ser feitos nas várias áreas geográficas e até na Linha SNS24”.
Para a dirigente da Fnam, as duas medidas anunciadas até agora que a porta de entrada no SNS durante o verão é através das linhas SNS 24 e SOS Grávida “é deixar os doentes à sua sorte. É quase como que a substituição do atendimento e do ato médico ao vivo para uma consulta telefónica, e depois os resultados podem ser os que tivemos no inverno, um excesso de mortalidade”.
Joana Bordalo e Sá alerta também que a falta de médicos nas urgências pode agravar mesmo com os médicos não estando de férias, basta avançarem com a recusa de m ais horas extras. “Sabemos que a classe está com uma grande expectativa em relação às próximas reuniões de junho entre a ministra e os sindicatos, mas se aqui não houver uma base negocial das grelhas salariais estas minutas podem começar a ser entregues porque muitos médicos já completaram as 150 ou as 250 horas”.
Joana Bordalo e Sá disse ao DN que a contraproposta à proposta do ministério da sua estrutura vai seguir até final da semana e depois “vamos ver se há mesmo vontade para negociar”.