A criminalidade grave e violenta caiu 2,1% no concelho de Lisboa, revelou o comandante do Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS) da PSP, superintendente Luís Elias, mais do que a descida de 1,2% de crimes desta natureza registados pela PSP em todo o distrito. O oficial assumiu que os dados provisórios que a PSP facultou ao DN em janeiro, que apontavam para uma queda de 10,4% dos crimes violentos no município (que seria a segunda maior descida da última década), “foram revistos”. .Escute aqui o podcast Soberania e outros do DN na plataforma Spotify .Assista aqui em vídeo ao podcast Soberania e a outros do DN na plataforma Youtube .Podcast Soberania: crime violento na cidade de Lisboa desceu mais que em todo o distrito. “Estes são os dados finais enviados ao Relatório Anual de Segurança Interna (RASI): a criminalidade geral participada à PSP no COMETLIS desceu 8,8% e em Lisboa diminuiu 7,8; quanto à criminalidade violenta e grave, diminui 1,2% no distrito e 2,1% no concelho de Lisboa”, indicou Luís Elias.A mesma tendência está consignada no RASI, já com os dados de todas as forças e serviços de segurança: uma descida de 7,6% (81 645) da criminalidade geral no distrito de Lisboa e uma redução de 1,8% (5114) dos crimes violentos e graves em 2024. No concelho de Lisboa houve uma diminuição de 8,2% da criminalidade geral e o RASI não publica o registo de criminalidade violenta por concelho..“Estes são os dados finais enviados ao Relatório Anual de Segurança Interna (RASI): a criminalidade geral participada à PSP no COMETLIS desceu 8,8% e em Lisboa diminuiu 7,8; quanto à criminalidade violenta e grave, diminui 1,2% no distrito e 2,1% no concelho de Lisboa”Superintendente da PSP Luís Elias, comandante COMETLIS. O superintendente deu a conhecer estas estatísticas da PSP, durante o podcast Soberania - uma pareceria do DN com o Observatório de Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) e com a SEDES, onde esteve também convidado Nelson Lourenço, presidente do Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança (GRES) - quando questionado sobre se a evolução prevista em janeiro se tinha confirmado.O comandante do COMETLIS revelou ainda que, apesar de a criminalidade ter descido na capital, houve três freguesias que não acompanharam essa evolução: em Arroios, Carnide e Santa Maria Maior houve um recrudescimento de crimes, com destaque para esta última, a qual integra a zona do Martim Moniz / Mouraria, onde uma operação policial no final do ano passado, que visou dezenas de pessoas, a maior parte imigrantes, desencadeou forte polémica. Luís Elias afiançou que foram os roubos o tipo de crime que mais contribuiu para o aumento da criminalidade nesta zona, bem como crimes ligados ao tráfico de droga..“Nunca me ouvirão dizer, nem a mim nem a nenhum dos responsáveis das forças e serviços de segurança, que há relação entre a criminalidade e as migrações”.Superintendente da PSP Luís Elias, comandante COMETLIS. Não quis adiantar números, nem associou estes crescimentos à comunidade migrante. “Nunca me ouvirão dizer, nem a mim nem a nenhum dos responsáveis das forças e serviços de segurança, que há relação entre a criminalidade e as migrações”, frisou. Admitiu, ainda assim, que “que existem alguns fenómenos intrínsecos a algumas destas comunidades, alguma atividade criminal, nomeadamente, relacionada com o tráfico de estupefacientes, que tem vindo a crescer em algumas zonas da cidade e abrange diversos tipos de pessoas, estrangeiros e não estrangeiros”. Acrescentou que “há, nesta matéria, uma dimensão que preocupa a PSP: fruto da nossa atuação e interação com essas comunidades, temos detetado alguns dos membros das comunidades migrantes também já vítimas de consumo de estupefacientes, nomeadamente heroína”.PSP: prioridades e estratégiaLuís Elias apontou ainda as “três grandes prioridades do COMETLIS no âmbito da prevenção e da investigação criminal: o tráfico de estupefacientes; a criminalidade violenta e grave, em particular os roubos na via pública nas suas diversas dimensões; e a violência doméstica”..