A equipa internacional de que faz parte a investigadora croata Koraljka Muzic, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, descobriu seis potenciais novos objetos com massa planetária no enxame de estrelas da nebulosa NGC 1333 (o objeto foi descoberto pelo astrónomo alemão Eduard Schönfeld em 1855) na constelação do Perseu, a mais de 960 anos-luz da Terra. Nenhum destes seis objetos tem menos de cinco vezes a massa de Júpiter. Sublinhe-se que em astronomia, a massa de Júpiter é uma unidade comum usada para indicar as massas de outros objetos de dimensões semelhantes. .Os enormes mundos errantes agora descobertos não orbitam estrelas e contam com uma temperatura à superfície que pode chegar aos 1700 °C. Mas pouco se sabe ainda sobre a sua composição química, que poderia talvez revelar o seu processo de formação, ao compará-la com a das anãs castanhas (a sua massa situa-se entre a dos planetas e a das estrelas) e a dos exoplanetas..A descoberta do sexteto de objetos abre luz sobre duas perguntas: “Quantos destes objetos de massa planetária existem livres no espaço interestelar? E como se formam?”. Duas questões que, de acordo com Koraljka Muzic, citada em comunicado assinado pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, “estão ligadas, porque os números destes objetos irão dizer alguma coisa sobre os seus processos de formação”. Muzic adianta que “descobrimos que os objetos de massa planetária são dez por cento da população total de objetos do enxame de estrelas em NGC 1333”..Pensa-se que os corpos de massa planetária (menos de 13 vezes a massa de Júpiter) poderão ter duas origens. “Uma delas é formarem-se como as estrelas - pelo colapso gravitacional de matéria em nuvens densas e frias - mas não conseguirem reunir material suficiente para que no seu interior se atinjam as temperaturas necessárias à ignição de fusão nuclear. A outra origem será em comum com os planetas: em órbita de uma estrela, mas de onde terão sido depois catapultados pela interação com um planeta maior, ou por uma outra estrela próxima. Um e outro processo poderão gerar duas famílias de objetos de características diferentes”, adianta o referido comunicado..Os objetos que a equipa descobriu terão sido na sua maioria gerados pelo processo que produz as estrelas, e serão os de menor massa formados por essa via..“O resultado mais importante é que não encontrámos objetos com massas mais pequenas do que cinco massas de Júpiter, apesar de tecnicamente ter sido possível encontrá-los”, acrescenta Muzic. “Se os planetas mais pequenos são os mais comuns, segundo os estudos de planetas extrassolares, e também os mais fáceis de ejetar da sua órbita, então esperávamos ver mais destes objetos errantes de massa pequena”. A investigadora ressalva, no entanto, que não existem ainda simulações nem trabalhos teóricos que forneçam quantidades para comparação. A equipa de investigadores avança a hipótese de que os processos gravitacionais que expulsam planetas das suas órbitas podem não ser tão eficazes neste enxame NGC 1333. .Dos seis objetos descobertos, o mais leve possui um disco de material à sua volta. Muzic explica a importância deste achado: “Se tem um disco, então seguramente formou-se como uma estrela, porque um planeta que tenha sido ejetado em princípio não terá um disco. As estrelas jovens, todas passam por uma fase em que têm um disco protoplanetário.”.Será importante perceber se estes discos poderão originar sistemas planetários em miniatura, como as luas de Júpiter, comenta Adam Langeveld, da Universidade de Johns Hopkins e do Instituto Carl Sagan - Universidade de Cornell, nos EUA. .Os resultados científicos encontram-se disponíveis online na plataforma arXiv e serão publicados em breve na revista The Astronomical Journal. .Esta equipa já estuda o enxame de estrelas em NGC 1333 desde 2009 com outros instrumentos no infravermelho, como o telescópio Subaru, no Havai, do Observatório Astronómico Nacional do Japão (NAOJ). Mas só agora, com a sensibilidade no infravermelho do telescópio James Webb, é possível encontrar corpos com menos de cinco vezes a massa de Júpiter, se de facto existirem.