O setor dos transportes é um dos que enfrenta maiores desafios na transição energética. Com um peso de 6,3% do PIB europeu, o setor "está perante uma revolução, e a União Europeia lidera na resposta a estes desafios", garante Signe Ratso, alertando, contudo, para a necessidade de acelerar a transição apesar do contexto de crise energética e de guerra na Ucrânia. A diretora-geral da DG Research and Innovation da Comissão Europeia marcou presença na Conferência TRA - Transport Reearch Arena, que decorre esta semana no Centro de Congressos de Lisboa. .Aos mais de 2000 participantes, a responsável da UE deixou ainda a mensagem de que a Europa dos 27 deve manter o foco na criação de um sistema de descarbonização mais eficiente, sem perder de vista a meta de redução de 90% das emissões no setor dos transportes até 2030. .A intervenção da Comissária serviu de ponto de partida para o debate sobre o futuro da mobilidade na Europa, que se seguiu. Na perspetiva dos participantes, representantes de diferentes indústrias no setor dos transportes, como a aviação, a ferrovia, o transporte marítimo ou o transporte terrestre, mas também da investigação, os grandes desafios que a Europa enfrenta para a mobilidade assentam na aceleração da digitalização da indústria, na sustentabilidade e descarbonização, nas políticas e regulação, mas também na alteração do comportamento humano, um driver essencial para a mudança. .Apesar dos desafios, os responsáveis pelos setores dos transportes acreditam que a transformação está no bom caminho. Na aviação, por exemplo, Mary Lombardo, vice-presidente para a área de investigação e tecnologia na Collins Aerospace, recorda o investimento que globalmente está a ser feito nos SAF (Sustainable Aviation Fuels), combustíveis sustentáveis para a aviação, essenciais para garantir a redução da pegada de carbono no transporte aéreo. No entanto, alerta, "é preciso avaliar que tipo de combustíveis renováveis são utilizados na produção dos SAF, e a que preço são colocados no mercado". Um desafio que partilha com a indústria marítima que, segundo René Berkvens, Chairman da SEA Europe, está a lidar também com a necessidade urgente de construir navios mais sustentáveis e de digitalizar o setor..Já na ferrovia, Sérgio Tomázio, diretor na Customer Service Business Unit da Siemens Mobility para a Europa do Sul, assegura que, tecnologicamente, a indústria europeia segue na direção certa, especialmente no centro e norte da Europa onde as ligações férreas são atualmente uma alternativa sustentável para viajar. O responsável da Siemens destaca igualmente a importância dos apoios concedidos pela União Europeia para o desenvolvimento da ferrovia e para a promoção de importantes parcerias entre empresas públicas e privadas. Contudo, o maior desafio, acredita, passa pela atração de maior número de pessoas para este meio de transporte, assim como o reforço na sua utilização para a distribuição de mercadorias pelos países da UE. "Precisamos de melhorar a experiência do consumidor e de definir novos modelos de negócio que sejam atrativos para as operadoras", salienta. .Na perspetiva da investigação, por as pessoas no centro do problema é, na opinião de Joana Mendonça, a chave para a transformação do setor dos transportes. Segundo a presidente da Agência Nacional de Inovação (ANI), "parte desta transformação exige uma alteração dos comportamentos das pessoas e, para tal, é preciso ouvi-las e incluí-las nos processos de mudança". Adicionalmente, Joana Mendonça destaca a importância da partilha entre os diferentes players do setor para inovar e avançar. "Temos igualmente que aprender com outros setores e com as suas experiências através de uma abordagem holística".