“Este RASI demonstrou que a cidade de Lisboa é um bom exemplo de um trabalho positivo que está a ser realizado, tanto mais que os resultados demonstram”.Francisco Rodrigues, presidente do OSCOT. Para Francisco Rodrigues “este RASI demonstrou que a cidade de Lisboa é um bom exemplo de um trabalho positivo que está a ser realizado, tanto mais que os resultados demonstram” . . Questionado pelo presidente do OSCOT sobre qual tinha sido a estratégia da PSP para os resultados alcançados, o comandante salientou três: “temos apostado muito numa investigação criminal de proximidade, fazendo uma análise sistemática e científica da evolução da criminalidade vamos acompanhando tendências e sempre que registamos séries de crimes em determinadas zonas geográficas e determinado tipo de tipologias, investimos de imediato numa investigação para tentar de alguma forma detetar os possíveis suspeitos; depois também temos a dimensão de um patrulhamento que tentamos que seja o mais eficaz possível detetarmos algumas situações em flagrante delito - temos efetuado imensas detenções em flagrante delito na sequência de crimes que são reportados e, de forma imediata, procurar que os diferentes meios que estão no terreno detetem os suspeitos; por fim há policiamento de proximidade que vamos procurando fazer. Há pouco tempo voltámos a acionar as equipas de proximidade em zonas chave da cidade, sobretudo em períodos diurnos e também nas zonas de diversão noturna, temos pessoal de patrulha visível e a reportar aquilo que se passa”.Impacto de menos ação policial na redução de participaçõesJoão Annes, do Observatório de Segurança e Defesa da SEDES quis saber de que forma é que o decréscimo de 24,4% da criminalidade associada à proatividade policial poderia ter influenciado a diminuição da criminalidade em Lisboa.."Em 2023 tivemos 58 mil ocorrências que geraram inquéritos relacionados com 12 tipos de crimes que se medem pela proatividade policial e em 2024 tivemos 49 mil. Este número já parece enviesar um bocadinho algumas conclusões finais que se possa tomar”.João Annes, Observatório de Segurança e Defesa da SEDES. “Essa redução é preocupante porque leva também muitas pessoas a questionarem-se quando olham para o RASI, se podemos aceitar ou se podemos dar como bom que reduzimos 60% o número de crimes de auxílio à imigração ilegal. (…) Em 2023 tivemos 58 mil ocorrências que geraram inquéritos relacionados com 12 tipos de crimes que se medem pela proatividade policial e em 2024 tivemos 49 mil. Este número já parece enviesar um bocadinho algumas conclusões finais que se possa tomar”, sinalizou.. O superintendente Luís Elias retorquiu: “Se fosse tão pouca a proatividade das polícias em 2024, a criminalidade violenta e grave tinha subido exponencialmente. Por exemplo, em Lisboa, na área do COMETLIS, a comunidade violenta e grave desceu. Significaria que os polícias estavam com os braços em baixo e que não tinham evitado crimes. Depois, em termos estatísticos, é preciso perceber o peso que têm os crimes de proatividade policial no todo. Na área do COMETLIS representam apenas 8,9% do total da criminalidade, assim como a criminalidade violenta e grave representa 7,5% do total do crime. Se os crimes proatividade policial tivessem mantido em Lisboa os mesmos níveis de 2023, mesmo assim tínhamos reduzido a criminalidade geral, porque essa reduziu-se em mais de 6000 crimes e os crimes de proatividade em 4500. Reduziríamos sempre”.Nelson Lourenço, por seu turno, relativiza comparações ano a ano e trouxe para o programa duas análises mais longas em relação à criminalidade grupal juvenil (cometidas por suspeitos com idades entre os 12 e os 16 anos), que voltou a recrudescer em 2024 para 7 279 e 2 062 participações, mais 7,7% e mais 12,5% respetivamente. Uma tendência que começou a afirmar-se em 2021 e não voltou a inverter-se..Na delinquência juvenil, se comparar 2024 com referência 2019, há um aumento de 31%. Na criminalidade grupal, se recuar e fizer uma análise da tendência entre 2019 e 2024, tenho 39,6%”Nelson Lourenço, presidente do Grupo de Reflexão sobre Estratégia de Segurança. “Por exemplo, na delinquência juvenil, se comparar 2024 com referência 2019, há um aumento de 31%. Na criminalidade grupal, se recuar e fizer uma análise da tendência entre 2019 e 2024, eu tenho 39,6%”, assinala. O catedrático e autor de diversas obras e estudos sobre segurança interna, voltou de novo ao tema migrações, mostrando-se “surpreendido por o superintendente Luís Elias ter assumido que há