Diário de uma viagem. Nem uma má disposição tira a beleza de Paris

A viagem das três equipas que participam no desafio Climes to Go continua e o DN acompanha aqui as aventuras que enfrenta a equipa Energia na viagem até Glasgow, onde de 31 de outubro a 12 de novembro terá lugar a Cimeira do Clima. Neste diário conta-se a passagem por Paris.
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Bonjour... ou talvez non. A meio da noite oiço "Francisco, estou-me a sentir mal". Era a Mariana, resolveu ficar indisposta para que o novelo fosse mais entrelaçado. Ficámos a manhã no quarto e acabou por recuperar. Talvez fosse falta de uma sopa caseira ou do bom clima português. Decidimos prolongar a nossa estadia por mais uma noite, para compensar.

Vamos recomeçar, Good Morning Vietname! Ou melhor, boa tarde, porque já não é cedo. É no vietnamita que almoçamos, a culinária francesa foge do nosso orçamento, e até a Portuguesa curiosamente. Estamos num bairro português, as montras estão coloridas de pastéis de nata e muito creme, as mãos de lusos e outros populares brilham com as famosas e saudosas Super Bock.

Há muito comércio aqui e ouve-se a nossa língua em todas as vielas. Sentimo-nos em casa perto da nossa diáspora que tanto sente o significado da Pátria-Mãe. São os nossos compatriotas que nos indicam o caminho para o centro de saúde. Não é por causa da Mariana, ela já está melhor.

Temos que fazer um teste PCR, pensava que já tinha cessado a minha interação evasiva com zaragatoas nesta disputa de David contra Golias, ou melhor contra um micro bicho que ainda mexe. O senhor Cameron decidiu referendar, e para no Reino Unido entrar necessitamos ainda de testar.

Felizmente, o Estado Francês dá um apoio e o teste sai mais barato que em Portugal. Andamos a viver à conta dos outros. Ao que parece, estudámos de véspera, avançamos assim para a marcação do teste para o dia seguinte, porém não podia ser tão fácil, há apenas 3 vagas, somos 4. Tranquilo, como dissemos não estamos sozinhos, jogamos em casa.

Do outro lado está o Arlindo, lusodescendente que mais que um irmão, é aquele primo que trabalha na loja de cidadão das laranjeiras, o sonho de qualquer utente familiar. A colega dele percebe que também somos portugueses e sente empatia, as 3 vagas passam a 4.

Mais descansados seguimos para a nossa visita. Sem internet teve que ser à moda antiga, mas lá descobrimos a sede da Enercoop. Também arcaicamente temos que puxar da alma lusitana de desenrascanço. O intercomunicador não funciona e não conseguimos fazer chamadas, mais um desafio.

Por razões de segurança o uso do elevador depende de um cartão que não possuímos. Solução? Entrar dentro do elevador, esperar que alguém o chame e depois percorrer o edifício. Safei-me, encontrei um trabalhador que aceita vir buscar a minha equipa e levar-nos ao sítio certo. É então que conhecemos a simpática Lucie que nos encaminha para a sala de reuniões.

À mesa entendemos a dinâmica deste projeto. A Enercoop é uma cooperativa, de lucro limitado, fundada por ONGs em 2005, na altura da abertura do sector da energia a privados. Conta com cerca de 100 mil clientes, 20 mil membros e centenas de funcionários que trabalham pela transição energética, prestando diversos serviços.

A apresentação suscita-nos muita curiosidade, levando-nos a debater as particularidades da energia nuclear, que a cooperativa ainda não optou por usar, o peso do hidrogénio e da energia eólica, da competitividade do mercado francês e da crise energética que cresce.

Após muita conversa, voltamos às ruas. Estamos num Paris diferente, ainda mais multicultural, mas menos cuidado. Contentores vazios cercados por lixo, hortas debaixo da linha de comboio, sou cético em relação à qualidade daquelas alfaces. Norteamo-nos em direção à luz da beleza arquitetónica, da Luzia cá do sítio.

Vi-a na estrada, no fundo da rua. Só mesmo um coração sagrado pode projetar tal obra, a vista é deslumbrante. Paris a nossos pés, o Sol abandona-nos para nos mostrar a cidade das luzes e do Iluminismo. Paris c"est Belle em qualquer époque.

Que mel...que tenho na mala. Pois é, ainda não demos sequência à troca com o Ministro do Ambiente. Vem então o que tínhamos projetado, na cidade de artistas temos que trocar por arte, é sempre aquele investimento seguro se não for arrestado, nem precisa de render ou de rendeiro.

Tento num atelier, mas quem tem de apresentar uma obra no dia seguinte não tem paciência para ouvir uma história longa de um jovem maçador. O destino dizia que tinha que ser outro, e foi mesmo. Conhecemos o Max, era o que tinha mais pinta de artista e com quadros mais deslumbrantes.

Rebobino a história e o Max simpatiza. Vai ao seu atelier buscar algo para trocar. É então que nos propõe um postal pintado em 2015 em forma expressionista sobre Paris e que fez a pensar no filho, que tem tanto orgulho. Max vivia no sul de França até decidir vender uma Mansão de família para se mudar para Paris, é aqui que encontra a sua felicidade e inspiração.

A arte é sem dúvida uma forma de passar mensagens e de sensibilizar a sociedade para determinados temas, mesmo sem histerias. A harmonia que se encontra é semelhante à que se propaga na sustentabilidade. A qualidade de vida que a saúde, o engenho e a arte nos disponibilizam neste efémero percurso que julgamos conhecer é o mais importante. Tudo o resto são paroles, paroles, paroles...

Equipa Energia em representação das equipas participantes no Climes to Go

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