Defensor da especialidade de Medicina de Urgência é o novo presidente do INEM

Defensor da especialidade de Medicina de Urgência é o novo presidente do INEM

Vítor Almeida é anestesista no Hospital São Teotónio, em Viseu, e um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e de Emergência. No ano passado, candidatou-se à presidência do INEM, teve o aval da CRESAP, mas o governo decidiu manter me funções Luís Meira, que se demitiu esta semana.
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O Ministério da Saúde escolheu o médico Vítor Almeida, do Hospital de São Teotónio, em Viseu, para presidir ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), substituindo Luís Meira que lá estava desde 2016 e se demitiu na segunda-feira, avançou a SIC Notícias e confirmou o DN.

Vítor Almeida é médico há mais de 20 anos e tem como primeira especialidade Medicina Geral e Familiar, mas desde o internato médico que começou a interessar-se pela medicina de emergência, o que o levou depois à formação numa outra especialidade, a de anestesia, que agora exerce em Viseu. E, segundo contaram ao DN pessoas próximas do novo dirigente do instituto, na área da emergência “é um homem com muita experiência, já fez de tudo, desde ambulâncias, VMER ou emergência aérea, tanto no país como lá fora, pois teve várias missões humanitárias”. 

Quem o conhece diz mesmo que do seu currículo fazem parte mais de 20 de anos de luta pela criação da especialidade de medicina de urgência em Portugal, acabando por ser um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência e um dos subscritores do projeto de criação da especialidade que esteve em discussão há cerca de dois anos no Conselho Nacional da Ordem das Médicos, mas que acabou por ser chumbado.

Na altura, e quando foi contactado pelo DN, Vítor Almeida não escondeu a sua desilusão com a decisão da Ordem, considerando que o país tinha perdido a oportunidade de poder fazer história e de se juntar a outros em que a especialidade já existe. O debate sobre este tema não voltou a estar em cima da mesa, a não ser quando se fala de equipas fixas nas urgências, mas a própria classe médica não consegue chegar ao consenso.

Vítor Almeida é dos médicos que diz que sim e agora vai presidir ao Instituto Nacional de Emergência Médica trabalhando com médicos e técnicos dedicados a esta área e que já fizeram saber estarem “expectantes”. Até porque, têm sido críticos da gestão de Luís de Meira e na segunda-feira chegaram mesmo a pedir a sua demissão. Uma das pessoas próximas de Vítor Almeida acredita que com ele “as relações laborais possam ficar pacificadas”, porque experiência em coordenação de equipas em medicina de emergência não lhe falta, desde as missões em Timor ou em Sarajevo, ou mais recentemente na Ucrânia. 

Vítor Almeida era o coordenador do Gabinete de Apoio Humanitário da Ordem dos Médicos e o bastonário da altura, Miguel Guimarães, nomeou-o coordenador da equipa que acabou por rumar ao Leste da Europa para apoio Humanitário aos refugiados. No ano passado, voltou a destacar-se na comunicação social ao explicar a medicina de catástrofe a propósito do terramoto em Marrocos e das cheias na Líbia. Mas, no ano passado também, e quando terminava o mandato de Luís Meira, candidatou-se à presidência do INEM, o seu nome teve o aval da Cresap, mas o Governo acabou por renomear no cargo o presidente que já estava em funções e que agora sai por desentendimentos com a nova tutela.

Recorde-se que Luís Meira pediu a demissão na segunda-feira depois de a sua gestão ter sido criticada pela ministra Ana Paula Martins, sobretudo pela forma como geriu o processo de aquisição de helicópteros para a emergência aérea - não lançou um concurso público internacional optando pelo ajuste direto ao operador atual. 

Um ano depois Vítor Almeida é escolhido para o cargo que já tinha dado provas. A nomeação é por 60 dias, mas já foi aberto concurso na Cresap.

Nomeação por substituição de 60 dias e concurso aberto na Cresap

Ao final da tarde desta quarta-feira, o Ministério da Saúde acabou por oficializar a nomeação de Vítor Almeida. Na nota enviada às redações, o ministério refere que o médico anestesista é nomeado em regime de substituição por 60 dias, tendo sido já aberto concurso junto da Cresap.

No entanto, e sem prejuízo deste concurso, o ministério lembra que “Vítor Almeida já foi avaliado positivamente e pré-selecionado pela CReSAP, para o mesmo cargo, em concursos anteriores, por vacatura do cargo”.

Sobre o perfil do médico, é ainda referido que é natural de Lisboa, onde nasceu em 1966, tendo depois vivido muitos anos na Alemanha, onde se licenciou em Medicina, na Faculdade de Hannover. De regresso a Portugal, fez o internato no Hospital Universitário de Coimbra, obtendo o registo de exercício na Ordem dos Médicos portuguesa e na Ordem dos Médicos alemã. Completou o internato complementar de Medicina Geral e Familiar, no Centro de Saúde Norton de Matos, em Coimbra, iniciando a sua atividade clínica no pré-hospitalar nos Bombeiros Voluntários de Arganil, passando pelo INEM, CODU de Coimbra. Especialista em anestesiologia, Vítor Almeida fez o seu o internato complementar no Hospital Universitário de Coimbra e no Hospital Hadassah, em Jerusalém.

O seu percurso profissional como anestesiologista e emergência médica passou pelo Hospital Universitário de Coimbra, Hospital São Teotónio de Viseu e Hospital de Faro. Ingressou como Médico de Helicóptero do INEM, passando depois a coordenador do serviço noturno.

Bastonário dos Médicos satisfeito com nomeação de Vítor Almeida

O bastonário Carlos Cortes disse ao DN que só tem "aspestos positivos" a dizer sobre Vítor Almeida. "É um médico do SNS, o que é muito importante, pois assim conhece bem as dificuldades do sistema, e é um médico do INEM, muito conhecedor das suas questões, desde as mais organizativas às matérias mais técnicas. Portanto, para mim associa dois aspetos muito importantes para estar à frente desse lugar", adiantou.

Mas há mais. Carlos Cortes recorda que na área da medicina de emergência e da ajuda humanitária, Vítor Almeida estava a desenvolver vários projetos com a Ordem neste aspeto de forma a que fosse possível "aumentar a capacidade de ajuda a países estrangeiros que dela necessitassem", sublinhando que o médico anestesista tinha regressado há pouco tempo da Ucrânia, "onde esteve durante um mês a dar formação médica".

"Por um lado fico muito satisfeito, por outro tenho imensa pena porque, com este cargo, irá ter menos tempo para trabalhar estas matérias com a Ordem", finalizou.

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