"É duro sabermos que temos uma doença que não tem cura"
As palavras são de Alexandre Dias, mas podiam ser de qualquer uma das cerca de 8500 pessoas que vive com esclerose múltipla em Portugal. Apoio junto de outros doentes e prática de exercício físico são essenciais para lidar com o diagnóstico.
"Pensem sempre que não estão sozinhos", diz a professora de dança Cris Aysel, uma das convidadas do episódio especial do podcast "Alguém que me explique", emitido a propósito do Dia Mundial da Esclerose Múltipla. O programa digital, conduzido por Joana Gama para a plataforma de literacia EM One to One, criada pela Sanofi, contou com a participação de várias pessoas que vivem com a doença e que procuraram partilhar a sua experiência. Além de doente, Cris Aysel é também cuidadora do marido que sofre com a mesma patologia. "A adaptação leva-nos à superação", reforça.
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Receber um diagnóstico de esclerose múltipla pode ser "uma bomba", complementa Telma Teles, que considera importante aumentar o conhecimento sobre a maleita para "desmistificar", entre outras coisas, "toda a parte da maternidade". Embora reconheça que existe "uma mudança" na forma como se encara a vida, Telma acredita que, a par da medicação e do acompanhamento médico, "o amor e a empatia" de amigos e família é essencial para ultrapassar o medo inicial.
Contudo, o conforto pode também ser encontrado junto dos maiores especialistas na matéria - outros doentes. "Os grupos e as associações ajudam-nos", sublinha Cris Aysel, que considera importante contar com apoio de outras pessoas que vivam com a doença, mas também que se recorra a "terapia" psicológica. "Não temos de ser fortes o tempo todo", assinala.
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A força para lidar com a esclerose múltipla, considerada uma doença rara e ainda sem cura, pode igualmente vir do desporto e da prática de exercício físico. Pelo menos foi essa a experiência vivida por Alexandre Dias, que conheceu o diagnóstico aos 25 anos e decidiu mudar de vida. "Os primeiros quatro anos foram duros. É duro sabermos que temos uma doença que não tem cura", admite. Porém, este momento serviu de alerta para a necessidade de mudar de vida para perder peso e livrar-se da fadiga provocada pelos 118 quilos e pela doença. Decidiu participar na prova Iron Man, uma das mais exigentes no mundo e que contempla a prática de triatlo, e terminou a competição como o primeiro doente com esclerose múltipla a fazê-lo. "O que aprendi com a minha história é que estar parado é dar a vitória à doença", aponta. Desde a última incursão desportiva em que participou, Alexandre tem tido redução na prática regular de exercício físico e diz notar os efeitos na saúde. "Não tenho feito tanto desporto e agora, ao final do dia, começo a notar a famosa fadiga de quem tem esclerose múltipla", partilha.
Um dos principais desafios para a manutenção da qualidade de vida destes doentes é, refere Margarida Navalhinhas, a compreensão por parte dos empregadores. A jovem afirma que há "muitas pessoas jovens" que cessam a sua atividade laboral ou pedem baixa médica para conseguir gerir a notícia sobre o seu estado clínico, e que nem sempre encontram apoio no local de trabalho. "Precisamos de passar isto aos empregadores, senão eles não vão perceber que estamos aqui e que somos úteis. Temos de nos mostrar", alerta.
Depois de cinco episódios dedicados a esclarecer informação sobre esclerose múltipla, o podcast "Alguém que me explique", conduzido por Joana Gama para a plataforma de literacia EM One to One, criada pela Sanofi, ajudou a apresentadora a alterar "a perceção sobre esta e outras doenças". Joana Gama considera "importante passarmos a palavra para que haja uma maior sensibilização" da população, mas sobretudo para se desfaçam mitos sobre aquela que é uma de mais de 6 mil patologias raras. A mensagem fundamental, acredita, é alertar para a atenção aos sintomas, que podem ser variados e pouco específicos, e para a forma "muito silenciosa" como a doença de desenvolve. Garantir o diagnóstico atempado é meio caminho andado para assegurar uma boa qualidade de vida e para atrasar a evolução da maleita. "O podcast para mim foi um workshop de cinco episódios", afirma a apresentadora.