Do Bairro Alto para as Laranjeiras sem perder o público pelo caminho

Hemeroteca Municipal de Lisboa mudou de bairro e os utilizadores vieram atrás. São milhares de publicações para consulta
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A Hemeroteca Municipal de Lisboa viveu 42 anos no Palácio dos Condes de Tomar, no Bairro Alto, desde que foi autonomizada, em 1973. Mudou-se em julho de 2015 para junto da Estrada da Luz e os responsáveis temeram que o público diminuísse significativamente. Mas quem a visita é um utente muito especial e seguiu-lhe o rasto. Afinal, tem ao seu dispor 17 362 títulos de publicações periódicas, muitas das quais não se encontram em mais lado nenhum e que podem ser requisitadas presencialmente ou pela internet. "Mudámos de uma área completamente central para uma área que, não sendo propriamente periferia, não é o centro", começa por explicar João Oliveira, o coordenador da Hemeroteca. Mas a especificidade dos títulos disponíveis "é um polo de atração e que faz que as pessoas se desloquem para onde estiver. Pensei que ao movimentarmo-nos o espaço se ia tornar mais biblioteca do que hemeroteca e isso não aconteceu".

O público divide-se fundamentalmente em dois grupos: os investigadores profissionais e que são a maioria, para preparar trabalhos académicos; e os investigadores sazonais, que consultam publicações para trabalhos pontuais, por exemplo, estudantes. E há quem não esteja em idade ativa e a leitura de jornais faz parte do seu dia-a-dia, além de ativos que consultam o arquivo no âmbito laboral, como os advogados.

A Hemeroteca recebe todas as publicações da imprensa diária e não diária de grande circulação em Portugal, assinaturas pagas já que apenas o Jornal de Notícias e o Jornal do Fundão disponibilizam um exemplar gratuito. E, beneficiando da exigência de depósito legal de tudo o que é editado no país, lei de 1931, têm atualmente 17 362 títulos para consulta.

O exemplar mais antigo data de 1715 e é a Gazeta de Lisboa. A Ilustração Portuguesa, 1903--1993, é outra das raridades, além das coleções de jornais e revistas desde os primórdios da imprensa nacional. Diário de Notícias, Diário Popular, República e Diário de Lisboa são os mais requisitados.

A Hemeroteca fazia parte da Biblioteca Municipal, no Palácio das Galveias, e autonomizou-se em 1973, ano em que foi para o Bairro Alto. Desde essa altura recebeu cinco mil visitantes e que consultaram um total de 16 500 publicações.

Mas, sublinha João Oliveira, "muita da procura já não acontece em termos físicos, mas através da internet", pedidos que vêm de todo o mundo. Um dos últimos veio do Japão e pediu imagens de Nossa Senhora de Fátima.

João Oliveira está envolvido no projeto desde 2011, tendo ingressado para se ocupar da hemeroteca digital, lançada em 2005, assumindo a coordenação desde que mudaram de instalações. Toda a documentação está a ser digitalizada, processo que tem dois tipos de limitação: o tempo que demora e os direitos de autor e que protegem as publicações por um período de 70 anos. A Hemeroteca Digital tem 300 coleções e três mil utilizadores mensais.

Além de disponibilizarem as publicações, produzem edições especiais em datas comemorativas. Aconteceu quando o DN fez 150 anos, há dois anos, e que pode ser visto neste link. Com as novas instalações ganharam melhores condições físicas mas perderam espaço. Alguma da documentação está no depósito dos Olivais e que pode ser requisitada previamente.

Distribuída por dois pisos, tem uma sala comunitária que funciona em regime de cedência, por marcação (para reuniões, encontros de trabalho, etc.), com wi-fi (como todo o nosso edifício) e tem capacidade para dez pessoas

A Hemeroteca partilha dos recursos da rede de bibliotecas de Lisboa e que conta com 16 espaços espalhados pela cidade. A mais recente dessas e que foi construída de raiz é a biblioteca de Marvila. E partilha dos recursos da rede sendo, a título de exemplo, um posto de transação de empréstimo domiciliário. Pode utilizar-se as instalações da Hemeroteca para requisitar ou devolver livros.

O DN está a publicar uma série de reportagens dedicadas à sua nova vizinhança, junto às Torres de Lisboa.

Diário de Notícias
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