Diretores querem mais um ano de Recuperação das Aprendizagens

Preocupados com as dificuldades dos alunos na escrita e leitura, os diretores das escolas públicas de Portugal pedem um reforço do Plano 21|23 Escola+ no próximo ano letivo.
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"A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo". A emblemática frase de Nelson Mandela foi o mote da audição que juntou ontem as associações de diretores de escolas e a Comissão de Educação e Ciência, numa conversa em prol do futuro do ensino português.

Depois de dois anos letivos fortemente marcados pela pandemia de covid-19 e perante a instabilidade nas escolas causada pelas greves, os dirigentes escolares foram ouvidos pelos deputados da Assembleia da República Agostinho Santa (PS), António Cunha (PSD), Gabriel Mithá Ribeiro (Chega), Carla Castro (Iniciativa Liberal) e Manuel Loff (PCP) para discutir o Plano de Recuperação das Aprendizagens (PRA), que termina no final deste ano letivo.

Para a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e a Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) a situação atual exige a continuação e reforço do PRA. Isto porque as escolas portuguesas ainda vivem as "consequências arrasadoras" causadas pela falta de aulas derivada da pandemia.

"É agora que verdadeiramente se começa a sentir o impacto dos confinamentos e da pandemia", começou por dizer David Sousa - vice-presidente da ANDAEP - que admite relatos diários de professores que apontam a "falta de aprendizagens estruturantes que impedem a progressão dos ciclos seguintes" e afetam especialmente os alunos mais desfavorecidos.

Nesse sentido, também Manuel Pereira, presidente da ANDE, testemunhou o impacto da pandemia nos alunos, revelando que "é necessário trabalhar para recuperar a leitura e a escrita" - dois aspetos fundamentais bastante impactados, "especialmente nas zonas do país que são mais isoladas".

Manuel Pereira admitiu ainda que além dos professores, também os alunos "estão desmotivados, desinteressados e focados nos telemóveis e nas tecnologias". Logo, é preciso construir um plano que se adapte às necessidades e que "conquiste" os mais jovens.

"Temos de ganhar os alunos. Temos receio de perder esta luta", frisou.

Por sua vez, Jorge Saleiro, vice-presidente da ANDE, considerou que "a manutenção do Plano de Recuperação das Aprendizagens justifica-se pelas consequências da pandemia na saúde mental e rendimento escolar dos alunos". O diretor defendeu que "as escolas são obrigadas cada vez mais a intervir" nas questões sociais (havendo cada vez mais desigualdades), e por esse motivo é importante contratar mais psicólogos, terapeutas e técnicos para dar apoio nas escolas.

Tendo em conta atuais greves provocadas pelo descontentamento dos professores face a falta de respostas do Ministério da Educação (ME), Carlos Louro, membro da ANDE, alertou para a preocupação dos docentes com o futuro dos jovens e a importância de o Governo "restaurar a confiança dos professores nas políticas que está a implementar".

"Na escola pública portuguesa fazem-se verdadeiros milagres todos os dias". Foi com um desabafo que Filinto Lima, presidente da ANDAEP apelou à continuidade do Plano de Recuperação das Aprendizagens e ao investimento do Governo nas escolas de Portugal.

De acordo com o diretor, os problemas são "muitos" e as soluções para os resolver são "muito urgentes". "Saímos de uma pandemia e temo que possamos entrar noutra pandemia, que é a da escassez de professores", sublinhou, atestando que centenas de docentes aposentam-se mensalmente e que existe um reduzido número de professores de Educação Especial.

Para Filinto Lima, o PRA foi posto em prática perante um ambiente de condicionalismos, numa altura em que as escolas ainda "geriam a covid-19 mais do que as questões pedagógicas" e muitos alunos iniciavam o ano letivo sem professor.

Porém, para o diretor, não são as greves que estão a provocar o desequilíbrio na escola pública... os problemas já surgiam antes da pandemia.

"As atuais greves dos professores não prejudicaram o processo ensino-aprendizagem, de uma forma global, mas trouxeram instabilidade às famílias, que entendem os justos motivos das greves dos professores", garantiu.

ines.dias@dn.pt

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