DGS quer crianças a comer melhor. Mas será que estão a fazê-lo?
Ideias há muitas e o objetivo vale ouro: combater a obesidade infantil em Portugal. São projetos, desenvolvidos pela área da saúde, escolas ou associações sem fins lucrativos: Explicam aos mais novos que comer fruta é bom, a sopa deve estar sempre presente, que os vegetais são fundamentais no prato - não apenas para dar cor - e que estar sentado no sofá a jogar computador não é um desporto e que o corpo precisa de movimento.
O assunto é prioritário. Os últimos dados mostram que 31% das crianças portuguesas têm excesso de peso, valor que passa para 60% (juntando a obesidade) quando falamos de adultos. Mas se as ideias são boas, como são os resultados? O problema é que não se sabe se foram ou não eficazes. E quando não se sabe, mais difícil se torna conseguir financiamento. Sobretudo quando por norma o dinheiro aplicado na prevenção é sempre uma fatia pequena. E este não é apenas um problema em Portugal.
Para chegar a esta conclusão as especialistas Jéssica Filipe, Cristina Godinho e Pedro Graça, que é o diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-geral da Saúde (DGS), analisaram 29 projetos realizados entre 2001 e 2015. Com este estudo, que teve o apoio da DGS, quiseram dar um primeiro passo para se criar um mapa do que se faz no país para combater a obesidade infantil, como foi aplicar no terreno as ideias, quais os resultados e as soluções mais eficazes.
"A grande conclusão que encontrámos é que o que é feito geralmente está mal descrito. Um texto recente da Comissão Europeia aponta, que em média, do orçamento para a saúde 3% vão para a prevenção e 97% são gastos em intervenções no tratamento da doença. Não se investe porque a forma como os projetos são descritos é pouco organizada e não se veem resultados. Não quer dizer que não existam ou que não sejam positivos", diz ao DN Pedro Graça.
O grande desafio, acrescenta, para Portugal e para o resto da Europa - porque esta é uma questão que ultrapassa fronteiras, como o próprio refere -, "é criar uma lista de critérios adequados para se medir o sucesso de educativos". E dá o exemplo de critérios que permitam avaliar se na escola se mudaram conhecimentos, se se começou a fazer mais desporto, se os indicies de açúcar no sangue estão melhores. A criação da lista traria outra vantagem: "Quando não conseguimos identificar o sucesso não temos um guia de qual o projeto que queremos copiar para aplicar. Parece que sempre que alguém implementa um projeto, começa do zero", diz.
O estudo também o destaca: "até à data, não existe um registo atualizado em permanência sobre os projetos de intervenção que têm sido realizados neste âmbito em Portugal. Tal facto significa que cada nova intervenção ocorre isoladamente, refletindo uma oportunidade perdida de melhoria de intervenções de mudança comportamental já existentes".
Em relação aos projetos analisados, a escola foi o local escolhido pela maioria para fazer divulgação juntos das crianças, professores e familiares do que é uma alimentação mais saudável e de promoção do exercício físico. Apostaram em jogos interativos, livros, folhetos, criação de hortas na escola. E apesar das dificuldades, foi possível perceber que alguns projetos tiveram resultados animadores: mais fruta nos lanches que vêm de casa, alunos a comer mais fruta na escola depois das campanhas.
Muito trabalho a fazer
"Devemos estudar melhor o que são as características da nossa cultura alimentar, que em algumas áreas é muito distinta da de outros países. Sabemos fazer sopa, preparar um peixe, há esse ensinamento dentro das famílias. Esta é uma questão que podemos usar a favor de projetos alimentares", refere Pedro Graça. Até ao final do ano, espera ter disponíveis os dados do Inquérito Alimentar Nacional (o último tem 20 anos), o que ajudará a ter um retrato mais completo da realidade nacional nesta área. Depois falta uma outra: "É preciso saber quais são os custos de saúde e sociais associados à obesidade. É fundamental que os especialistas na área da economia da saúde possam fazer este estudo. Saber os custos para melhor agir". No Reino Unido, os custos relacionados com o tratamento da obesidade e diabetes são superiores ao que o governo gasta em incêndios, polícia ou em todo o sistema judicial.