Das Forças Armadas às empresas: conferência de Mulheres Líderes celebra o Dia da Mundial da Mulher
O Dia Internacional da Mulher é um marco de “reflexão e reconhecimento do papel fundamental das mulheres em todas as esferas da sociedade, incluindo na Defesa Nacional”. Quem o diz é a secretária de Estado da Defesa Nacional, Ana Isabel Xavier, na conferência Mulheres Líderes: Contributos para a Paz e o Desenvolvimento, que teve lugar ontem no Museu do Oriente. Este evento foi promovido pela Business as Nature e do qual o DN foi media partner.
“Portugal subscreve o princípio da igualdade de género promovido pela NATO, assente na igualdade de direitos, responsabilidades e oportunidades para mulheres e homens, bem como no acesso justo e equitativo a funções e cargos”, acrescentou.
A secretária de Estado da Defesa Nacional referiu ainda que a presença das mulheres nas Forças Armadas não é um fenómeno recente. “Atualmente, em Portugal, as mulheres (militares e civis) representam 15,3% do efetivo das Forças Armadas, um número que se situa acima da média da NATO, que em 2022 rondava os 12,73%. Este crescimento não aconteceu por acaso. Aliás, aconteceu por uma razão que resultou de décadas de trabalho árduo, conquistas sucessivas e da superação de desafios até chegarmos à visão de igualdade que hoje nos norteia e inspira”, explica.
Um dos temas do painel foi o papel das mulheres na Defesa e Segurança, focando-se nos seus desafios. Contou com a moderação do político Ângelo Correia e de Vanessa Ana Gabriel de Almeida da Silva Reis Patrício, chefe da Área Operacional do Comando Distrital de Viseu da PSP; Elisabete Silva, tenente-coronel, 1.ª mulher porta-voz do Exército Português e 1.ª mulher a comandar o Grupo de Carros de Combate da Brigada Mecanizada; Sara Quinta Albuquerque, tenente-coronel da GNR; Helena Reys Santos, capitão-de-fragata da Marinha, atualmente a prestar serviço no EMGFA-DIPLAEM e Cristina Alves de Almeida, presidente da Women 4 Cyber.
Helena Reys Santos referiu como nas Forças Armadas as mulheres precisam de ter uma forma mais masculina para conseguirem ser aceites, revelando ainda a história de como a sua filha, de 17 anos, pretende ir para a Escola Naval. “Isso provocou-me um choque muito grande. Não estava à espera. Primeiro, porque pensava no que tinha passado e como foi duro. Depois senti orgulho, porque ela viu em mim uma inspiração.”
A capitão-de-fragata da Marinha mencionou que tem existido uma mudança de paradigma no seu setor, mas que é preciso continuar a batalhar. “Há de chegar algum dia que os nossos feitos deixam de ser extraordinários, como ser a primeira mulher em qualquer coisa, e, portanto, serão apenas os nossos feitos”, acrescenta.
Já Elisabete Silva falou da sua experiência como mãe e Tenente-Coronel. “A vida militar e o comando são funções de disponibilidade a 100%. E o que eu costumo dizer é que o facto de eu ter sido mãe ainda me ajudou a ser melhor comandante”, disse acrescentando que anteriormente a sua liderança era mais insensível. “A sensibilidade também é muito associada à mulher e eu era mesmo muito insensível em determinadas questões. Comecei a associar o meu papel, como mãe, e o meu papel como comandante.”
Vanessa Ana Gabriel de Almeida da Silva Reis Patrício, chefe da Área Operacional do Comando Distrital de Viseu da PSP, explicou como decidiu ser mãe mais “tarde” para se focar na sua carreira. “Eu tinha de mostrar a mim e aos outros, que tinha as mesmas capacidades.”
Desenvolvimento sustentável e liderança feminina
Outro dos painéis focou-se no Desenvolvimento sustentável e liderança feminina, centrando-se em mulheres em posições de liderança nas empresas. Contou com Isabel Neves, presidente da United Nations Association Portugal, Margarida Couto, CEO da Fundação Vasco Vieira de Almeida, Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive, ex-presidente da Cotec, Catarina Paralta, CEO da SGS Portugal, Purificação Tavares, administradora da Unilabs Genetics Portugal e presidente da Rede Mulher Líder, e Milana Dovzhenko Rauva, founder e ex-CEO do Bairro.
Margarida Couto começou por contar como um dos seus projetos Women on Boards nasceu, depois ter sido implementada a lei das cotas em Portugal. “Senti que tinha oportunidade de fazer alguma coisa. E criei o projeto para preparar mulheres. Um programa executivo que visa preparar mulheres para trabalhar on board e que acaba por ser uma rede incrível de apoio”.
Catarina Paralta relembrou como subiu na hierarquia da sua empresa, começando como estagiária e chegando a CEO. “Há organizações que não permitem esse tipo de evolução. Jamais um estagiário chegaria à administração da organização. Há empresas onde isso é impensável. Há muitas pessoas que comentam: ‘Mas a sério, começaste como estagiária e chegaste à administração?’ Sim, é possível”, disse, acrescentando que o facto de ter começado como estagiária fez com que conhecesse todas as áreas e pessoas da empresas. “Permitiu-me chegar onde cheguei, dar-me bem com toda a gente e toda a gente reconhecer o trabalho que eu faço ali.”
Já Milana Dovzhenko Rauva, founder e ex-CEO do Bairro, referiu que na atual geração ainda existem barreiras culturais e estruturais que precisam de ser ultrapassadas. “As meninas e os meninos têm de perceber que existem oportunidades e que estas oportunidades poderão ser providenciadas no futuro. Sinto que esta nova geração ainda não se está a perceber da transição e do impacto que as novas tecnologias vão causar para o futuro. E portanto, eu sinto que precisamos de criar oportunidades justas para todos e criar esta cultura de meritocracia.”