especificidades e que, obviamente não há correlação entre uma coisa e a outra”. . No entanto, crê “vamos ter de estar atentos ao que acontece nos outros países, não tanto em relação aos imigrantes, mas à segunda e terceira geração de imigrantes” uma questão para a qual “há um papel acima das polícias, que é a capacidade de integração dessas pessoas”.Nelson Lourenço assinala ainda que o RASI “ao contrário do Código Penal, não inclui o crime de violência doméstica no quadro da criminalidade violenta e grave por uma questão administrativa. Tem uma importância estatística grande no quadro do universo da criminalidade participada, que são milhares de casos. Tem um impacto negativo e brutal sobre milhares de famílias. É uma desvalorização de um crime que, como estão recordados, se lutou bastante para que passasse a ser considerado um crime público”..Francisco Rodrigues, nas última notas, elencou quais as prioridades que o OSCOT identificou, tendo em conta os resultados do RASI. “A definição de políticas de segurança de proximidade e a sua integração na Lei de Segurança Interna enquanto doutrina; dar consistência doutrinária e operacional aos contratos locais de segurança, que ficaram na gaveta ao longo destes anos e que há muita substância que foi trabalhada, com reflexos muito positivos e não percebemos porque é que efetivamente eles não continuam a ser objeto nos dias de hoje; por último, uma estratégia nacional de prevenção da delinquência juvenil”.. Francisco Rodrigues, nas última notas, elencou quais as prioridades que o OSCOT identificou, tendo em conta os resultados do RASI. “A definição de políticas de segurança de proximidade e a sua integração na Lei de Segurança Interna enquanto doutrina; dar consistência doutrinária e operacional aos contratos locais de segurança, que ficaram na gaveta ao longo destes anos e que há muita substância que foi trabalhada, com reflexos muito positivos e não percebemos porque é que efetivamente eles não continuam a ser objeto nos dias de hoje; por último, uma estratégia nacional de prevenção da delinquência juvenil”.Perceções e factosAs perceções de insegurança vieram também à conversa, com Nelson Lourenço a recordar um inquérito feito pela Habitat, a agência das Nações Unidas para as cidades, sobre as perceções de violência, segundo o qual “os portugueses tinham uma ideia de insegurança no mesmo patamar que tinham os habitantes de Jacarta, que é uma das cidades mais violentas do mundo”. . O investigador académico sublinha que “criou-se nos últimos tempos um clima favorável à ideia da insegurança, de medo”. .“Ai de qualquer agente político que não dê voz ao sentimento da população. Aí deixa de estar em diálogo e perde poder de representatividade.João Annes, Observatório de Segurança e Defesa da SEDES. Por seu lado, com o autarca Carlos Moedas a ser previamente referido, João Annes justificou a preocupação com as perceções: “ai de qualquer agente político que não dê voz ao sentimento da população. Aí deixa de estar em diálogo e perde poder de representatividade. Tanto este presidente de Câmara como qualquer outro, tem constantemente associações de moradores, entidades do sector social, a queixarem-se de fenómenos de criminalidade, a, irem ao gabinete dizer que têm medo. A verdade é que essa perceção existe para a pessoa. A verdade é que no ano passado, na zona Metropolitana de Lisboa, tivemos situações de desordem pública muito graves e que chocaram a população”.. “Acho completamente legítimo e normal que um presidente de Câmara seja o porta-voz dos seus munícipes e que de alguma forma tente invocar as forças públicas para determinado tipo de problemas. Nós, como polícias, apesar dos bons resultados obtidos, também não estamos sentados na nossa cadeira tranquilos".Superintendente da PSP Luís Elias, comandante COMETLIS. Conclui Luís Elias: “Acho completamente legítimo e normal que um presidente de Câmara seja o porta-voz dos seus munícipes e que de alguma forma tente invocar as forças públicas para determinado tipo de problemas. Nós, como polícias, apesar dos bons resultados obtidos, também não estamos sentados na nossa cadeira tranquilos. Porque somos, talvez, das profissões mais autocríticas relativamente ao nosso trabalho e procuramos reinventar-nos para porque há sempre novos fenómenos”.