Os contratos de manutenção do elevador da Glória e, principalmente, a sua execução, vão ser analisados à lupa pelos inspectores e peritos da Polícia Judiciária (PJ) encarregues da investigação à causa do acidente que provocou, até ao momento, 16 vítimas mortais, 13 feridos (dez graves). A Procuradoria-Geral da República avançou que havia dois mortos de nacionalidade coreana e um de nacionalidade suíça. De acordo com a PJ, os mortos incluem “com elevado grau de probabilidade” também um alemão, um ucraniano, um americano e canadianos. Entre os portugueses estão quatro funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Entre os feridos graves há três portugueses, um alemão, um sul-coreano, um suíço, um cabo-verdiano e um marroquino. Nos restantes estão espanhóis, israelitas, portugueses, brasileiros, italianos e franceses.A dimensão deste acidente e as suas consequências levou o diretor da PJ a ser prudente com os prognósticos. Se, por exemplo, no duplo homicídio do Centro Ismaili em 2023, Luís Neves descartou no próprio dia suspeitas de atentado terrorista, neste caso, quando questionado, na conferência de imprensa, sobre se algum cenário criminal sobre a causa do acidente estava já afastado, lembrando a quantidade de vítimas, o diretor da PJ frisou que só quando a sua equipa estiver “segura” sobre uma perspetiva poderá “falar sobre o assunto”. “As investigações são dinâmicas. Não está excluído nada. Quanto estivermos seguros é que tomaremos posição”, declarou. Os primeiros passos desta investigação, sabe o DN, serão para esclarecer se este desastre foi acidental ou intencional. Ambas as hipóteses podem configurar crime. Embora, como referiu Luís Neves, todos os cenários estejam em aberto, fontes ligadas ao contraterrorismo garantiram ao DN que não havia ameaças de atentados contra Portugal, estando, por isso, a hipótese de atentado desta natureza mais longínqua. Sendo assim, nesta fase, as atenções da investigação - titulada pelo DIAP de Lisboa - devem focar-se num possível, crime por negligência, doloso ou não, em cuja recolha de prova tudo o que diz respeito à manutenção vai ser escrutinado pelos investigadores. Embora, admite fonte judicial, não seja também descartada um cenário intencional, por exemplo, de concorrentes da empresa contratada. Contratos, relatórios das operações, serviços serão analisados. Recorde-se que, conforme o DN noticiou, a última inspeção ao Elevador da Glória foi realizada na quarta-feira (dia do acidente) pela MNTC - Serviços Técnicos de Engenharia Lda, a empresa que é responsável pela manutenção deste equipamento desde 2019. O último contrato, por concurso público, entre a Carris e a MNTC , data de 2022 e durou até 31 de agosto passado, depois de um novo concurso lançado em abril ter sido cancelado por as propostas serem todas acima do preço-base - 1,9 milhões de euros contra cerca de um milhão do anterior. Acabou por ser feito um ajuste direto à mesma empresa e foi esta que realizou esta última vistoria..Conheça a empresa que faz a manutenção do elevador da Glória. Carris paga mais de um milhão de euros. O documento refere que a inspeção realizou-se às 9h13 e terminou as 9h46. Todos os critérios analisados foram assinalados como estando cumpridos, tendo sido realizada uma inspeção visual. O relatório conclui que o ascensor tinha “todas as condições para a operação”.Os dirigentes da empresa e os técnicos responsáveis pela manutenção - os últimos a ver o elevador ainda a funcionar - deverão ser os primeiros a ser inquiridos e podem mesmo vir a ser constituídos arguidos.Toda a brigada de homicídios envolvidaA Judiciária - que assumiu a coordenação da resposta, quer de investigação criminal, quer de comunicação e contactos com entidades oficiais (nacionais e estrangeiras) e famílias das vítimas, com a criação de uma linha telefónica de atendimento - convocou uma equipa reforçada de investigação. Inclui cerca de duas dezenas de inspetores da brigada de homicídios e peritos, entre os quais de mecânica, que vão analisar os destroços apreendidos e já transferidos para um local seguro à guarda desta polícia.Com esta equipa vai também trabalhar o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviárias (GPIAAF), nesta altura apenas com dois investigadores nos seus quadros, um dos quais o próprio diretor, Nelson Oliveira. ambos especialistas na investigação de acidentes ferroviários. .Gabinete que investiga acidentes ferroviários tem dois peritos. Um é o próprio diretor. Conheça o engenheiro. Na conferência de imprensa, que teve lugar na sede da PJ, também com a participação do diretor do Instituto Nacional de Medicina Legal, Francisco Côrte-Real, e do CEO do Serviço Nacional de Saúde, Álvaro Almeida, Nelson Oliveira confirmou que a recolha de indícios ocorreu esta quinta-feira entre as 8h30 e as 13h00 em colaboração com o Ministério Público, PJ e Carris. “Os indícios identificados estão em fase de processamento”, referiu o diretor do GPIAAF, sublinhando que o relatório preliminar será publicado no prazo de 45 dias.. A publicação do relatório final depende dos meios que o gabinete venha a ter no futuro, acrescenta o diretor do GPIAAF, mostrando-se confiante de que o Governo irá dotar em breve o gabinete dos meios necessários. Este Gabinete tem vindo a solicitar ao Governo, desde março passado, a contratação de mais um investigador para completar o quadro dos três previstos, mas nada avançou até agora.Nelson Oliveira foi ainda questionado sobre se recomendaria a suspensão de todos os funiculares e ascensores do país, respondendo que não há qualquer indício que aconselhe tal medida..PS admite “dar tempo” a Moedas mas há quem peça a sua demissão .Da vizinha Espanha à longínqua China, tragédia de Lisboa foi notícia mundo fora