De todas diferentes a (quase) iguais. Esplanadas da Baixa em preto, branco ou cinza
As esplanadas da Baixa lisboeta vão deixar de ser à escolha do... comerciante - das formas às cores, a partir de agora os espaços exteriores de restauração, no centro histórico da cidade, vão obedecer a regras apertadas. Mobiliário urbano em branco, preto ou cinza ou mesas com o mesmo design são duas das imposições que se avizinham.
A Junta de Freguesia de Santa Maria Maior revelou ontem o projeto vencedor para a definição de um layout para as esplanadas da Baixa pombalina.
A proposta vencedora, da autoria do designer Pedro Sottomayor, em conjunto com a CANRAN Arquitetura e a White Studio, diz apostar na coerência da imagem, sem fechar a porta à diversidade dos espaços exteriores. Mas com regras claras: o projeto define os equipamentos permitidos nas esplanadas e não autoriza mais que o essencial - mesas, cadeiras, toldos, corta-ventos, e o suporte de menu. Eventualmente aquecedores, de fachada ou de pavimento. Nada mais.
As cores são as da calçada portuguesa - o preto e o branco, a que se acrescenta o cinza, para "ampliar as possibilidades de uso e a versatilidade da comunicação gráfica". Os equipamentos de caráter fixo (toldos, corta-ventos e menus) passam a cingir-se a estas três cores. Às quais se somam outras quatro (azuis e verdes também bastante sóbrios) que poderão ser utilizadas em equipamentos mais móveis, como mesas, cadeiras ou toalhas. O objetivo, referem os autores da proposta, passa por criar uma "identidade da área, na sua totalidade", mas também deixar espaço à "identidade de cada um dos estabelecimentos, na sua individualidade".
As mesas serão de "modelo único", mas com possibilidade de cores diferentes (dentro das sete permitidas). Já no que se refere às cadeiras serão permitidos cinco modelos diferentes, três "considerados clássicos", mais dois diferenciados, podendo também ser com cores diferentes.
Os menus de pavimento, de parede, e até mesmo os de mesa, passam a ter regras uniformes, que abarcam também o tipo de letra a utilizar. As toalhas de mesa podem ter cores neutras ou padrões evocativos da calçada.
Um dos aspetos estruturantes do projeto é a aposta nas esplanadas junto às fachadas dos edifícios, deixando libertos os eixos centrais das vias (pedonais) para a circulação dos peões. É o caso da Rua Augusta, para onde o projeto de Pedro Sottomayor prevê a deslocação das esplanadas - atualmente a ocupar o centro da via - para as laterais. Mas esta é uma proposta que não vai fazer vencimento. "O plano da Baixa pombalina prevê esplanadas no eixo central", diz ao DN Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, sublinhando que esta é uma proposta "que vai ter de ser adequada" à realidade no terreno.
O autarca sublinha que os autores do projeto vencedor vão agora assinar um contrato com a Junta, para assessorar a implementação do projeto no terreno. O que poderá levar a algumas alterações, até porque o objetivo é avançar com estas mudanças com o maior acordo possível por parte dos comerciantes. "Vamos trabalhar tendo em conta a realidade específica do território, é com essa realidade que iremos trabalhar para encontrar as soluções finais", sublinha Miguel Coelho.
O autarca também não estabelece prazos para a mudança nas esplanadas do centro histórico de Lisboa - que obrigarão os proprietários dos estabelecimentos a um investimento no novo mobiliário. A ocupação do espaço público obriga a uma renovação anual da licença, pelo que este poderá ser um mecanismo a utilizar. Mas o autarca prefere falar em "prazos razoáveis" para que os abrangidos avancem de livre vontade com as alterações.
"O que todos desejamos é que a Baixa melhore. Até agora tem havido grande entusiasmo" em torno da necessidade de melhorar a utilização do espaço público, garante o autarca.
Fica assim concluído o concurso (por convite) lançado pela Junta de Freguesia em parceria com o MUDE. A responsável do Museu do Design e da Moda, Bárbara Coutinho, presidiu ao júri que avaliou o projeto.