Dividir a vida entre a ginástica e a medicina: os esforços dos atletas

Entre saltos e acrobacias, Catarina Nunes é uma das desportistas abrangidas pela Bolsa dos Jogos Santa Casa, que lhe permite continuar a sua vida académica.

"Praticamente nasci neste ginásio". Num tom divertido, é assim que Catarina Nunes começa por descrever a sua relação com os trampolins - o seu desporto de eleição - que pratica desde muito pequena no Lisboa Ginásio Clube: a sua segunda casa.

Aos 22 anos e após a conquista de algumas medalhas que fazem dela uma atleta de alto calibre, a jovem relembra que "a ginástica sempre foi o porto seguro" no qual encontrou um escape e uma família "para a vida toda". Aliás, o pai é o treinador dos atletas de trampolins e a mãe chegou a dar treinos na área da acrobática. "Comecei a treinar oficialmente com 5 anos, mas já aqui andava muito antes disso", confirma.

"A ginástica sempre foi algo muito saudável e positivo na minha vida. Aqui estou com pessoas que sei que gostam de mim e que me apoiam - o que é uma coisa boa e difícil de obter noutros lugares. Todos temos os mesmos objetivos, as mesmas prioridades e formas de pensar, então este ginásio tornou-se uma boa forma de criar laços fortes", explica.

Além da ginástica, que ocupa grande parte do seu tempo com duas horas e meia de treino diário, Catarina frequenta ainda o quinto ano do curso de medicina na Nova Medical School - Faculdade de Ciências Médicas, em Lisboa.

"Sempre fui muito preocupada com a escola e os meus pais incutiram-me que estudar seria uma prioridade e não a ginástica. Os trampolins sempre foram algo para eu me divertir e tive muitos bons exemplos de algumas colegas atletas, que entretanto já estão nas suas carreiras médicas. Segui o legado que elas deixaram, gosto da área da saúde e como tinha essa possibilidade decidi seguir medicina. Agora, estando no quinto ano do curso, não me imaginava a fazer outra coisa", afirma.

Entre os trampolins e a medicina - duas áreas bastante exigentes - a futura médica admite que a gestão do tempo não tem sido fácil, porém, tem "trabalhado muito para conseguir gerir tudo da melhor forma possível". "Vou dando o meu melhor para estar bem tanto no ginásio como na escola", confessa. Logo, faz "um esforço para não misturar as duas coisas".

Para ajudar a conciliar estes dois fatores da vida da atleta, a Bolsa de Educação Jogos Santa Casa tem sido "um dos melhores apoios" que Catarina teve nos últimos anos. "Os Jogos Santa Casa têm sido um dos apoios mais constantes e significativos no apoio à minha carreira desportiva e escolar.

"Tanto a mim como a outros atletas, esta ajuda tem nos permitido ter acesso a melhores equipamentos para estudar e até no investimento em materiais de treino. Foi uma ajuda crucial", conta.

Esta bolsa feita em parceria com o Comité Olímpico de Portugal e o Comité Paralímpico de Portugal ajuda a pagar as propinas dos atletas e a evitar o abandono prematuro do desporto de alto rendimento, bem como dos estudos: "É uma motivação para não descurarmos a nossa vida académica para treinar e para tentar ao máximo conciliar as duas coisas. Há muitos atletas que acabam por desistir da vida desportiva porque não conseguem conciliar com a vida académica ou não têm dinheiro para conseguir fazer ambos. E nesse sentido esta bolsa é uma grande ajuda."

Catarina Nunes descreve os seus últimos anos como "uma loucura" repleta de momentos "muito marcantes". Em 2018, conquistou a medalha de bronze na final do Campeonato Europeu de Trampolins em Baku, no Azerbaijão. Já em 2021, juntamente com Beatriz Martins, arrecadou a medalha de bronze na final de trampolim sincronizado feminino dos Mundiais, também em Baku.

Para um futuro próximo, a atleta e futura médica quer apurar-se para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. Mas deixa o conselho: "É importante não desistir do desporto nem da escola, especialmente com este incentivo que faz toda a diferença. Mesmo que o semestre esteja a ser muito difícil, há sempre uma luz ao fundo do túnel e uma recompensa pelo trabalho árduo. Vale sempre a pena continuar a tentar para chegarmos aos nossos objetivos, quer eles sejam académicos, desportivos ou até ambos".

Equitação e Breaking são novidade

As Bolsas de Educação Jogos Santa Casa, agora designadas "Programa Impulso" comemoram esta quarta-feira 10 anos, com a cerimónia de entrega das bolsas na Reitoria da Universidade de Lisboa, pelas 15 horas.

Esta estratégia, em funcionamento desde 2012, "já atribuiu 422 bolsas, a um total de 215 atletas de 24 modalidades, num esforço financeiro superior a 1,2 milhões de euros", segundo Maria João Matos, diretora de comunicação dos Jogos Santa Casa.

Nesta 10.ª edição vão ser atribuídas 47 bolsas a 36 atletas olímpicos e 11 paraolímpicos de 15 modalidades, havendo ainda duas modalidades que são uma estreia no programa: Equitação e Breaking (dança desportiva), que "vão ajudar os atletas inscritos nos programas olímpicos, paralímpicos e surdolímpicos, a impulsionar as suas carreiras universitárias, combatendo o abandono escolar precoce, que é muito comum em atletas de alta competição".

ines.dias@dn.pt

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